AGU e Lula pressionam TCU
Merval Pereira |
Houve uma articulação do governo, que envolveu o advogado-geral da União
(AGU), Luís Adams, e até mesmo o ex-presidente Lula, para tentar
engavetar o processo do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a compra
da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
A decisão do tribunal acabou isentando o Conselho de Administração,
presidido na ocasião da compra pela hoje presidente Dilma Rousseff, de
culpa pelo prejuízo causado à Petrobras, mas condenou os 11 diretores da
estatal brasileira a ressarcirem os cofres públicos em quase US$ 1
bilhão.
O primeiro relato sobre essa manobra governamental, que se assemelha em
tudo às pressões que o ex-presidente Lula fez sobre os ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) para que o processo do mensalão não fosse
a julgamento, foi feito pelo jornalista Reinaldo Azevedo, ontem, em seu
blog na “Veja”.
Fui a campo para esmiuçar o caso e descobri que na terça-feira, dia 22,
véspera da análise do processo, às 17h, o advogado-geral da União foi ao
TCU para uma audiência com o relator, ministro José Jorge (ex-senador
do DEM e ex-candidato a vice-presidente da República na chapa tucana em
2006) e pediu para tirá-lo de pauta.
Não é um procedimento incomum, e normalmente os pedidos são atendidos
para dar mais tempo aos advogados de se prepararem. Mas, como esse é um
caso muito complexo e com delicadezas políticas, o ministro José Jorge
tomou a precaução de publicar seu voto na intranet do TCU na véspera.
Adams alegava querer fazer uma defesa oral, e não tivera tempo
suficiente de analisar o relatório, divulgado no dia anterior.
Mas como o relatório fazia parte do processo, que já era público há
muito tempo, o ministro José Jorge não viu razão para adiar o
julgamento. Nessa conversa, José Jorge perguntou a Adams: “Você vai
fazer a defesa de quem? Nós estamos aqui defendendo a Petrobras,
condenando as pessoas a devolverem o dinheiro à Petrobras”.
Ao mesmo tempo, o ministro do TCU José Múcio, que foi ministro de
Articulação Política de Lula, foi chamado pelo ex-presidente para uma
conversa em São Paulo.
No relato que fez a seus pares, disse que encontrou o ex-presidente
muito preocupado, relatou que nunca vira antes Lula de moral tão baixa.
O ex-presidente criticou a campanha de reeleição de Dilma, a indefinição
do ministro Gilberto Carvalho, que não sabe se fica no Planalto ou se
vai para a campanha. E se mostrou especialmente preocupado com a
repercussão do processo do TCU sobre a Refinaria de Pasadena na
campanha.
A preocupação era tão grande que Adams não fez a defesa oral e articulou
com alguns ministros para que um deles, Benjamin Zymler, pedisse vista
do processo. Quando José Jorge terminou de ler seu voto, Zymler alegou
que a estimativa dos prejuízos precisava ser revista e pediu vista.
O relator esclareceu então que seu voto ficaria computado, o que significava que o pedido de vista seria na votação já começada.
Imediatamente, o ministro Weder de Oliveira anunciou que votaria com o
relator, alegando que aquela era uma etapa intermediária do processo,
que a decisão definitiva só sairá mais adiante, quando fossem ouvidas as
partes.
Vários ministros, entre eles Ana Arraes, mãe do candidato do PSB Eduardo
Campos, deram o voto a favor do relator, que ficou com a maioria.
Foi então que o ministro José Múcio pediu que o assunto fosse logo à
votação “já que a presidenta não está colocada”, e Zymler retirou o
pedido de vista, tendo o relatório sido aprovado por unanimidade.
Nos contatos mantidos por emissários do governo com ministros do TCU,
houve um momento em que foi jogada na mesa a carta da nomeação para o
STF, cargo a que Adams aspira e também o ministro Benjamin Zymler.
Por isso, a decisão de excluir os membros do Conselho Administrativo da
Petrobras do rol dos culpados foi tão comemorada pelo Palácio do
Planalto. Mas é preciso compreender que esse processo vai por etapas.
Neste momento, o relator entendeu que seria mais útil concentrar a
investigação e a responsabilização na Diretoria Executiva, que foi quem
realmente operou o negócio. Se abrisse muito o leque, alega José Jorge,
perderia o foco nas investigações.
Nada impede, porém, que, ao abrir a Tomada de Contas Especial (TCE) e ao
ouvir os envolvidos no caso, membros do Conselho de Administração,
inclusive a própria presidente da República, sejam convocados a depor e
eventualmente incluídos no rol dos culpados.
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