Aeroporto em terreno da família acua Aécio e coloca em xeque
slogan do "choque de gestão"
slogan do "choque de gestão"
Quem acompanhou a entrevista de Aécio Neves notou um sorriso sem graça e
um certo tropeço nas palavras do candidato tucano à Presidência.
Constrangido, ele tentava explicar a notícia sobre a desapropriação de
um terreno de sua família, no interior de Minas Gerais, para a
construção de um aeroporto quando era governador. A mudança no tom da
fala era perceptível: saía de cena o crítico ferrenho dos concorrentes à
Presidência, até então ancorado no slogan de "choque de gestão", e em
seu lugar entrava o candidato acuado pela primeira grande polêmica da
campanha até aqui.
Mais do que uma eventual irregularidade, a reportagem publicada colocou
em xeque o modelo de gestão defendida pelo tucano. A avaliação é do
cientista político e professor da UFMG Fernando Filgueiras. "No fundo o
episódio mostra como, apesar de alguns esforços para melhoria da gestão,
traços de patrimonialismo, patriarcalismo e coronelismo ainda se
mantêm."
Autor do livro "Corrupção, democracia e legitimidade" e pesquisador do
Centro de Referência do Interesse Público da UFMG, Filgueiras afirma que
Aécio agora está na defensiva e precisa explicar a história, sobretudo
após a repercussão do caso. "A irregularidade só pode ser descartada se o
processo de desapropriação for devidamente investigado. Para mim isso é
o mais grave."
Entre os questionamentos levantados pelo cientista político estão os
critérios para a construção do aeroporto em Cláudio, município de apenas
30 mil habitantes a 50 quilômetros de um outro aeroporto. "Por que
aquela terra e não outra?", pergunta.
Filgueiras cita ainda a contestação do valor da desapropriação do
terreno na Justiça de Minas. "A desapropriação é irreversível. E se for
constatado qualquer problema procedimental na desapropriação (como
sempre os advogados pegam), o que será feito com o terreno? Vai cair nos
precatórios do estado e haver uma valorização terrível em 10 anos... Ou
seja, de 1 milhão de reais inicial, o valor vai para quanto? São muitas
questões em aberto." E completa: "Para quem gosta de explorar escândalo
é um prato cheio... Para além das anedotas, como, por exemplo, deixar a
chave do aeroporto na mão do tio..."
A reportagem deu início a uma troca de acusações dos comitês de campanha
dos candidatos. Petistas pediram investigação sobre o caso, enquanto os
tucanos acusam o governo de usar a estrutura da Anac, a Agência
Nacional de Aviação Civil - que em nota disse que o aeroporto opera de
maneira irregular - de usar a máquina pública em seu benefício.
A troca de acusações, diz o especialista, deve ficar, no campo da
"guerra discursiva". "A percepção do eleitor sobre o tema da corrupção,
de forma geral, é que ela está entranhada nas instituições políticas,
pertencendo a uma ordem do comum. Ou seja, parte da ideia de que
qualquer candidato é corrupto. Como recurso discursivo utilizado pelos
candidatos, a lógica será a de tentar mostrar quem é menos corrupto.
Mas, sinceramente, penso que esse discurso moralista não será essencial
na decisão do voto."
O estudioso, no entanto, ressalta: "É claro que um escândalo na conta do
Aécio contará, nesse momento. Assim como um novo escândalo no governo
Dilma, ou mesmo a descoberta de uma suposta delinquência de Eduardo
Campos. Um escândalo, a essa altura, é ruim para qualquer candidato
porque o coloca na defensiva".
Filgueiras aposta que o tema da corrupção estará presente em 2014 graças
às redes sociais, mas será difícil medir a influência do tema sobre os
eleitores. "Essa decisão ainda se dará em torno de quais políticas os
candidatos defenderão."
A comunicação dessas propostas, diz o professor, ainda precisa ser
detalhada pelos candidatos. "Nem Dilma, nem Aécio, nem Campos ainda
deixaram claros os seus programas. Há um cenário de incerteza nesse
momento. Um comportamento assim das candidaturas tenderá a favorecer uma
posição mais conservadora. Aí não adianta o lema 'Muda Brasil' se Aécio
não mostrar o que quer mudar. Para isso não bastará marketing político.
Terá de haver liderança."
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