domingo, 6 de julho de 2014


O Papa Francisco: “Não levar o pão para casa nos tira a dignidade”
Jorge Mario Bergoglio propõe em Molise um “pacto pelo trabalho” para lutar contra “o drama do desemprego”

O papa Francisco, durante sua visita a Molise.

Em um encontro com trabalhadores e pequenos empresários em Molise, uma das regiões mais pobres da Itália, o papa Francisco pediu aos políticos “um pacto pelo trabalho” para lutar contra “o drama do desemprego, uma praga que requer esforço e valentia por parte de todos”. Como já fez em setembro de 2013, durante sua visita à Sardenha, Jorge Mario Bergoglio, antes de falar, preferiu escutar os testemunhos de algumas vítimas da crise. Depois, dirigindo-se a um dos trabalhadores desempregados, disse: “Você falou em dignidade. Não ter trabalho não é apenas não ter o necessário para viver. Nós podemos comer todos os dias: vamos a Cáritas, a uma associação, a um clube ou onde seja, e nos dão de comer. Mas esse não é o problema. O problema grave é não poder levar para casa. Não levar o pão para casa nos tira a dignidade! Temos que defender nossa dignidade”.
As viagens do Papa pela Itália seguem o mesmo roteiro de seu pontificado: sair dos luxuosos palácios do Vaticano para ir ao encontro da periferia. Bergoglio ainda não foi para Milão, Veneza o Florença. Mas foi para Lampedusa para denunciar a “globalização da indiferença” diante do drama da imigração, à Sardenha para fazer um apelo contra o atual sistema econômico – “os ídolos do dinheiro nos estão roubando a dignidade” –, a Calábria para excomungar à Ndrangheta – “a máfia é a adoração do mal, a depreciação do bem comum – e agora a Molise para reunir-se com presos, doentes, trabalhadores e industriais atingidos pela crise.
Francisco também pediu aos pais de família que, apesar da angústia da crise, façam de tudo para conciliar sua vida profissional com a familiar. “Quando vou ao confessionário”, explicou, “ainda que não tanto quanto fazia em outras dioceses [Buenos Aires], quando vêm um pai e uma mãe jovens, eu pergunto: quantos filhos vocês têm? E depois sempre faço outra pergunta: vocês brincam com eles? A maioria me responde “como assim?” e eu digo “Sim, sim, vocês brincam com seus filhos? Gastam seu tempo com eles?” Porque estamos perdendo esta capacidade, essa sabedoria de brincar com nossos filhos. A situação econômica também nos obriga a fazer isso. Por favor, gastem tempo com seus filhos”.
Ainda sobre o assunto de conciliar o trabalho e a vida familiar, o Papa também fez uma reflexão sobre a conveniência de se trabalhar ou não aos domingos. “Não se trata de uma questão apenas dos crentes, mas de todos, como ética”, disse. E explicou: “A pergunta é: “A que devemos dar prioridade? O domingo livre de trabalho – exceto para os serviços essenciais – serve para reafirmar que a prioridade não é o aspecto econômico, mas sim o humano, o gratuito, as relações não comerciais mas familiares, de amizade, e para os crentes a relação com Deus. Talvez seja o momento de nos perguntarmos se isso de trabalhar aos domingos seja mesmo uma liberdade verdadeira”.

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