Investigação policial mostra o plano de ataque dos black blocs
Um investigação da polícia do Rio de Janeiro aponta como um grupo
pretendia fazer um ataque com molotovs no dia 13 de julho, na final da
Copa do Mundo, próximo ao Maracanã. Gravações inéditas divulgadas pelo
Fantástico no domingo mostram duas testemunhas falando com
exclusividade como o grupo se organizava e as funções que casa um
executava. O telejornal também teve acesso a gravações feitas pela
polícia com autorização da Justiça. O dia da partida entre Alemanha e
Argentina por pouco não foi marcado pelo terror. Segundo a polícia, esse
era o plano da operação "Junho Negro", organizada por manifestantes
acusados de praticar atos violentos em protestos. De acordo com a
investigação, explosivos seriam deixados em uma praça movimentada, num
bairro próximo ao Maracanã. Mas a ação foi desmontada graças a
depoimentos de ex-integrantes do grupo. Dentro de uma barraca montada em
frente à Câmara Municipal, em agosto de 2013, aconteceu uma reunião e,
segundo testemunhas, foi ali que um grupo de jovens decidiu que era
preciso aumentar a violência em protestos, como informou uma testemunha
que não quis ser identificada. "Essa reunião foi quando se começou a
falar em coisas mais agressivas... Rolou a coisa de quererem queimarem
um ônibus ali na Rio Branco, isso aconteceu realmente. Isso foi até
noticiado, queimaram até um ônibus da polícia", disse. Segundo a
polícia, foram mais de 30 depoimentos, milhares de horas de gravações
feitas com a autorização da Justiça e sete meses de trabalho que
desvendaram o planejamento de ações violentas nos protestos. A
investigação aponta que na barraca no Centro do Rio de Janeiro, estavam,
entre outros, Elisa Quadros, a Sininho, Igor Mendes da Silva, Camila
Aparecida Jourdan e Luiz Carlos Rendeiro Júnior, conhecido como Game
Over. Eles fazem parte do grupo de 23 indiciados que respondem na
Justiça por praticar e incitar atos violentos durante protestos. São
oito as principais testemunhas do processo. Camila Jourdan, Igor
D'Icarahy e Elisa Quadros, que deixaram a cadeia na quinta-feira (24),
graças a uma liminar, tinham sido presos um dia antes da final da Copa.
Outras dezoito pessoas também chegaram a ter a prisão preventiva
decretada. Duas delas falaram com o Fantástico e contaram que estiveram
nas manifestações, ouviram as orientações para atacar policiais, além do
patrimônio público e privado, e se assustaram com a escalada de
violência. Uma das testemunhas falou sobre a estratégia do grupo. "O
termo que eles usam, eles falam muito em ação direta. Ação direta é o
ato de confrontar, de quebrar, é o ato de destruição, com o objetivo de
chamar atenção para eles mesmos", disse a testemunha. Outra testemunha
aponta Elisa Quadros como líder do grupo. "A liderança vinha da Sininho,
que uma vez nós estávamos num ato né, que é a manifestação que ela
falou, pediu pro garoto tacar o coquetel molotov dentro da Câmara de
Vereadores. Apareceu uma segunda pessoa dizendo pra ela não fazer isso,
entendeu? Então, ela que comandava. Só que na hora que o circo começava a
pegar fogo, ela sumia", contou. Outra testemunha reforça a função de
líder ocupada por Elisa. "Ah, ela falava que era doida pra explodir a
Câmara. Tinha que quebrar banco todo mesmo, tem que queimar ônibus. Ela,
dia de ato, às vezes ela ta junto entendeu? Ela passa, eu já vi,
entendeu? Ela passando bomba, cabeção de nego, entendeu? Ela e as
turminhas dela lá", disse. As ações violentas eram comentadas por
telefone pelos próprios manifestantes. "Eles pareciam uns cachorros
selvagens sem vacina", disse uma testemunha que frequentou as
assembleias da Frente Independente Popular (FIP) desde a formação, viu o
movimento ganhar a adesão de várias organizações, e se ofereceu para
participar do núcleo que tomava as decisões. Em depoimento gravado pela
polícia, outra testemunha diz porquê foi aceita no grupo. "Eu fui
aceito, porque de alguma forma eu já era conhecido deles, então ninguém
se opôs a me aceitar na Comissão de Organização, que na verdade era uma
coisa que discutiam coisas seríssimas ali, coisas criminosas", disse,
sem citar quais crimes. O inquérito policial relata que as lideranças
tinham o plano de fazer vários protestos violentos durante a Copa, o que
o grupo chamava de Junho Negro. Segundo as investigações, o preparo
envolvia a compra de rojões, a produção de coquetéis molotov e de outros
tipos de explosivos, que deveriam ser atirados nos policiais. E, para
que tudo funcionasse, havia uma distribuição de tarefas. Uma testemunha
explica como funcionava essa divisão. "Existem os mentores intelectuais
que são as lideranças. Eles não assumem essa nomenclatura de líder
porque isso vai contra a ideologia deles, que é anarquista. Para eles
não tem líder, mas eu que vi, eu sei que tem. Você tem a função dos
atiradores, que são os caras que ficam ali responsáveis por atirar os
fogos, os molotovs, o que tiver na mão. Você tem a função das mulas, que
ficam no meio da multidão com a mochila, preparada para dar para quem
quer que seja. E você tem uma categoria também interessante, que são
funções assim mais estrategicamente do ponto de vista político. Eles
gostam de fazer campanhas em grupos sociais diferentes para poder trazer
a galera pra eles", contou. A denúncia do Ministério Público aponta que
no protesto marcado para a final da Copa, o grupo escondeu coquetéis
molotov na madrugada do dia 13 de julho e que estava preocupado em levar
escudos e objetos para serem arremessados. Os denunciados também
decidiram que era necessário esconder os explosivos em carros nas
redondezas do Maracanã, para não correr o risco de serem pegos com os
objetos nas mochilas. A estratégia, como mostra a investigação, foi
testada em protestos na Praça Saens Peña, próximo ao estádio, nos dias
de jogos de Copa. Uma escuta telefônica mostra o diálogo entre Camila
Jourdan e Rebeca Martins de Souza, que foi indiciada.
Camila: Você conseguiu?
Rebeca: O que?
Camila: Deixar lá as coisas?
Rebeca: Não. A gente tá aqui...parado, afastado...esperando ligação pra ir praí.
Camila: Eu tô distante também porque tão fazendo muita revista.
Rebeca: Eu acho assim...a gente pode até ir praí, estaciona o carro perto e fica aí de fora.
Camila: Eu acho que é mais difícil depois pegar as paradas e levar.
Nesta conversa, Camila reclama com Igor D'Icarahy, também indiciado no
processo, sobre a demora em estacionar um carro, que segundo a polícia,
estaria com explosivos.
Camila: Você estacionou?
Igor: Não.
Camila: - C...., cara, por que não?
Igor: Eu vou chegar lá e vou te falar.
Camila: - Não, cara, não tem essa não. A gente tá saindo daqui! Vai para lá e leva as paradas lá!
A pressa é porque a rua seria fechada, horas antes de uma partida da Copa.
Camila: A rua tá fechada?
Igor: Isso... eu vou chegar aí.
Camila: Eu te avisei que isso ia acontecer.
Igor: Não, não é isso...
Camila: É isso sim, cara.
Igor: Eu vou chegar aí e vou falar contigo, para de falar.
Camila: Eu não quero falar com você, cara, sinceramente, eu não quero. É
muita falta de respeito com as pessoas que estão envolvidas com essa
situação. Muita falta de respeito o que você tá fazendo, cara.
Neste mesmo dia, 28 de junho, mais tarde, Camila avisa a um homem sobre uma operação da polícia.
Camila: Aborta a missão, some da rua, some. Entendeu? Some. Foi todo mundo pego
Tiago: Tá. Falou. Tá.
Camila: Aborta a missão.
Tiago: Tá.
A polícia afirma ter encontrado na Praça Saenz Pena 20 rojões recheados
com pregos e 178 ouriços - objetos de ferro com várias pontas. A ação
batizada de Junho Negro acabou sendo frustrada. Os rumos tomados pelos
líderes afastaram antigos aliados e despertaram a desconfiança, como
mostra uma conversa entre um homem não identificado e a advogada Eloisa
Samy, denunciada no processo. "Eu acho que já passou mais que da hora da
gente começar a levantar boicote sim, começar a mostrar as verdades de
quem a FIP de fato é. Porque eles estão levando a gente pro fundo do
poço, Elô. Estou falando pro nosso meio, porque tem muitas pessoas ali
Elô, que estão sendo enganadas. Tem muitas pessoas de alma, de bom
coração ali, que estão sendo enganadas, e aí, vão para Saens Peña da
vida e levam porrada, isso é certo? Isso não é certo gente, não é
certo..."
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