#SalaSocial: 'Bloco das favelas' organiza ato após um ano da morte de Amarildo
O mantra #cadeoamarildo resiste nos morros cariocas. Moradores de
favelas com Rocinha, Manguinhos, Complexo do Alemão, Santa Marta,
Cantagalo e Babilônia se reunirão num ato, marcado para domingo (13 de
julho), em homenagem ao pedreiro Amarildo de Souza, cujo desaparecimento
completa um ano nesta segunda-feira (14 de julho).
Batizado como "A festa nos estádios não vale as lágrimas nas favelas", o
protesto unificado deve ocorrer no entorno do Maracanã, simultaneamente
à partida final da Copa do Mundo.
"Este é um ato diferente dos que aconteceram no Rio desde o ano passado.
Dessa vez ele é marcado pelos moradores de favelas. A pauta da favela
está colocada em primeiro lugar. A favela enfim é protagonista", explica
Gizele Martins, 28, comunicadora comunitária da Maré.
Amarildo, segundo Gizele, tornou-se símbolo para uma série de "abusos
com os quais os moradores de comunidades convivem todos os dias".
"Ninguém gosta de passar por tanque de guerra e armas no quintal de
casa. Ninguém quer ser revistado e abusado gratuitamente. Ninguém quer
ser confundido com bandido, nem ver parentes e amigos desaparecendo. É
contra isso que lutamos. E com a Copa isso se intensificou de um jeito
que nunca tinha acontecido."
Os principais pontos discutidos pelos moradores das comunidades são o
que os organizadores chamam de "militarização das favelas", por meio das
Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e presença das Forças Armadas, e
as remoções forçadas para obras como teleféricos, que nem sempre
refletem as demandas locais.
"Offline"
O evento, marcado pelo Facebook, já tem 1.300 pessoas confirmadas e mais
de 16 mil convidados. Segundo os organizadores, uma força-tarefa foi
organizada online e offline para mobilizar a população.
"As redes sociais são muito importantes, mas a internet é cara. Então
fizemos reuniões dentro de diferentes favelas também para mobilizar. É
como um complemento: nosso público passa oito horas do dia trabalhando,
mais tantas outras no transporte, chega em casa e não tem tempo ou
dinheiro mesmo para internet", diz Gizele.
No ano passado, uma campanha virtual pedindo explicações sobre o
desaparecimento do pedreiro Amarildo se espalhou pelas redes graças a
hashtags como #cadeoamarildo e #ondeestaamarildo. Elas foram
compartilhadas mais de 15 mil vezes, só no Twitter, e despertaram a
adesão de personalidades como os músicos Caetano Veloso e Criolo.
Da mobilização na internet surgiu a pressão que culminou nas
investigações e indiciamento de policiais envolvidos no desaparecimento
do pedreiro.
No convite do ato, os organizadores convocam moradores de favelas
cariocas a trazerem "seus cartazes, camisas e faixas para o Bloco das
Favelas".
"[O governo faz] Investimentos absurdos em elefantes brancos como
teleféricos enquanto continuamos a sofrer com falta de saneamento,
hospitais e escolas", afirmam.
Para evitar novos "elefantes", a organização pede que os moradores das
comunidades sejam consultados durante a elaboração de políticas
públicas.
"O Estado age como se todas as favelas fossem iguais. Mas a demanda da
Rocinha é diferente da demanda da Maré. Não tem que colocar a gente no
mesmo saco e generalizar as soluções. Um dos problemas onde moro é o
saneamento básico. No Pavão-Pavãozinho pode ser o direito à habitação. É
importante que fique claro: a gente quer diálogo, não quer briga", diz a
líder comunitária.
Amarildo
O pedreiro Amarildo de Souza desapareceu em 14 de julho do ano passado,
após ser levado pela polícia carioca à sede da Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP) da Rocinha. Após passar por "averiguação", nos termos
da PM, o pedreiro nunca mais foi encontrado.
Pelo menos 29 policiais envolvidos no caso, incluindo o major Edson dos
Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, correm risco de serem expulsos
da PM por acusações como o convencimento de testemunhas a mentirem em
depoimentos. O inquérito da PM aponta que os crimes devem ser julgados
pela Justiça comum, e não pela Justiça Militar.
"O Amarildo representa todos os pobres e favelados que desaparecem todos
os dias e ninguém vê, ninguém ouve. Nossa bandeira é o direito à vida.
Quando desaparecem Amarildos e Amarildas, enquanto morre pobre, negro e
favelado, é porque tem alguma coisa errada. A sociedade tem que se
indignar e até lá vamos colocar essa bandeira na rua para sermos
tratados como qualquer cidadão", diz Gizele.
Ela dá exemplos sobre mudanças nas favelas desde a entrada das UPPs ou das forças armadas.
"Onde moro existe hoje um soldado para cada 55 moradores. A Maré tem 132
mil moradores segundo o Censo. Pergunta: me diz se tem um professor
para cada 55 pessoas? Não tem. Isso mostra a política do Estado nas
favelas."
Segundo ela, o aluguel e o custo de vida também aumentaram.
"Ficou tudo absurdamente caro. As pessoas estão saindo das favelas e
indo para favelas mais distantes. Até o início do ano tinham casas de R$
60, 70 mil. Agora custam R$ 150 mil. Faz sentido isso tudo para morar
na favela?".
Estudante se disse frustrado com o enfraquecimento das manifestações durante o Mundial |
Nenhum comentário:
Postar um comentário