Morreu aos 80 anos o escritor e educador Rubem Alves
Rubem Alves |
O Brasil perdeu um grande nome da literatura nacional. Morreu em
Campinas, no interior de São Paulo, aos 80 anos, o escritor e educador
Rubem Alves. O óbito ocorreu em decorrência de falência múltipla de órgãos, segundo o
Centro Médico de Campinas (SP). O educador deu entrada no hospital com
quadro de insuficiência respiratória devido a uma pneumonia e estava
internado desde o dia 10 de julho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Mineiro de Boa Esperança, Rubem Alves nasceu em 15 de setembro de 1933.
Além de escritor, ele era mestre em teologia, doutor em filosofia,
educador e psicanalista. Autor de mais de 160 títulos distribuídos em 12
países, conquistava admiradores por seus pensamentos sobre a vida e a
existência.
"Acho que o envelhecer pode, não necessariamente, mas pode dar uma
imensa dose de sabedoria para a gente. A gente fica mais tolerante”,
disse o escritor em abril de 1996.
Sempre preocupado com as questões ligadas ao ensino, Rubem Alves era
tido como uma das principais referências no assunto. Mantinha em
Campinas, cidade onde morava, um instituto para promover a inserção
social através da educação. Amigos e parentes lembram do escritor como
um apaixonado pelo conhecimento.
“O que mais me impressiona é a poesia. Ele é um homem que olha para uma
folha e enxerga um mundo. Uma gota d’água é um universo”, disse Jane
Marilda de Oliveira, presidente da Academia Dorense de Letras.
Seu lema era viver o momento, aproveitar o agora. Sobre a morte, chegou a
escrever: "Já tive medo de morrer. Não tenho mais. Tenho tristeza. A
vida é muito boa. Mas a morte é minha companheira. Sempre conversamos e
aprendo com ela. Quem não se torna sábio ouvindo o que a morte tem a
dizer está condenado a ser tolo a vida inteira.".
Rubem Alves era casado e deixa três filhos.
Intelectual respeitado
Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933 em Boa Esperança, no Sul de
Minas Gerais, e morava em Campinas há décadas. Um dos intelectuais mais
respeitados do Brasil, Alves publicou diversos textos em jornais e
revistas do país e atuou como cronista, pedagogo, poeta, filósofo,
contador de histórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros
infantis e até psicanalista, de acordo com sua página oficial na
internet.
Educado em família protestante, estudou teologia no seminário
Presbiteriano do Sul. Tornou-se pastor de uma comunidade presbiteriana
no interior de Minas e casou com Lídia Nopper, com quem teve três
filhos, Sérgio, Marcos e Raquel. O autor afirmava que descobriu que
podia escrever para crianças ao inventar histórias para a filha.
Em 1963, viajou para Nova York para fazer uma pós-graduação. Retornou à
paróquia em Lavras (MG), no período da ditadura militar, e foi listado
entre pastores procurados pelos militares. Saiu com a família do Brasil e
foi estudar em Princeton, também nos Estados Unidos, onde escreveu a
tese de doutorado, que foi publicada em 1969 por uma editora católica
com o título de 'A Theology of Human Hope' (Teologia da Esperança
Humana).
Retornou ao Brasil em 1968 e demitiu-se da Igreja Presbiteriana. No ano
seguinte foi indicado para uma vaga de professor de filosofia na
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro (Fafi), atual
Unesp, onde permaneceu até 1974.
No mesmo ano ingressou no Instituto de Filosofia da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), onde fez a maior parte da sua carreira
acadêmica até se aposentar no início da década de 1990. Em 1984 iniciou o
curso para formação em psicanálise e teve uma clínica até 2004.
Escritor
O escritor dizia que com a literatura e a poesia começou a realizar seu
sonho fracassado de ser músico. Citava como referências Nietzsche, T. S.
Eliot, Kierkegaard, Camus, Lutero, Agostinho, Angelus Silésius,
Guimarães Rosa, Saramago, Tao Te Ching, o livro de Eclesiastes,
Bachelard, Octávio Paz, Borges, Barthes, Michael Ende, Fernando Pessoa,
Adélia Prado e Manoel de Barros.
Entre as obras infantis dele estão "A volta do pássaro encantado" e "A
pipa e a flor". Alves escreveu também sobre teologia, filosofia,
educação, além de crônicas. É autor de "Tempus fugit", "O quarto do
mistério", "A alegria de ensinar", "Por uma educação romântica" e
"Filosofia da ciência", e diversos outros. Em 2009 ficou em 2º lugar do
Prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas, com o livro "Ostra Feliz
Não Faz Pérola".
Educador
Sobre a paixão pela educação, escreveu: "Educar não é ensinar
matemática, física, química, geografia, português. Essas coisas podem
ser aprendidas nos livros e nos computadores. Dispensam a presença do
educador. Educar é outra coisa. [...] A primeira tarefa da educação é
ensinar a ver. [...] Quem vê bem nunca fica entediado com a vida. O
educador aponta e sorri – e contempla os olhos do discípulo. Quando seus
olhos sorriem, ele se sente feliz. Estão vendo a mesma coisa. Quando
digo que minha paixão é a educação estou dizendo que desejo ter a
alegria de ver os olhos dos meus discípulos, especialmente os olhos das
crianças".
Em entrevista à Globo News em agosto de 2012, Rubem Alves defendeu que a
educação no Brasil deveria passar por mudanças. “Na educação a coisa
mais deletéria na relação do professor com o aluno é dar a resposta. Ele
tem que provocar a curiosidade e a pesquisa”, disse.
A prova do vestibular também foi alvo de críticas à época. “Se os
reitores das universidades fizessem o vestibular, seriam reprovados,
assim como os professores de cursinho. Então, por que os adolescentes
têm que passar?”, indagou.
Morte e religião
Em um texto biográfico no site oficial, o educador escreveu trechos
sobre a morte. "Eu achava que religião não era para garantir o céu,
depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos
vivos."
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