"Sou pago para falar o que penso",
diz o analista de consultoria responsável pelo relatório enviado aos
clientes do banco Santander
Toda a artilharia petista se armou contra o banco Santander depois que
um relatório enviado a clientes de alta renda previa um futuro sombrio
para a economia brasileira se a presidente Dilma Rousseff se reeleger.
Temendo represália, o banco enviou nota ao mercado desculpando-se pelo
texto da equipe de análise e assegurando que medidas haviam sido tomadas
para punir a área responsável. O PT protocolou uma representação contra
a consultoria de investimentos Empiricus Research. A justificativa foi a
mesma que a usada pelo presidente do PT, Rui Falcão, para recriminar o
banco Santander: "terrorismo eleitoral". Ou, de forma mais sofisticada,
"fazer manifestações que interfiram na decisão de voto". Segundo a
representação protocolada no Tribunal Superior Eleitoral, a Empiricus
estaria vinculada ao candidato tucano Aécio Neves, à Coligação Muda
Brasil e ao Google numa campanha com o intuito de manchar a imagem da
presidente Dilma por meio de propaganda paga. A consultoria, conhecida
no mercado pela forma dinâmica e descomplicada com que produz suas
análises, anunciou alguns de seus textos por meio da ferramenta Google
Ads. Ao longo do último mês, permaneceram em evidência no Google os
anúncios mais clicados por leitores, que eram justamente os textos
intitulados: "Como se proteger de Dilma" e "E se Aécio ganhar". O
ministro Admar Gonzaga, do TSE, acatou o pedido protocolado em nome de
Dilma e concedeu liminar impedindo a Empiricus de propagandear suas
análises no Google. O gigante da internet também foi alvo de
representação, assim como o candidato Aécio Neves e sua coligação. Em
entrevista, o autor dos textos, Felipe Miranda, afirmou que a medida não
intimidará seu trabalho. "O que já vínhamos falando aos nossos clientes
sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou
com esse cerceamento. Mas vamos continuar atuando da mesma forma. Não
tenho rabo preso e sou pago pelos meus clientes para falar o que penso",
afirma.
Confira trechos da conversa:
- O TSE informou a consultoria sobre a representação do PT?
- Não, ainda não recebemos nenhum comunicado oficial. Ficamos sabendo
pela internet. Mas a situação é absurda, pois não há campanha eleitoral
da nossa parte. Podem não gostar do que escrevemos, mas nos colocar ali é
absurdo.
- Estão impedidos de produzir análises com foco eleitoral?
- Não. Há uma liminar que nos obriga a tirar aqueles textos do ar. Mas
não existe a possibilidade de alguém nos proibir de fazer nossas
análises críticas, pois aí seria censura explícita. Já seria um ato
institucional contra a liberdade de expressão. Além disso, o que já
vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a
condução da política econômica só piorou com esse cerceamento. Mas vamos
continuar atuando da mesma forma. Não tenho rabo preso e sou pago pelos
meus clientes para falar o que penso.
- Como o Google distribuiu os anúncios dos textos produzidos pela Empiricus?
- Os dois textos são muito claros: tratam de uma tese econômica que não é
nova e que mostra que a bolsa cai quando a Dilma sobe nas pesquisas, e
sobe quando o Aécio melhora. O objetivo é simples: nossos clientes devem
se proteger desses solavancos. Os anúncios dos textos têm forma
idêntica no Google, mas, de acordo com a métrica de distribuição desses
anúncios, ficam mais expostos os que são mais clicados. Diante disso,
podemos escolher tirar do Google Ads os anúncios menos rentáveis. O que
não foi o caso dos anúncios sobre as perspectivas econômicas num cenário
de vitória da Dilma e do Aécio.
- A consultoria sofreu algum tipo de represália fora a representação no TSE?
- Tirando esse clima de caça às bruxas, de perseguição, nada foi feito.
Há, claro, a militância. Desde a semana passada recebo xingamentos e
ameaças de toda a natureza por email e por meio das redes sociais. Nosso
site já caiu várias vezes e tentaram invadir nossos emails.
- Desde a repercussão do caso Santander, o mercado está mais amedrontado?
- Não posso falar pelo mercado, pois não estou a par. Mas o que é certo é
que estão tentando cercear nossa liberdade e nosso dever fiduciário de
prover boas dicas. Nós estamos pessimistas em relação à economia e não
posso ignorar isso em minhas análises. No caso do Santander, entendo que
ficou feio para o banco ter de voltar atrás na opinião de um analista.
Mas não me surpreende, pois os grandes bancos não querem romper relações
com o governo. Mas nós somos independentes e só temos compromisso com
nossos clientes.
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