A farsa da suposta intelectual
a serviço do povo
Reinaldo Azevedo |
A democracia brasileira só tem uma coisa a fazer com uma senhora chamada
Camila Jourdan, 34 anos, coordenadora — acreditem! — do curso de
pós-graduação em filosofia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro:
mandá-la para a cadeia. Até para que ela não se decepcione e, candidata a
intelectual que é, possa ver comprovada a sua tese. Vamos lembrar:
Camila é apontada pelo Ministério Público e pela Polícia como uma das
chefes da turma que promoveu — e tenta promover ainda — desordem no Rio
de Janeiro e no País. Gravações que vieram a público evidenciam o seu
papel de destaque numa tal OATL (Organização Anarquista Terra e
Liberdade) e na FIP (Frente Independente Popular), grupos minoritários,
ultrarradicais, acusados de promover ações violentas em protestos,
recorrendo a métodos franca e escancaradamente terroristas.
Esta senhora ficou presa por 13 dias, até que o um habeas corpus
concedido pelo desembargador Siro Darlan a colocasse em liberdade. Ela
afirma: “Tenho receio do que pode acontecer porque sei que não vivemos
em uma sociedade justa. Não acredito neste Estado como um Estado
democrático. Se acontecer (a condenação), ao menos, não vou me
decepcionar neste sentido".
Muito bem! Alguém que sustenta que não estamos num estado democrático,
que escolhe a violência como forma de atuação política, que não aposta
no diálogo como instrumento de mediação de conflitos, alguém assim não
pode merecer do ente que ela despreza — esse mesmo Estado — um
tratamento benevolente. A única atitude moral da Justiça brasileira é,
então, não decepcionar Camila e suas teses: que a lei seja aplicada com o
devido rigor e que ela seja apartada do convívio social! E não para lhe
dar uma lição moral. Mas porque as evidências estão contra ela.
Camila Jourdan |
Na entrevista concedida a jornalistas, Camila afeta sabedoria e cita
alguns filósofos, uma conversa muito distinta daquela que mantinha com
outros militantes, adeptos da violência, segundo interceptações
telefônicas feitas pela Polícia, com autorização da Justiça. Com a
imprensa, vaza uma suposta sabedoria arrogante, de quem não transita no
mundo dos mortais. Com os seus teleguiados, a conversa vulgar,
agressiva, autoritária, de quem não reconhece os limites dos outros —
nem mesmo daqueles que estão do seu lado.
Na UERJ, tentam dar relevo à sua formação acadêmica. É mesmo? À Folha,
Camila é capaz de dizer coisas assim, prestem atenção: “A participação
política não pode se resumir a um objeto de consumo. Mandam o eleitor
comprar um candidato. O ser humano precisa de participação política real
e permanente. Nós fazemos isso nas manifestações e nos trabalhos de
base, com movimentos sociais e assembleias populares”.
Como é que é? Assembleias populares? “Popular” é o adjetivo do
substantivo “povo”. Desde quando o “povo” sabe ou participa da luta
dessa senhora? Com que autoridade ela fala em seu nome? Imodesta, notem
que Camila se pretende também uma intérprete das reais necessidades dos
“seres humanos”. A cadeia é a hipótese benevolente para essa gente. A
mais rigorosa seria mesmo o manicômio.
Camila é só a expressão de uma safra de militantes políticos — à qual
pertence também Guilherme Boulos, o autointitulado líder do
autoproclacamado Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto — que resolvem
tomar para si a tarefa de mudar o mundo na marra. E que valores orientam
a sua batalha? Aqueles que lhes da na veneta, sejam ou não viáveis. E
as pessoas que se virem para se defender da violência que engendram.
Chegou a hora de o estado democrático e de direito dar a devida resposta
a esses celerados. Parte considerável das ações que praticam não se
distingue do banditismo comum. E lugar de bandido é na cadeia. Em nome
da preservação da ordem democrática — esta, sim, popular, exercida pela
maioria, ancorada na Constituição — e em leis que asseguram os direitos
coletivos e individuais. A democracia tem a obrigação de se proteger dos
que querem solapá-la.
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