Empresas não conseguem pagar a conta de luz e param de produzir
O elevado preço da eletricidade no mercado à vista, por causa do baixo
nível dos reservatórios, tem criado uma série de distorções no setor
elétrico e na economia. Para algumas empresas, que tinham contrato de
suprimento de eletricidade direto com as geradoras, ficou mais lucrativo
deixar de produzir, importar o produto e vender a energia no mercado à
vista. Por outro lado, há companhias que não aguentaram o custo alto da
conta, ficaram inadimplentes e tiveram a energia cortada.
Numa situação normal, com reservatórios cheios e chuvas na média, o
preço do mercado à vista, também chamado de PLD, pode ficar meses abaixo
dos R$ 100 o MWh. Em janeiro de 2012, por exemplo, estava em R$ 12. Mas
quando há um stress no clima e o volume de chuva fica abaixo do
esperado, o preço explode. Em quase todo o primeiro semestre deste ano, o
PLD, ficou em R$ 822 o MWh, o limite máximo estabelecido. Nas últimas
semanas, o preço recuou um pouco - para entre R$ 356 e R$ 547 -, mas
continua em patamar alto.
Com esse preço, empresas que tinham energia comprada em contratos de
longo prazo, por menos de R$ 100, fecharam as portas e embolsaram o
valor do PLD, vendendo a energia no mercado à vista. No primeiro
semestre, por exemplo, a diferença foi de R$ 722 por MWh. Segundo
fontes, várias unidades do setor de ferro-ligas preferiram reduzir a
produção e receber pela energia não consumida.
Alumínio. Importação cresceu 888% entre janeiro e maio. |
No setor de alumínio, a história foi diferente, mas com resultado
semelhante. Com os altos custos do País e o enorme estoque mundial, as
empresas fecharam linhas de produção e reduziram o volume fabricado.
Para abastecer o mercado interno, que continua em alta, o setor teve de
importar alumínio. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, de
janeiro a maio, as importações de alumínio bruto cresceram 888% em
relação a igual período de 2013. O mesmo ocorreu com ligas de alumínio,
com avanço de 193%.
Nesse mesmo período, a produção caiu 16,1%. “Desde 2010, estamos
avisando que o preço da energia está muito alto para produzir no
Brasil”, diz o presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal),
Adjarma Azevedo. Dos 28% de queda na conta de luz, promovida pela MP
579, que renovou as concessões de geração e transmissão de eletricidade,
a indústria de alumínio só conseguiu 5,6%. Consequentemente, ao reduzir
a produção, sobrou energia para essas empresas, que lucraram com o
preço alto.
O PLD também baliza o preço da energia negociada nos contratos
bilaterais de longo prazo. Hoje, quem quiser comprar energia por um ano a
partir de 2015 terá de pagar mais de R$ 300 o MWh. O problema é que
muitas empresas tinham contratos de dez anos, por exemplo, vencendo este
ano, com custo de R$ 60 o MWh.
Com a explosão dos preços, elas ficaram sem contratos e sem condição de
pagar a nova conta de luz com base no PLD. Até este mês, oito empresas
foram desligadas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)
este ano por descumprimento de obrigações. Em 2013, foram 19. Há ainda
aquelas que continuam no mercado por decisão judicial, como é o caso da
indústria têxtil Teka.
PARA ENTENDER
CCEE funciona como bolsa.
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) viabiliza a
compra e venda de eletricidade no mercado de energia brasileiro. A CCEE
faz a contabilização e a liquidação financeira das operações no mercado
de curto prazo. As regras e os procedimentos de comercialização na CCEE
são aprovados pela Aneel.
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