Livrai-nos do mal
Nelson Motta |
Uma das piores coisas que pode acontecer a um país é sair de uma eleição
polarizada e movida a ódio e jogo sujo com um dos candidatos vencendo
por diferença mínima — e os perdedores formando uma oposição vingativa,
destrutiva e poderosa. O país trava, a democracia não avança e todos
perdem. Todo mundo sabe disso, mas aqui eles só pensam naquilo, no
poder, e nunca nas consequências do que fazem para conquistá-lo e
mantê-lo.
Ó santa ingenuidade, alguém imagina que possa ser diferente ?
O grau de civilização e democracia de um país também se mede por
eleições polarizadas e acirradas, mas com campanhas propositivas, que
são decididas por poucos votos, mas resultam em avanço político e
social, com a síntese de propostas do governo e da oposição. Não é
utopia, é a realidade em vários países europeus, onde a vontade do
eleitorado é respeitada e poucos votos a mais não dão mais direitos nem
hegemonia a ninguém.
Quando eleições são decididas por diferença mínima, às vezes por golpes
de sorte ou compra de votos, mais do que uma eventual vitória de um
partido, isso significa que a sociedade está dividida e seus
representantes eleitos terão o desafio de enfrentar os problemas do país
dentro das regras democráticas.
Muito mais difícil se é um país com crescimento baixo e juros e inflação
altos, e está em 79º lugar (ou 75%, segundo o governo, tanto faz) no
Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (baseado em renda, saúde e
educação), que mede o que realmente interessa aos cidadãos na vida real.
E pior, nos últimos cinco anos estamos avançando em ritmo cada vez mais
lento em relação à média do mundo.
Fazer o quê? Imaginar um governo de coalizão no Brasil? Uma concertação à
chilena? Um comportamento político civilizado? Um mínimo de
racionalidade? São possibilidades risíveis no país primitivo do “nóis
contra eles”. Platão já dizia que a desgraça de quem não gosta de
politica é ser governado por quem gosta, mas certamente seu título
eleitoral não era do Rio ou de São Paulo.
No Brasil atual, até jogar em casa e com torcida a favor virou desvantagem e justificativa para derrotas e vaias.
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