Banco Central investiga conta paralela de R$ 4 bilhões mantida pelo Tesouro Nacional
A operação realizada pelo banco privado nacional que resultou na
colocação de R$ 4 bilhões em créditos da União em uma conta paralela,
descoberta pelo Banco Central em maio, está sendo investigada pela
autoridade monetária. O Banco Central instaurou um procedimento de
análise, coordenado pela área de supervisão, para averiguar as razões da
mudança contábil detectada poucos dias antes de o caso ser revelado
pelo Estado, há duas semanas. O registro desse ativo de R$ 4 bilhões a
favor do Tesouro Nacional, que estava fora do radar do sistema
automático do Banco Central, reduziu de R$ 15 bilhões para R$ 11 bilhões
o rombo nas contas do governo federal em maio. A decisão da autoridade
monetária de fiscalizar a alteração contábil revela que, embora tenha
havido um esforço para tratar o episódio como uma operação usual, o
expediente está mesmo sob investigação. Os supervisores apuram se houve
violação com dolo, isto é, com sentido de desvio irregular, ou se houve
apenas um erro de apuração. Caso seja passível de punição, o Banco
Central pode aplicar uma multa ao banco privado, que pode ser contestada
administrativamente. O Banco Central também pode, no limite, decidir
pela inabilitação dos responsáveis por uma suposta violação. Segundo
advogados que acompanham casos do sistema financeiro e economistas com
passagens pelo Banco Central, a área de supervisão é uma das “mais
sigilosas” de toda a estrutura de regulação e fiscalização da autoridade
monetária. De acordo com essas fontes, é incomum o fato de o Banco
Central ter dado publicidade à análise, em nota oficial publicada em seu
site, mas a estratégia pode ter sido um sinal de que a conta paralela
que escapou ao seu sistema de verificação fiscal será investigada. O
Banco Central percebeu a discrepância de R$ 4 bilhões no resultado
fiscal de maio ao cotejar as informações apuradas pelo Tesouro Nacional,
na véspera do anúncio do resultado das contas públicas. O Banco Central
apura os dados fiscais pelo critério “abaixo da linha”, isto é, pelo
conceito de patrimônio, cruzando todos os ativos e os passivos da União.
No critério do Tesouro, chamado “acima da linha” no jargão de
contabilidade pública, a apuração é feita pelo fluxo de caixa, ou seja,
levanta o saldo entre todos os recursos que entram e saem do caixa da
União. A diferença entre os critérios costuma ser mínima. Segundo dados
de um ex-integrante do governo, a divergência entre os dados do Tesouro
Nacional e do Banco Central entre 1997 e 2013 foi de apenas R$ 37
milhões, por ano, em média. Assim, a discrepância de R$ 4 bilhões,
apenas em um mês (maio de 2014), é relevante.
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