segunda-feira, 27 de junho de 2011

Carros terão piloto automático em até dez anos
Consórcio apresentou novas tecnologias em evento na Suécia; intenção é diminuir o número de mortes no trânsito.

Sem as mãos. Condutor precisa se manter
atento à estrada.



Imagine-se voltando da viagem do feriado prolongado de Corpus Christi: trânsito congestionado, cansaço e sonolência. Você aperta um botão e o piloto automático assume a direção durante parte do trajeto. A cena, hoje futurística, será real num período de seis a dez anos, quando tecnologias similares àquelas adotadas pela aviação vão estar disponíveis nos automóveis.
Protótipos de sete veículos automatizados com diferentes funcionalidades foram testados na semana passada na cidade sueca de Boras, vizinha a Gotemburgo. Um consórcio formado por 17 montadoras, fabricantes de autopeças, centros de pesquisas e universidades, com patrocínio da União Europeia, passou três anos e meio trabalhando num projeto para tornar a mobilidade veicular mais segura.
Ao todo, foram investidos 28 milhões no projeto que envolveu quatro automóveis, dois caminhões e um ônibus. Entre as principais conclusões está a de que a máquina comete menos erros que o ser humano. Segundo pesquisas, 90% dos acidentes de trânsito ocorrem por erro do motorista, 30% pelas condições das estradas e 10% por problemas nos veículos. Alguns índices se sobrepõem.
Diante do desafio, o consórcio denominado HAVEit (sigla em inglês para Highly Automated Vehicles for Intelligent Transport ou Veículos Altamente Automatizados para Transporte Inteligente) criou novas tecnologias e juntou-as a outras já existentes para tornar o automóvel mais seguro e mais confortável e, com isso, reduzir o índice de mais de 1,2 milhão de mortes por ano em acidentes de trânsito no mundo. Também foram desenvolvidos sistemas para reduzir emissão de poluentes.
O sistema apresentado pela Volkswagen permite acionar o piloto automático temporariamente em situações de congestionamentos em estradas ou longas distâncias em linha reta, quando o dirigir torna-se monótono.
O motorista tem três opções. Um é acionar um sistema de assistência que informa a distância dos carros da frente e obstáculos e avisa se o motorista ultrapassou a faixa de segurança da pista. Outro é semiautomático, em que o condutor controla o volante, mas não usa os pés para frear ou acelerar o carro. O terceiro é o sistema altamente automático, em que ele tira as mãos do volante e o carro segue o trajeto numa velocidade de até 130 quilômetros por hora.
Responsabilidade. "Não é um carro robotizado, o motorista mantém responsabilidade de condução e está sempre no controle", adverte Jürgen Leohold, diretor executivo do grupo de desenvolvimento da Volkswagen. Ou seja, o sistema ainda não permite que o condutor leia jornal ou durma enquanto o piloto automático estiver acionado. Uma câmara instalada no veículo detecta a distração do condutor e o programa computadorizado chama sua atenção.
Segundo Leohold, o carro totalmente automatizado, que pode percorrer longas distâncias sem intervenção do motorista e pode circular por vias urbanas "é para o futuro mais distante, daqui a uns 20 anos". Já o altamente automatizado pode estar nas ruas em "seis a dez anos", ao menos da Europa. "O custo é muito alto", admite o executivo, sem revelar números.
Um carro sem piloto está sendo testado pelo Google. A Volkswagen apresentou, há quatro anos, uma experiência similar nos Estados Unidos em que o veículo percorreu um trajeto de seis horas sem controle humano. Mas são experiências específicas, com soluções inviáveis para produção em série.
Os sistemas apresentados pelo HAVEit podem ser adotados em veículos de diversos fabricantes. Dos quatro automóveis usados para testes por um grupo de jornalistas na última terça-feira, dois eram Passat Volkswagen e dois sedãs Volvo. Eles têm sistemas similares, mas com aplicações diferenciadas. Também foram apresentados dois caminhões e um ônibus da Volvo, adaptados com tecnologias criadas por empresas como Continental (câmaras e radares), Haldex (freios elétricos), Sick (scanners a laser), Efkon (sistemas de comunicação) e softwares do Centro Espacial da Alemanha (DLR).
As novas tecnologias foram associadas às já disponíveis em alguns veículos, como sistemas que mantêm distância segura do veículo à frente, que avisam se o motorista sai da faixa da rodovia, se está com sono, alcoolizado ou a presença de veículos nas laterais, como forma de evitar o ponto cego.
Para caminhões, o piloto automático pode ser adotado apenas nos congestionamentos. A Volvo Technology desenvolveu um sistema chamado AQuA que, se acionado, controla os movimentos do veículo. Ele para quando necessário e segue o fluxo do tráfego. Quando detecta que o movimento voltou ao normal, avisa o motorista para reassumir o controle.
No caso do ônibus, toda a tecnologia para segurança foi agregada à híbrida, resultando num veículo menos poluente.
Infraestrutura. Desenvolvidos para as estradas europeias, os sistemas precisarão de avanços para rodar em regiões menos desenvolvidas, como estradas brasileiras deterioradas. "Certamente teremos de trabalhar nisso, pois alguns dos sistemas precisam de infraestrutura para funcionar, como as faixas no chão", diz Achim Beutner, especialista em automação da Volvo.
"Somos empresas globais, vemos pela perspectiva europeia, mas precisamos adaptar os projetos a cada realidade", acrescenta Malin Persson, presidente da Volvo Technology. Ela lembra que os países em desenvolvimento apresentam tráfego cada vez mais intenso. "Há diferentes desafios para cada realidade, mas o propósito é único: morte zero no trânsito", diz a executiva.
Para Francisco Ferreira, diretor da Comissão Europeia para a área de transporte, atingir morte zero é idealista, mas "precisamos diminuir os índices o máximo que conseguirmos pois a morte por acidente no trânsito é estúpida".
Em outubro, os membros do HAVEit vão se reunir para debater formas de implementação das novas tecnologias. Ferreira defende ações políticas por país e sugere a redução de impostos para veículos com automação voltada à segurança. A ideia é preparar, no encontro, um plano de adoção dos sistemas de segurança para o período de 2014 a 2020.

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