Otávio Cabral
Em nome do pai
Filha de Tarso Genro, um dos principais nomes do PT, Luciana Genro sempre se gabou de não precisar se apoiar no pai para fazer política. Em 2001, quando era deputada estadual pelo partido, chegou a levar uma advertência da sigla pela críticas constantes a atuação do pai na prefeitura de Porto Alegre. Três anos mais tarde, já deputada federal, foi expulsa do PT por se opor à reforma da Previdência proposta pelo governo federal no qual Tarso ocupou quatro ministérios. Luciana, então, ajudou a fundar o PSOL, partido marcado pela oposição radical a Lula em Brasília e ao grupo de Tarso no Rio Grande do Sul. No ano passado, o pai se elegeu governador. E a filha não conseguiu nas urnas mais um mandato de deputada. Sem emprego, a estridente Luciana continua uma opositora do pai na política. Mas agora se apóia no prestígio dele para entrar na vida empresarial. Ela montou um cursinho pré-vestibular que funciona em uma escola estadual de Porto Alegre, tendo como financiadora uma seguradora que tem contrato de exclusividade com o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), estatal subordinada a Tarso. Luciana é coordenadora executiva do Emancipa, cursinho que atenderá gratuitamente 100 alunos de escolas públicas. Com o pretexto de auxiliar um projeto filantrópico, a Secretaria da Educação, também subordinada a Tarso, cedeu gratuitamente à ex-deputada duas salas do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, um dos mais tradicionais da cidade. Só que de filantrópico o negócio de Luciana tem muito pouco. A escola é gratuita, mas os professores, e Luciana é um deles, são bem remunerados. No estatuto da fundação, a Emancipa deixa as portas abertas para receber recursos públicos e privados. E já acertou cinco cotas de financiamento com empresas gaúchas, que renderão ao empreendimento ao menos 500.000 reais por ano. Uma das cotas é da seguradora Icatu, que detém o monopólio de todos os seguros vendidos pelo Banrisul. Essa exclusividade existe desde 1995, quando o governador era Antônio Britto, e foi renovada sem licitação pelos governos seguintes. Tarso, crítico histórico do monopólio, até o momento nada fez para mudar a situação. Luciana, que também denunciava a suposta ilegalidade do contrato, agora o encara com um silêncio atípico. O dinheiro arrecadado das empresas servirá para financiar o material escolar dos alunos e o salário dos professores, Luciana dará aulas de inglês. Também bancará o site do curso, que é desenvolvido por uma agência que fez a campanha de Tarso no ano passado. Luciana segue buscando mais cinco patrocinadores para completar a receita anual de um milhão de reais. A filha do governador gaúcho não se beneficiará apenas financeiramente dos favores prestado a ela por subordinados do pai. Também tem o objetivo político de transformar o cursinho para jovens carentes em bandeira de sua campanha a vereadora no ano que vem, e os alunos em potenciais cabos eleitorais gratuitos. Um negócio de pai para filha.
Luciana Genro nasceu em Santa Maria, em 17 de janeiro de 1971. Fundadora do PSOL e integrante de sua Executiva Nacional, começou a militar aos 14 anos, atuando logo depois como liderança estudantil no colégio Júlio de Castilhos. Foi eleita deputada estadual pelo PT em 1994, aos 23 anos. Em 1998, foi reeleita com o dobro dos votos. Em 2002, foi eleita deputada federal com cem mil votos e, em 2006, já pelo PSOL, com mais de 185 mil. Posicionou-se contra o governo Lula no parlamento e acabou sendo expulsa do PT em dezembro de 2003. Deste enfrentamento surgiu o PSOL, fundado em junho de 2004.
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