
Quando o julgamento chega, os réus já estão a salvo.
O mensalão, escândalo de 2005, é mais um desses casos em que o crime está do lado e a Justiça mora longe.
Dentro de escassos cinco meses, as acusações do processo que corre no Supremo Tribunal Federal começam a ser recobertas pelo pó da prescrição.
O primeiro crime a prescrever, em agosto, será o de "formação de quadrilha".
Entre todos os delitos mencionados nos autos, esse é o principal. Há no banco de réus do Supremo 38 pessoas.
Desse total, nada menos que 22 foram enquadrados por "formação de quadrilha". Entre eles José Dirceu, o “chefe” segundo o Ministério Público.
Prescrição de crime de "quadrilha" esvazia processo do mensalão
O processo de desmantelamento do esquema conhecido como mensalão federal (2005), a pior crise política do governo Lula, já tem data para começar: será a partir da última semana de agosto, quando vai prescrever o crime de formação de quadrilha. O crime, citado por mais de 50 vezes na denúncia do Ministério Público - que foi aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF) -, é visto como uma espécie de "ação central" do esquema, mas desaparecerá sem que nenhum dos mensaleiros tenha sido julgado. Entre os 38 réus do processo, 22 respondem por formação de quadrilha.
Apontado pelo Ministério Público como o "chefe" do esquema, o ex-ministro José Dirceu parece estar mais próximo da absolvição.
O primeiro sinal político concreto em prol da contestação do processo do mensalão foi dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao deixar o governo, ele disse que sua principal missão, a partir de janeiro de 2011, seria mostrar que o mensalão "é uma farsa". E nessa trilha, lentamente, réus que aguardam o julgamento estão recuperando forças políticas, ocupando cargos importantes na Esplanada.
A pergunta foi feita também a outros candidatos à vaga. Até o julgamento do processo, a presidenta Dilma Rousseff deverá indicar mais dois integrantes da Corte. Nas novas definições, disseram integrantes do governo, haverá a mesma preocupação com o julgamento.
Um dos ministros do Supremo lembra que o ex-ministro Francisco Rezek se declarou não apto a participar do julgamento no STF do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Rezek fora nomeado ministro de Relações Exteriores no governo Collor e depois voltou ao Supremo, indicado também por Collor. Por isso, achava que não teria isenção para julgar o caso.

Ao terminar seu voto, o que deve fazer até o final do ano ou no início de 2012, Barbosa repassará todo esse volume de informações para o colega que está incumbido de revisar o caso, o ministro Ricardo Lewandowski. O ministro terá igualmente de ler todos esses documentos para preparar um voto revisor.
Com isso, o processo estaria pronto para ser colocado em pauta no segundo semestre de 2012. Porém, não seria prudente o STF julgar neste período uma ação com potencial para interferir na eleição municipal. O julgamento ficaria para 2013, oito anos depois de descoberto o mensalão.
Dirceu deve escapar de condenação por corrupção, também.
As principais "conspirações" contra o processo do mensalão:
1- Quadrilha: prescrição
O crime de formação de quadrilha, a acusação que é a espinha dorsal do esquema do mensalão, prescreve em agosto. Dos 38 réus que continuam a responder ao processo, 22 respondem também por esse crime. O ex-ministro José Dirceu não poderá mais ser acusado de chefiar a quadrilha.
2- Mais duas indicações
Nas últimas indicações para o STF, o ex-presidente Lula demonstrou preocupação especial com o julgamento do mensalão. Antes de ser indicado, Luiz Fux, por exemplo, foi questionado por um integrante do governo como votaria no julgamento. Até o final de 2012, a presidenta deve indicar mais dois ministros.
3- Toffoli quer julgar
Antes de chegar ao STF, o ministro José Antonio Dias Toffoli advogou para o PT, foi da liderança do PT na Câmara e na Casa Civil era hierarquicamente subordinado a José Dirceu. Mesmo assim, ele deve participar do julgamento. Seus colegas de tribunal, reservadamente, têm criticado essa postura.
4- O renascimento
Réus do processo passaram a ocupar postos altos nas estruturas dos poderes. João Paulo Cunha (PT-SP) foi eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. José Genoino foi nomeado assessor especial no Ministério da Defesa, comandado por Nelson Jobim, ex-presidente do STF.
Afastado do PT desde 2005, quando foi acusado de intermediar o pagamento de mesada aos parlamentares, o ex-tesoureiro Delúbio Soares articula seu retorno ao partido e já tem votos suficientes para isso. O mesmo caminho deve seguir Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT.
6- Período eleitoral
Dificilmente o Supremo julgará o processo do mensalão durante as eleições municipais de 2012. Ministros do Supremo Tribunal disseram que isso seria visto como uma interferência indireta no processo eleitoral.
7- Provas frágeis
Ministros do STF consideram praticamente impossível que o Ministério Público obtenha provas concretas da prática de todos os crimes denunciados. Sem essa comprovação cabal, eles adiantam que não terão como condenar os réus.
8- Ausência e atraso
Ao contrário do seu antecessor, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não tem dado atenção especial para o processo. Sem esse acompanhamento, alguns pedidos de diligência acabaram por atrasar a conclusão do processo.
9- Seis anos depois
O processo do mensalão deve ser julgado apenas em 2013 pelo STF, seis anos após o recebimento da denúncia. Assim como ocorreu com o caso Collor, até a data do julgamento, o escândalo já estava praticamente diluído na opinião pública.
O deputado José Janene (PP-PR) morreu e, por isso, foi excluído da ação.
O ex-secretário geral do PT Sílvio Pereira fechou um acordo para cumprir pena alternativa e também não responde mais à ação.
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