Computadores do governo federal são usados para atacar adversários
Onze computadores do governo federal foram usados para alterar páginas
da Wikipédia, enciclopédia on-line cujos textos podem ser editados
livremente, como as do ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), do
Movimento Passe Livre e do ex-governador José Serra (PSDB-SP).
Levantamento com os endereços de IP registrados em nome do Serpro
(Serviço Federal de Processamento de Dados) e da Presidência da
República mostra que artigos sofreram mudanças tanto para a inclusão de
elogios e a retirada de críticas como para o inverso. As edições, feitas
entre 2008 e 2014, acabaram desfeitas por outros usuários, por
infringirem regras de uso. IPs são como uma "impressão digital" na
internet, o que permite identificar ao menos a organização responsável
pelo acesso. A Wikipédia registra todos os endereços do tipo que fazem
alterações. O caso mais relevante de edição ocorreu em dezembro de 2013,
quando uma conexão de internet da Presidência da República foi usada
para retirar trecho sobre suspeitas de corrupção na Funasa (Fundação
Nacional da Saúde) quando Alexandre Padilha era diretor do órgão, e
incluir elogio ao programa Mais Médicos. "Com o sucesso do Mais Médicos
Padilha se torna um dos pré-candidatos petistas à disputa pelo governo
de São Paulo em 2014", dizia o texto. Em 10 de junho de 2013, em meio
aos protestos de rua liderados pelo MPL (Movimento Passe Livre), um IP
do Serpro foi usado para alterar a página do grupo na Wikipédia. A
edição dizia que o MPL "se utiliza de protestos e, não raramente,
depredação e violência para alavancar" reivindicações. Também afirmava
que a tarifa zero ignora que "todo aumento de gasto público implica
menos orçamento" para saúde e educação. Em março de 2010, ano em que o
ex-governador paulista José Serra (PSDB) concorreu à Presidência contra
Dilma Rousseff (PT), um computador do governo federal foi usado para
incluir críticas ao político na enciclopédia. O trecho dizia que "se
eleito presidente, Serra pretende, como uma de suas metas, acabar com
todas as empresas estatais e sucatear todas as empresas públicas" --
durante a campanha, o tucano negou ter esse objetivo. Outras edições
foram feitas em páginas como as da Lei Rouanet e do Funttel (Fundo para o
Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações), mas não tinham
informações incorretas - foram retiradas por não seguir normas de
padronização. A reportagem forneceu endereços de IP, datas e horários de
acesso ao Serpro, junto a um pedido de identificação dos locais físicos
em que esses IPs estão alocados. O órgão disse que não poderia comentar
o assunto por motivos legais, uma vez que a lei 5.615/70, que criou o
Serpro, determina que a empresa e seus servidores "são obrigados a
guardar sigilo quanto a elementos manipulados". "A própria identificação
e divulgação de órgão usuário do IP implicaria quebra de sigilo
contratual, já que a empresa se compromete em garantir tratamento
sigiloso para os dados e informações dos contratantes", disse a
companhia federal em nota. Questionada sobre o caso da página de
Alexandre Padilha, a Presidência da República afirmou que não poderia se
posicionar a tempo; sugeriu que o pedido fosse feito pela Lei de Acesso
à Informação.
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