Reino Unido vota para deixar a União Europeia
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Eleitores favoráveis à saída do Reino Unido da União Europeia celebram resultado em Londres |
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Grupo contrário à saída britânica do bloco europeu reage incrédulo ao resultado do plebiscito |
Os britânicos tomaram na quinta-feira (23.jun.2016) a decisão histórica
de se separarem da União Europeia, o bloco político e econômico que
hoje congrega 28 países e ao qual aderiram em 1973. O processo ainda
precisa passar pelo Parlamento, mas um veto pelos legisladores é
considerado suicídio político.
A negociação da ruptura — o Brexit, fusão das palavras "saída" e "britânica" em inglês — deve levar dois anos.
Com os votos dos 382 distritos do Reino Unido apurados, a opção por
deixar a União Europeia (UE) prevalecia por 51,9% a 48,1%, abalando
mercados financeiros e provocando uma onda de choque e incredulidade
global. As principais redes de TV britânicas — BBC, Sky News e ITV —
projetaram a vitória da saída logo após as 4h30min de Londres (0h30min
do Brasil).
No início da madrugada, manhã na Ásia, a libra chegava ao menor valor em
relação ao dólar em 31 anos. A cotação estava em US$ 1,32, queda de 11%
em relação ao fechamento de quinta-feira (23.jun.2016). Na Ásia, as
bolsas despencavam em Tóquio (–7,22%), Hong Kong (-4,67%) e Seul
(-4,09%).
As consequências econômicas de uma saída devem se estender para o
comércio — com prejuízo maior para Londres do que para Bruxelas, já que
os britânicos dirigem metade de suas exportações à UE.
O resultado oficial será formalmente anunciado por volta das 7h de
Londres (3h em Brasília). A consulta popular registrou índice histórico
de comparecimento — 72,2% do eleitorado — e recorde de 46,5 milhões de
eleitores registrados.
Até 2h15min (hora de Brasília) o premiê conservador, David Cameron,
principal fiador do voto pró-UE, não havia se manifestado. Em caso de
vitória da saída, sua liderança no Partido Conservador e o cargo de
premiê poderão ser contestados.
Seu maior rival na disputa, Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e
líder da campanha pró-saída, tampouco havia falado. Já o líder do
partido ultranacionalista Ukip, Nigel Farage, que defende a saída,
ensaiava celebrar no final da noite.
"Agora ouso sonhar que o amanhecer de um Reino Unido independente está
chegando", tuitou duas horas após dizer que "a permanência ficaria na
frente".
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Cédula do plebiscito, com as opções "permanecer um membro da União Europeia" e "deixar a União Europeia" |
EFEITO DOMINÓ — A campanha do plebiscito foi influenciada nos últimos
dias pelo assassinato da deputada trabalhista Jo Cox, pró-Europa, por um
ultranacionalista, dia 16.jun.2016. Até então, a saída levava ligeira
vantagem na margem de erro.
Pesquisa do instituto YouGov divulgada logo após o fim da votação
apontava 52% para a permanência e 48% para a saída da UE — sinal de quão
acirrada foi a disputa. Esta não seria, porém, a primeira vez que os
institutos britânicos errariam resultados. O mesmo ocorreu nas eleições
gerais de 2015.
Foram 15 horas de votação sob chuva, com alagamentos e interrupções no transporte.
O placar expõe um país dividido e, segundo analistas, despertará um sentimento anti-UE continente afora.
Há risco de efeito dominó em outros países do bloco, que podem imitar a
consulta popular para obter vantagem em negociações, e de impulso a
movimentos separatistas como o escocês e o catalão.
O professor de política Tim Bale, da Universidade Queen Mary, de
Londres, pondera que o "efeito dominó" tem mais força se o Reino Unido
deixar efetivamente o bloco.
Ainda que não signifique o início de um potencial desmonte, há muitos
europeus interessados em, ao menos, debater benefícios e potenciais
problemas caso seus países decidam deixar a UE.
Pesquisa feita pelo instituto Ipsos Mori com 6.000 pessoas em nove
países europeus em março e abril deste ano indicou que 45% dos
entrevistados apoiam a ideia de se fazer uma consulta popular em seu
próprio país, e um terço disse que votaria para sair do bloco.
A maioria dos franceses e italianos ouvidos concorda com um plebiscito. O
instituto ouviu ainda cidadãos de Suécia, Espanha, Bélgica, Hungria,
Polônia, Alemanha e do próprio Reino Unido.
Além do ceticismo quanto ao bloco, o plebiscito no Reino Unido despertou
outro sentimento entre os europeus: o de não ser bem-vindo entre parte
dos britânicos.
Cerca de 3 milhões de cidadãos de países-membros do bloco vivem no Reino
Unido, e aproximadamente 2 milhões de britânicos estão nos outros 27
países da UE.
O livre trânsito de cidadãos da UE, uma das prerrogativas do bloco,
transformou-se em um dos pontos de maior apelo durante a campanha do
plebiscito. Favoráveis ao Brexit defendem que os imigrantes
sobrecarregam o sistema de saúde, baixam os salários e "roubam"
empregos.
Por isso, analistas avaliam que haverá muitas feridas a curar no Reino
Unido após a votação. A disputa rachou o Partido Conservador e expôs
fragilidades do Trabalhista. O cisma persistirá.
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