quinta-feira, 2 de junho de 2011

Um pepino

Carolina Nogueira

É a nova gripe asiática, só que agora o pânico está instalado no ponto fraco dos franceses: a mesa.
A bactéria E. coli, com 17 mortos e mais de dois mil infectados na vizinha Alemanha, já atingiu pelo menos seis pessoas na França - todos foram tratados e passam bem.
O país - cuja economia ainda é fortemente baseada na agricultura, com quase metade da área ocupada por suas atividades - se divide entre o pânico geral europeu em relação à doença e o medo de um impacto importante na economia.
Nos supermercados e nas feiras, os tomates, pepinos e saladas - apontados como principais vetores da bactéria - fazem a ponta de todas as gôndolas; e estão sendo vendidos por um quarto do preço normal. Ainda assim, as vendas são ridículas: não chegam a um quarto do volume tradicional.
Junte-se a isso a falta de chuvas, que atinge em cheio o continente e compromete a safra de vários produtos. A agricultura europeia está em estado de alerta.
Ontem, pesquisas mostraram que, ao contrário do que ficou celebrado depois da morte de um alemão que comeu um pepino produzido na Espanha, esses legumes não estavam infectados com a mesma bactéria E.coli responsável pelas mortes.
E aí? Basta isso para que todo mundo volte a consumir o tal pepino, que já foi apelidado pelos jornais de "pepino assassino"?
Claro que não. Os produtores do sul da Espanha amargam um prejuízo de 200 milhões de euros por semana - e olha que a epidemia ainda está, segundo a Comissão Européia de Saúde, se alastrando.
"Pela primeira vez na vida, eu bani um alimento da mesa", afirma uma mãe de família ouvida pelo jornal Libération. "Eu nunca tinha feito isso, nem com o escândalo dos ovos infectados por dioxina".
Os restaurantes também sentem o impacto - a explicação é que as pessoas estão, de um modo geral, desconfiadas da comida que têm no prato. Como entre as recomendações das autoridades sanitárias estão o cozimento adequado das carnes e uma higiene adequada dos legumes, vale mais comer em casa e ficar tranquilo.
Que os cientistas encontrem logo a pista para conter a epidemia - e deixem a gente de novo comer em paz.


PS: Carolina Nogueira é jornalista e mora há quatro anos em Paris.

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