Sarkozy diz que justiça francesa está sendo usada para fins políticos
Nicolas Sarkozy |
Depois de ser acusado formalmente de corrupção ativa, tráfico de
influência e violação do sigilo profissional, o ex-presidente da França,
Nicolas Sarkozy, afirmou que a Justiça do país está sendo usada para
“fins políticos”. Em entrevista a uma emissora de TV, Sarkozy negou ter
cometido qualquer ato ilegal e disse que o caso contra ele tem como
objetivo abalar sua reputação. “A situação é suficientemente séria para
que eu diga ao povo francês aonde chegou a instrumentalização política
de parte do sistema legal de hoje”, disse à emissora TF1. “Digo a todos
os que estão ouvindo que eu nunca os traí e nunca cometi nenhum ato
contra os princípios da República e o Estado de Direito”. “Tudo está
sendo feito para passar uma imagem minha que não corresponde à
realidade”, disse Sarkozy, que também reclamou da forma como o caso foi
encaminhado: “É normal que minhas conversas mais íntimas estejam sendo
ouvidas desde setembro do ano passado?” Ele também demonstrou irritação
pela forma como foi realizado o interrogatório. “Houve a intenção de me
humilhar”, afirmou, sobre sua detenção. A acusação foi formalizada
depois de o ex-presidente ser detido e interrogado por aproximadamente
quinze horas na terça-feira, fato inédito para um ex-chefe de Estado
francês. Os investigadores suspeitam que Sarkozy tenha prometido um
cargo de prestígio em Mônaco para um juiz de alto escalão em troca de
informações sobre um processo envolvendo financiamento ilegal de sua
vitoriosa campanha de 2007. Sarkozy já vinha tendo problemas com a
Justiça há algum tempo. Em 2012, logo depois de perder a imunidade, a
polícia revistou sua casa atrás de provas sobre o caso envolvendo a
herdeira da empresa de cosméticos L'Oréal, Liliane Bettencourt. Ele
chegou a ser formalmente acusado em março de 2013 de se aproveitar da
senilidade da empresária, hoje com 91 anos, para financiar sua campanha
presidencial de 2007. Bettencourt, considerada a mulher mais rica da
França, sofre da doença de Alzheimer desde 2006. O caso contra foi
arquivado em outubro. No entanto, quando investigadores verificavam
gravações telefônicas em busca de informações sobre alegações de que
Sarkozy teria recebido 50 milhões de euros (152 milhões de reais) em
doações ilegais do ex-ditador líbio Muamar Kadafi, começaram a suspeitar
que o ex-presidente tinha tentado obter informações sobre o caso
Bettencourt, antes que ele fosse arquivado, por meio de uma rede de
informantes. Essa suspeita levou a polícia a abrir um inquérito em
fevereiro, que culminou nos acontecimentos desta semana. O crime de
tráfico de influência pode ser punido com até cinco anos de prisão e o
de corrupção pode levar a até dez anos na cadeia. No entanto, Sarkozy só
será julgado se o juiz investigativo determinar que há indícios
suficientes para dar continuidade ao caso. O processo pode levar meses.
Os problemas de Sarkozy com a Justiça francesa têm sido vistos pela
imprensa do país como um duro golpe em suas pretensões de retornar ao
poder em 2017. Ele foi derrotado pelo socialista François Hollande em
2012 em sua tentativa de reeleição, mas permaneceu popular com parte do
eleitorado e demonstrou em diversas ocasiões que pretendia voltar a
disputar o cargo. A entrevista quebrou um distanciamento calculado que
Sarkozy vinha mantendo da imprensa nos dois últimos anos. Após deixar o
Palácio do Eliseu, Sarkozy até falou com jornalistas, mas sempre evitou
conceder longas entrevistas e comentar temas controversos. Com isso, ele
tentava se manter em evidência sem desgastar a imagem - estratégia
arruinada pelas novas acusações.
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