Hamas, da primeira Intifada ao atual conflito com Israel
|
Hamas saiu fortalecido após vitória nas eleições de 2006
nos territórios palestinos |
O governo de Israel justifica a sua mais recente operação militar em
Gaza - Borda de Proteção - afirmando que precisa se proteger de foguetes
lançados em seu território pelo grupo palestino Hamas.
Mas a faceta militar é apenas dos rostos desta facção: o grupo
militante, que controla a Faixa de Gaza e não reconhece a existência do
Estado de Israel, é também um partido político e promove assistência
social.
O Hamas é o maior dos vários grupos islâmicos militantes palestinos. Seu
nome é a sigla em árabe para Movimento de Resistência Islâmica. A
agremiação surgiu após o início da primeira Intifada (revolta palestina)
contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, em
1987.
Em sua carta de fundação, o grupo estabelece dois objetivos: promover a
luta armada contra Israel – missão conduzida por seu braço militar, as
brigadas Al-Qassam – e realizar programas de bem-estar social.
Diferente do grupo palestino rival Fatah, que controla a Cisjordânia e
concorda com uma solução para o conflito que envolva a criação de dois
Estados – Israel e Palestina –, o Hamas defende a criação de um único
Estado palestino que ocuparia a área onde hoje estão Israel, a Faixa de
Gaza e a Cisjordânia.
|
Hamas nasceu após a primeira Intifada, em 1987 |
Por essa razão, e por sua longa história de ataques e sua recusa em
renunciar à violência, o Hamas é designado como uma organização
terrorista por Israel, Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Japão.
Para os países ocidentais, o Hamas está comprometido com a destruição de
Israel.
Mas, para seus apoiadores, o Hamas é visto como um movimento de resistência legítima.
O grupo cresceu nos anos 1980 e 1990 como organização social nas cidades
e campos de refugiados então sitiados pelas tropas israelenses. Nelas, o
Hamas organizava clínicas e escolas para palestinos insatisfeitos com a
ineficiente organização palestina controlada pelo Fatah, a Autoridade
Nacional Palestina.
Desde 2005, o grupo está envolvido no processo político palestino,
tornando-se o primeiro grupo islâmico no mundo árabe a conquistar o
poder democraticamente (antes de tomar à força o controle da fortaleza
de Gaza).
Chegada ao poder
O Hamas ganhou fama depois da primeira Intifada, como o principal
opositor palestino ao processo de paz conhecido como os Acordos de Oslo.
Estas negociações, lideradas pelo governo do presidente americano Bill
Clinton, previa a remoção gradual e parcial das tropas israelenses dos
territórios ocupados, em troca de compromissos das autoridades
palestinas de proteger a segurança de Israel.
|
Integrantes do Hamas tomam o escritório do presidente palestino
Mahmoud Abbas, em 2007 |
Mas a continuada agressão entre israelenses e palestinos, os objetivos
autodeclarados do Hamas de se opor à existência de Israel e não
renunciar à violência, e a subsequente retirada de Israel do processo de
paz, puseram as negociações a pique.
Em fevereiro e março de 1996 o Hamas cometeu uma série de atentados
suicidas que causaram a morte de quase 60 israelenses. As ações foram
uma retaliação contra o assassinato um de seus membros em dezembro de
1995.
Meses depois, os israelenses elegeram o linha-dura Binyamin Netanyahu –
um claro oponente dos acordos de Oslo – como primeiro-ministro.
O fracasso dos acordos de Oslo, cujos objetivos não puderam ser
reavivados no encontro de Camp David, em meados do ano 2000, e a segunda
Intifada, iniciada meses depois, deram ao Hamas mais fôlego e
influência.
Quando o grupo chegou ao poder nos territórios palestinos em 2006,
obtendo uma vitória impressionante nas eleições do Conselho Legislativo
Palestino (PLC), a mesa estava posta para disputas com a facção rival,
Fatah, liderada pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
A Autoridade Palestina é formada principalmente por nacionalistas
palestinos seculares que acreditam em um acordo definitivo com Israel
para a criação de dois Estados. Desde a morte do líder da Fatah, Yasser
Arafat, em 2004, a Autoridade Palestina era controlada por Mahmoud
Abbas.
|
Novos ataques de Israel contra o Hamas em Gaza já deixou centenas
de palestinos mortos |
Hamas e Fatah formaram um governo de união nacional em março de 2007. Pouco depois, Abbas dissolveu o governo.
Mas em junho de 2007, confrontos mortais entre as duas facções se
intensificaram. Alegando que forças do Fatah estavam planejando um
golpe, o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza à força. A
Cisjordânia permaneceu sob o controle do Fatah.
Israel e Egito iniciaram um bloqueio às fronteiras de Gaza que permanece em vigor até hoje.
Ataques a Israel
Abbas sempre viu o lançamento de foguetes do Hamas contra Israel como
algo contraproducente, causando relativamente poucos danos a Israel, mas
provocando uma dura resposta por parte dos militares israelenses.
Para tentar eliminar o Hamas, Israel já realizou três grandes ações
militares na região: Operação Chumbo Fundido, em dezembro de 2008, a
Operação Pilar de Defesa, em novembro de 2012, e a Operação Borda de
Proteção, em julho de 2014.
As ofensivas foram precedidas de escaladas na luta transfronteiriça, com
dezenas de ataques com foguetes a partir de Gaza e ataques aéreos
contra a região por parte de Israel.
O Hamas saiu dos conflitos de 2008 e 2012 degradado militarmente, mas
com apoio renovado entre os palestinos em Gaza e na Cisjordânia, por ter
confrontado Israel e sobrevivido.
Apesar das várias operações israelenses, e também das tentativas de
repressão da própria Autoridade Nacional Palestina, o Hamas encontrou
nas ações violentas um efetivo poder de veto sobre o processo de paz.
|
Palestinos celebram breve reconciliação entre Fatah e Hamas, em 2011 |
Primeiro com os atentados suicidas realizados nos anos 1990 e início dos
anos 2000 e, mais recentemente, os lançamentos de foguetes contra
Israel.
Muitos palestinos veem nessas operações uma forma legítima de lutar
contra o que consideram uma opressão israelense. Por isso, o Hamas
sempre se esquivou de assinar um cessar-fogo permanente enquanto Israel
ocupar os territórios palestinos - embora tenha havido momentos mais
calmos na turbulenta história desta relação.
O grupo continuou a lutar sob o bloqueio imposto em conjunto por Israel e
Egito a Gaza, mas ficou mais isolado após se desentender com potências
regionais na esteira da Primavera Árabe.
A derrubada do presidente egípcio, Mohammed Morsi, um aliado-chave, em julho de 2013 foi mais um golpe.
Em abril de 2014, o Hamas concordou com um acordo de reconciliação
Fatah, que levou à formação de um governo de unidade nacional.