quinta-feira, 24 de julho de 2014


Escritor Ariano Suassuna 
morre aos 87 anos

Ariano  Suassuna

O escritor Ariano Suassuna, autor de livros como "O Auto da Compadecida" e "O Santo e a Porca", morreu nesta quarta-feira (23 de julho), aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda-feira no Real Hospital Português de Recife, após sofrer um AVC hemorrágico.
O Real Hospital Português informou em nota que o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna veio a óbito às 17h15 desta quarta-feira, 23, às 17h15, após parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana. A família ainda não informou os detalhes do funeral.
O agravamento do estado de saúde de Suassuna veio após sofrer um AVC hemorrágico na segunda-feira, 21 e ter sido submetido a cirurgia para colocação de dois drenos para controlar a pressão intracraniana.
Em agosto do ano passado, Suassuna passou por duas internações seguidas. Sofreu um enfarte do miocárdio e logo depois e um aneurisma cerebral. Recuperou-se e estava em plena atividade. Foi o homenageado do bloco carnavalesco recifense Galo da Madrugada, no carnaval, e semana passada ministrou uma aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, no agreste pernambucano.
Autor de obras como "O Auto da Compadecida", "Uma mulher vestida de sol" e "Romance da Pedra do Reino", Ariano Suassuna foi o idealizador do Movimento Armorial, na década de 1970 - arte erudita a partir de elementos da cultura popular nordestina em todas as áreas música, dança, artes plásticas.
Suassuna foi secretário estadual de Cultura no período 1994-1998, durante o governo de Miguel Arraes (1916-2005) e assumiu o mesmo cargo, como secretário especial no primeiro mandato do governo Eduardo Campos (PSB), neto de Arraes, em 2007. Seu foco sempre foi o da valorização da cultura popular, posicionando-se também contra qualquer estrangeirismo da língua portuguesa.
Engajado na campanha presidencial de Campos, esteve presente no lançamento da sua candidatura em Brasília e participou, no dia sete, de um encontro da militância do candidato, no Paço Alfândega, no Recife.

Trajetória
Nascido em João Pessoa, quando a capital paraibana ainda se chamava Nossa Senhora das Neves, em 1927,  ainda adolescente, Ariano Vilar Suassuna foi morar no Recife, onde terminou os estudos secundários e deixou seu nome marcado na cultura literatura brasileira, especialmente no teatro e na literatura.
Em 1946, na capital pernambucana, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco, junto com o amigo Hermilo Borba Filho. No ano seguinte, escreveu sua primeira peça teatral, Uma Mulher Vestida de Sol, seguida de Cantam as Harpas de Sião e Os Homens de Barro. Em 1955, escreveu sua obra mais popular, Auto da Compadecida, que conta as aventuras de dois amigos, Chicó e João Grilo, no Nordeste brasileiro. A peça foi adaptada duas vezes para o cinema, em 1969 e 2000.
Suassuna continuou criando, escrevendo peças de teatro, romances e poesias. O Santo e a Porca, Farsa da Boa Preguiça e Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta são algumas das dezenas de obras dele. A maioria delas foi traduzida para outros idiomas, como francês, alemão, espanhol, inglês e holandês. Em 1989, passou a ocupar a Cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras.
Carismático, Suassuna esbanjou simpatia por onde passou. Mais recentemente, apresentou sua “aula-espetáculo” por todo o Brasil, onde ensinou formas de arte para o público e mostrou a riqueza da cultura do país, contando histórias, “causos” e piadas. Suassuna mostrou ao povo brasileiro como ele é inventivo, engraçado, esperto e interessante e provou que não existe nada do lado de lá das fronteiras que possamos invejar.
Em uma de suas últimas passagens por Brasília, Suassuna encerrou a aula-espetáculo valorizando, não sua obra, mas a de outro brasileiro. O escritor citou o filósofo Matias Aires como exemplo da qualidade nacional, mas também como um resumo da sua própria trajetória, "e da de todos nós", neste mundo.
“Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto, nem cortejo, e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E, com esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece”, disse, então, Ariano Suassuna.


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