Mais da metade das obras em linhas de transmissão de energia estão atrasadas
Documento da Aneel aponta que além do atraso no cronograma, 209 projetos, ou 47,2% do total, já deveriam ter sido entregues
Obras em linhas de transmissão sofrem atrasos de meses ou até anos |
Embora o Ministério de Minas e Energia tenha anunciado um pente-fino no
setor de transmissão de energia no fim de 2012, o último relatório de
fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostra que,
dos 443 empreendimentos de transmissão em construção ou com obras de
reforço no País, 240 estão atrasados. Ou seja, mais da metade está fora
do prazo previsto pelo governo, que havia divulgado o acompanhamento
mais rigoroso com o intuito de melhorar a confiabilidade do sistema,
após uma série de apagões.
O documento mostra que, além do atraso no cronograma, 209 projetos de
transmissão, ou 47,2% do total, já deveriam ter sido entregues. O
relatório de acompanhamento dos empreendimentos de transmissão,
elaborado pela Superintendência de Fiscalização dos Serviços de
Eletricidade (SFE) da Aneel, tem 1.024 páginas e detalha a situação de
todas as obras de construção de novas linhas e subestações.
Partindo da data prevista para a entrada em operação de cada estrutura, o
documento classifica os empreendimentos como “concluído”, quando
entregue antes do prazo estipulado; “normal”, quando as obras estão
dentro do previsto; e “atrasado”, quando a concessionária avisa a Aneel
que não conseguirá entregar a obra no prazo.
Adiamento. Alguns empreendimentos listados como atrasados estimam um
adiamento de poucos dias, mas a maioria prevê que as obras serão
concluídas com diferença de meses ou até anos em relação ao previsto
inicialmente no leilão de cada concessão.
A Associação Brasileira de Grandes Empresas de Transmissão de Energia
Elétrica (Abrate) reconhece que o alto nível de atrasos é prejudicial ao
sistema e causa impacto negativo considerável às próprias empresas de
transmissão. Mas culpa os cronogramas apertados instituídos pelo
governo, sobretudo por causa de dificuldades na obtenção dos
licenciamentos ambientais.
Segundo o diretor executivo da Abrate, César de Barros, os cronogramas
elaborados pelo governo dão apenas quatro meses para que as empresas
consigam essas licenças, mas o prazo médio tem sido de 17 meses. “Todo
empreendimento de transmissão já começa com 13 meses de atraso.”
Custos. Segundo Barros, as companhias acumulam prejuízos de R$ 2,2
bilhões desde 2000 por causa dos atrasos, já que os ativos só passam a
ser remunerados após entrarem em operação. “Também temos enfrentado
dificuldades fundiárias, principalmente quando as linhas chegam perto
dos grandes centros, como a cidade de São Paulo. Há muitos problemas de
negociação para se atravessar pequenas chácaras, cujo valor é muito mais
alto do que para se atravessar a terra nua no interior do País”,
acrescenta.
Segundo o diretor da Abrate, as empresas têm se empenhado para melhorar o
“meio de campo” entre o setor e os órgãos ambientais estaduais, mas
esperam maior apoio do governo federal. “Um certo nível de atraso é até
tolerável, mas uma taxa tão alta não é desejável. Mais da metade dos
empreendimentos com atrasos preocupa.” Procurados, o ministério e a
Aneel não se posicionaram sobre o volume de atrasos nas obras.
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