Escritor Ariano Suassuna
morre aos 87 anos
Ariano Suassuna |
O escritor Ariano Suassuna, autor de livros como "O Auto da Compadecida"
e "O Santo e a Porca", morreu nesta quarta-feira (23 de julho), aos 87
anos. Ele estava internado desde a noite de segunda-feira no Real
Hospital Português de Recife, após sofrer um AVC hemorrágico.
O Real Hospital Português informou em nota que o escritor e dramaturgo
paraibano Ariano Suassuna veio a óbito às 17h15 desta quarta-feira, 23,
às 17h15, após parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana.
A família ainda não informou os detalhes do funeral.
O agravamento do estado de saúde de Suassuna veio após sofrer um AVC
hemorrágico na segunda-feira, 21 e ter sido submetido a cirurgia para
colocação de dois drenos para controlar a pressão intracraniana.
Em agosto do ano passado, Suassuna passou por duas internações seguidas.
Sofreu um enfarte do miocárdio e logo depois e um aneurisma cerebral.
Recuperou-se e estava em plena atividade. Foi o homenageado do bloco
carnavalesco recifense Galo da Madrugada, no carnaval, e semana passada
ministrou uma aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, no
agreste pernambucano.
Autor de obras como "O Auto da Compadecida", "Uma mulher vestida de sol"
e "Romance da Pedra do Reino", Ariano Suassuna foi o idealizador do
Movimento Armorial, na década de 1970 - arte erudita a partir de
elementos da cultura popular nordestina em todas as áreas música, dança,
artes plásticas.
Suassuna foi secretário estadual de Cultura no período 1994-1998,
durante o governo de Miguel Arraes (1916-2005) e assumiu o mesmo cargo,
como secretário especial no primeiro mandato do governo Eduardo Campos
(PSB), neto de Arraes, em 2007. Seu foco sempre foi o da valorização da
cultura popular, posicionando-se também contra qualquer estrangeirismo
da língua portuguesa.
Engajado na campanha presidencial de Campos, esteve presente no
lançamento da sua candidatura em Brasília e participou, no dia sete, de
um encontro da militância do candidato, no Paço Alfândega, no Recife.
Trajetória
Nascido em João Pessoa, quando a capital paraibana ainda se chamava
Nossa Senhora das Neves, em 1927, ainda adolescente, Ariano Vilar
Suassuna foi morar no Recife, onde terminou os estudos secundários e
deixou seu nome marcado na cultura literatura brasileira, especialmente
no teatro e na literatura.
Em 1946, na capital pernambucana, fundou o Teatro do Estudante de
Pernambuco, junto com o amigo Hermilo Borba Filho. No ano seguinte,
escreveu sua primeira peça teatral, Uma Mulher Vestida de Sol, seguida
de Cantam as Harpas de Sião e Os Homens de Barro. Em 1955, escreveu sua
obra mais popular, Auto da Compadecida, que conta as aventuras de dois
amigos, Chicó e João Grilo, no Nordeste brasileiro. A peça foi adaptada
duas vezes para o cinema, em 1969 e 2000.
Suassuna continuou criando, escrevendo peças de teatro, romances e
poesias. O Santo e a Porca, Farsa da Boa Preguiça e Romance d’A Pedra do
Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta são algumas das dezenas de
obras dele. A maioria delas foi traduzida para outros idiomas, como
francês, alemão, espanhol, inglês e holandês. Em 1989, passou a ocupar a
Cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras.
Carismático, Suassuna esbanjou simpatia por onde passou. Mais
recentemente, apresentou sua “aula-espetáculo” por todo o Brasil, onde
ensinou formas de arte para o público e mostrou a riqueza da cultura do
país, contando histórias, “causos” e piadas. Suassuna mostrou ao povo
brasileiro como ele é inventivo, engraçado, esperto e interessante e
provou que não existe nada do lado de lá das fronteiras que possamos
invejar.
Em uma de suas últimas passagens por Brasília, Suassuna encerrou a
aula-espetáculo valorizando, não sua obra, mas a de outro brasileiro. O
escritor citou o filósofo Matias Aires como exemplo da qualidade
nacional, mas também como um resumo da sua própria trajetória, "e da de
todos nós", neste mundo.
“Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a
fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada
um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto, nem cortejo, e que
logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o
que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma
das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E, com
esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a
cortina e desaparece”, disse, então, Ariano Suassuna.
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