‘Só melhorar distribuição de renda não leva país a mudar de patamar’, diz Pedro Saffi
Pedro Saffi |
A distribuição da renda sozinha não será capaz de reduzir as
desvantagens do Brasil, que avançou uma posição apenas no “ranking”
mundial do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em relação a outros
países, ocupando o 79º. lugar entre 187 países. Esta é a avaliação do
professor do Departamento de Finanças da Cambridge Judge Business
School, Pedro Saffi. Ele disse que a educação, indicador que permaneceu
estagnado no país, é uma das mazelas do crescimento econômico e que a
falta dela perpetua a concentração da renda.
DESIGUALDADES
O fim da inflação após o Plano Real teve um choque positivo nas
desigualdades, assim como as políticas sociais dos governos do PT, com
destaque para o bolsa família. Por estas razões, o Brasil foi um dos
poucos países do mundo em que as desigualdades caíram de maneira
significativa na última década. Se olharmos as taxas de crescimento da
base da pirâmide, a renda das pessoas teve uma taxa de crescimento
chinesa. A renda dos mais ricos também subiu, mas a dos mais pobres
cresceu muito mais depressa. Mas isso sozinho não é capaz de reduzir as
desvantagens brasileiras.
EDUCAÇÃO
A diferença em relação a outros países ainda é muito grande. Apesar da
melhor distribuição de renda dos últimos 10 anos, outros problemas
começam a bater na porta. E a educação é um deles. A escolaridade média -
e a esperada, que é a da geração atualmente na escola - está
basicamente estagnada desde 2000. Há uma massa muito grande de pessoas
que têm educação baixa e, por isso, a produtividade é baixa. O retorno
do trabalho é baixo. Obviamente, no longo prazo, isso dificulta uma
queda maior na desigualdade. A renda fica mais concentrada nas pessoas
melhores educadas, que têm melhores perspectivas. Isso torna a sociedade
mais rígida do ponto de vista da mobilidade entre as classes.
NÃO FALTA DINHEIRO
O problema do Brasil não é mais falta de dinheiro. Enquanto não
melhorarmos a educação, não há como sair da categoria de país de renda
média para um de primeiro mundo. A Coreia, que era o país com os piores
índices de educação na década de 1960 tem hoje um dos melhores ensinos
do mundo. Enquanto 40% da geração com 60 anos de idade têm o ensino
médio, a de 30 tem 100%. No Brasil, esses percentuais passaram de 25%
para 50%, mas a qualidade segue sendo muito ruim. Quando se fala em
faculdade, é ainda pior. No Brasil, a geração de 60 anos com nível
superior é de 10%, enquanto a que atualmente tem 30 anos, está em 13%.
Na Coreia, passa de 14% para 65%, respectivamente. A média do G20 está
em 40% para os mais jovens.
LONGO PRAZO
Não há como mudar o IDH significativamente de uma hora para outra. E há
outros países que também avançam. O fato é que o tamanho das
desigualdades no Brasil é tal que só melhorar a distribuição de renda
não é suficiente para levar o país para o mesmo patamar de outras
nações. A mudança na educação, por exemplo, só ocorrerá de uma geração
para outra. Essa geração que hoje tem entre 10 e 15 anos é meio perdida,
porque não houve muitas reformas nessa área. Se eles não estão bem
agora, não vai ser a faculdade que vai torná-los muito melhores. As
mudanças custam a ter efeito e só perpetuam nossa desigualdade social
CRESCIMENTO
A falta de educação é uma das maiores mazelas do país hoje e um dos
responsáveis pelo crescimento tímido da economia brasileira e da sua
baixa competitividade, além da carga tributária e da falta de
infraestrutura. No longo prazo a lista de desafios é tão grande que é
quase impossível resolvê-los um a um. É essencial a melhoria na
qualidade na educação para que o Brasil possa competir com outras
nações. Nossa mão de obra é, na média, pessimamente qualificada em todos
os níveis e, infelizmente, sem grandes perspectivas de melhora. A
expansão no acesso à educação não foi acompanhada por qualquer melhora
significativa de qualidade. Corremos o risco de ficar eternamente
dependentes da exportação de commodities enquanto os outros países
emergentes se tornem competitivos em setores de alta tecnologia por
conta da falta de investimento em educação.
PRÓXIMO GOVERNO
O próximo governo, seja ele qual for, terá que fazer um ajuste muito
forte, como uma freada de ônibus, reorganizar a economia. O modelo
baseado na expansão do consumo funciona por algum tempo, mas, se não se
planta a semente das reformas, perde-se a oportunidade. Nossa maria
fumaça perdeu um pouco a força.
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