'Precisam criar um líder para criminalizar o movimento', diz Sininho
Em entrevista, Elisa Quadros Sanzi disse que é 'libertária' e classificou processo contra acusados de 'abobrinha'
Sininho deixando a prisão após Justiça conceder habeas corpus |
Acusada de liderar uma “quadrilha armada para a prática de atos
violentos em protestos” no inquérito policial que fundamentou a denúncia
do Ministério Público contra 23 militantes no Rio, a produtora cultural
Elisa Quadros Sanzi, a Sininho, de 28 anos, afirma que “por mais que
mirem em mim, estão destruindo uma pessoa, mas não vão destruir o
movimento”.
Elisa foi presa na véspera da final da Copa do Mundo e ficou 13 dias em
uma cela da Penitenciária de Bangu, na zona oeste do Rio, até ser
beneficiada por habeas corpus. “Durante a ocupação (da Câmara, iniciada
em agosto de 2013), Elisa Sanzi foi vista comandando manifestantes para
que levassem três galões de gasolina para a Câmara Municipal, passando a
incitar os demais manifestantes a incendiar o prédio, objetivo não
alcançado em razão da intervenção de outros participantes dos atos”,
escreve o promotor.
Sininho é acusada pela ativista Anne Josephine Louise Marie Rosencrantz.
Ela relatou à polícia as articulações e os atos praticados pelos
integrantes da Frente Independente Popular (FIP), que incluiriam uso de
drogas.
Movimento espontâneo
Indagada sobre a acusação de ser uma das líderes da FIP, ela afirma:
“Historicamente, o Estado, o poder, precisa criar um líder para matar e
criminalizar o movimento. É isso o que estão fazendo. E vão fazer com
todos. Vão destruir as identidades por meio da mídia, para depois
justificar prisão, tortura e assassinato. Eles precisam disso. Mas o
movimento é espontâneo, não aceita esse tipo de coisa. Não adianta
tentar criar o que não existe”.
Elisa classificou de “abobrinha e história surrealista” o conteúdo do
processo de 15 volumes contra os 23 acusados. “Somos perseguidos
políticos”, diz ela. “Vão fazer 5 mil, 20 mil páginas de abobrinhas, de
história surrealista. Porque não existe, são 23 pessoas que mal se
conhecem”, afirma. “Nunca falei com a maioria dessas pessoas. Que líder é
esse que não fala com os seus? Não existe liderança.”
Orientada pelo advogado Marino D’Icarahy, Elisa não quis comentar
trechos do inquérito policial, como o depoimento da testemunha que a
acusa de ter incitado manifestantes a incendiar o prédio da Câmara.
Ela não se diz anarquista, mas “libertária”. “A polícia não sabe o que é
anarquismo. Dentro de um movimento espontâneo, de massa, que a gente
está vivendo no Brasil, existem várias linhas de pensamento político
diferentes, e cada um atua da forma que acredita. É isso o que faz (o
movimento) ser horizontal. Tem anarquista, tem comunista, tem socialista
e tem até capitalista no meio desse povo querendo destruir o sistema,
como, eu não sei. Sou uma libertária.”
‘Tortura psicológica’
Elisa afirmou ter presenciado “torturas psicológicas” e ter sido
impedida por agentes penitenciárias de cantar músicas de Chico Buarque e
Geraldo Vandré, entre outras, no período em que ficou presa em Bangu.
“Elas (as agentes) falavam: ‘canta hino de louvor ou pagode’. Você ali é
refém, aí não canta.”
Elisa recebeu a reportagem acompanhada da mãe, a psicóloga Rosoleta de
Quadros Pinto Stadtlander, que declarou: “Deixem a minha filha em paz.
Criaram um personagem, a Sininho, para demonizar os movimentos.”
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