sexta-feira, 24 de junho de 2016

Reino Unido vota para deixar a União Europeia



Eleitores favoráveis à saída do Reino Unido da União Europeia celebram resultado em Londres
Grupo contrário à saída britânica do bloco europeu reage incrédulo ao resultado do plebiscito


Os britânicos tomaram na quinta-feira (23.jun.2016) a decisão histórica de se separarem da União Europeia, o bloco político e econômico que hoje congrega 28 países e ao qual aderiram em 1973. O processo ainda precisa passar pelo Parlamento, mas um veto pelos legisladores é considerado suicídio político.
A negociação da ruptura — o Brexit, fusão das palavras "saída" e "britânica" em inglês — deve levar dois anos.
Com os votos dos 382 distritos do Reino Unido apurados, a opção por deixar a União Europeia (UE) prevalecia por 51,9% a 48,1%, abalando mercados financeiros e provocando uma onda de choque e incredulidade global. As principais redes de TV britânicas — BBC, Sky News e ITV — projetaram a vitória da saída logo após as 4h30min de Londres (0h30min do Brasil).
No início da madrugada, manhã na Ásia, a libra chegava ao menor valor em relação ao dólar em 31 anos. A cotação estava em US$ 1,32, queda de 11% em relação ao fechamento de quinta-feira (23.jun.2016). Na Ásia, as bolsas despencavam em Tóquio (–7,22%), Hong Kong (-4,67%) e Seul (-4,09%).
As consequências econômicas de uma saída devem se estender para o comércio — com prejuízo maior para Londres do que para Bruxelas, já que os britânicos dirigem metade de suas exportações à UE.
O resultado oficial será formalmente anunciado por volta das 7h de Londres (3h em Brasília). A consulta popular registrou índice histórico de comparecimento — 72,2% do eleitorado — e recorde de 46,5 milhões de eleitores registrados.
Até 2h15min (hora de Brasília) o premiê conservador, David Cameron, principal fiador do voto pró-UE, não havia se manifestado. Em caso de vitória da saída, sua liderança no Partido Conservador e o cargo de premiê poderão ser contestados.
Seu maior rival na disputa, Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e líder da campanha pró-saída, tampouco havia falado. Já o líder do partido ultranacionalista Ukip, Nigel Farage, que defende a saída, ensaiava celebrar no final da noite.
"Agora ouso sonhar que o amanhecer de um Reino Unido independente está chegando", tuitou duas horas após dizer que "a permanência ficaria na frente".



Cédula do plebiscito, com as opções
"permanecer um membro da União Europeia" e "deixar a União Europeia"


EFEITO DOMINÓ — A campanha do plebiscito foi influenciada nos últimos dias pelo assassinato da deputada trabalhista Jo Cox, pró-Europa, por um ultranacionalista, dia 16.jun.2016. Até então, a saída levava ligeira vantagem na margem de erro.
Pesquisa do instituto YouGov divulgada logo após o fim da votação apontava 52% para a permanência e 48% para a saída da UE — sinal de quão acirrada foi a disputa. Esta não seria, porém, a primeira vez que os institutos britânicos errariam resultados. O mesmo ocorreu nas eleições gerais de 2015.
Foram 15 horas de votação sob chuva, com alagamentos e interrupções no transporte.
O placar expõe um país dividido e, segundo analistas, despertará um sentimento anti-UE continente afora.
Há risco de efeito dominó em outros países do bloco, que podem imitar a consulta popular para obter vantagem em negociações, e de impulso a movimentos separatistas como o escocês e o catalão.
O professor de política Tim Bale, da Universidade Queen Mary, de Londres, pondera que o "efeito dominó" tem mais força se o Reino Unido deixar efetivamente o bloco.
Ainda que não signifique o início de um potencial desmonte, há muitos europeus interessados em, ao menos, debater benefícios e potenciais problemas caso seus países decidam deixar a UE.
Pesquisa feita pelo instituto Ipsos Mori com 6.000 pessoas em nove países europeus em março e abril deste ano indicou que 45% dos entrevistados apoiam a ideia de se fazer uma consulta popular em seu próprio país, e um terço disse que votaria para sair do bloco.
A maioria dos franceses e italianos ouvidos concorda com um plebiscito. O instituto ouviu ainda cidadãos de Suécia, Espanha, Bélgica, Hungria, Polônia, Alemanha e do próprio Reino Unido.
Além do ceticismo quanto ao bloco, o plebiscito no Reino Unido despertou outro sentimento entre os europeus: o de não ser bem-vindo entre parte dos britânicos.
Cerca de 3 milhões de cidadãos de países-membros do bloco vivem no Reino Unido, e aproximadamente 2 milhões de britânicos estão nos outros 27 países da UE.
O livre trânsito de cidadãos da UE, uma das prerrogativas do bloco, transformou-se em um dos pontos de maior apelo durante a campanha do plebiscito. Favoráveis ao Brexit defendem que os imigrantes sobrecarregam o sistema de saúde, baixam os salários e "roubam" empregos.
Por isso, analistas avaliam que haverá muitas feridas a curar no Reino Unido após a votação. A disputa rachou o Partido Conservador e expôs fragilidades do Trabalhista. O cisma persistirá.




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