sábado, 4 de junho de 2011


Josias de Souza

Entrevista de Palocci vale mais pelo que não foi dito.

A entrevista de Antonio Palocci ao ‘Jornal Nacional’ vale pelo não-dito. Longe de esvaiar, as declarações do ministro adensaram a encrenca.
Quanto faturou, ano a ano, a empresa de Palocci? Ele não disse. Os nomes dos clientes? Não informou.
Como que pressentindo a longevidade da crise, Palocci deu outra entrevista, dessa vez à Folha. Cuidou de prover a Dilma Rousseff uma boa desculpa.
O ministro disse que não informou à presidente detalhes sobre o faturamento e as atividades da Projeto, a empresa que o tornou milionário.
"Não entrei em detalhes sobre os nomes dos clientes ou sobre os serviços prestados para cada um deles", disse.
Ficou entendido que, aprofundando-se a confusão, Dilma poderá adotar a fórmula Lula: “Eu não sabia”.
Na TV, Palocci limitou-se a admitir o já sabido. Foi inquirido sobre as verbas que desceram à caixa registradora de sua empresa em 2010.
No total, R$ 20 milhões. Só nos dois últimos meses do ano, época em que Dilma já era presidente eleita, faturou R$ 10 milhões.
Palocci saiu-se com a seguinte explicação: antes de retornar ao governo, encerrou suas atividades de consultoria. Por isso, a clientela antecipou pagamentos.
Como assim? Na versão do ministro, sua empresa geria projetos com validade de até cinco anos. Algumas receitas viriam em seis meses, um ano.
Encerradas as atividades da consultoria de Palocci, os clientes abreviaram, gostosamente, os pagamentos futuros.
Nesse ponto, as “explicações” do ministro não fazem nexo. Ou Palocci trabalhou dia e noite para antecipar serviços futuros ou precisa arranjar outra desculpa.
No mais, Palocci repisou o lero-lero segundo o qual agiu dentro da lei, pagou os tributos e não traficou influência.
Sobre a crise que sua prosperidade injetou no governo, Palocci soou ingênuo:
“Não há crise no governo, há uma questão em relação à minha pessoa. Prefiro assumir plenamente a responabilidade que eu tenho”.
A certa altura, Palocci pediu um crédito de confiança: “Não há coisa mais difícil de provar do que aquilo que você não fez...”
“...Não fiz tráfico de influência, não fiz atuação junto a empresas públicas. Como te provo isso? Tem que existir boa fé nas pessoas”.
O diabo é que o passado de Palocci, o de Ribeirão Preto e o da Brasília de Lula, não o recomenda.

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