Justiça investiga patrimônio do sindicalista peronista Moyano
O presidente da Confederação-Geral dos Trabalhadores (CGT) da Argentina, Hugo Moyano, construiu de 2003 até hoje um império empresarial de lucro milionário graças a contratos exclusivos com o Sindicato dos Caminhoneiros do país. Por esse motivo, seu patrimônio e o da família dele estão sendo investigados pela Justiça federal argentina. A apuração foi iniciada quando o promotor Patricio Evers solicitou uma prorrogação de duas semanas para a investigação de uma denúncia de fraude contra o Estado envolvendo o sindicato, agregando a ela uma acusação de possível administração fraudulenta. O pedido teve como base a denúncia da ex-ministra da Saúde, Graciela Ocaña, à qual o Clarín teve acesso, em que são revelados pela primeira vez os balanços contábeis ano a ano das bem-sucedidas parcerias registradas com pouca sutileza no nome de parentes diretos do líder sindical que, em todos os casos, fazem crescer seu negócio graças aos recursos da associação mutuária. A terceira e atual mulher de Moyano chama-se Liliana Zulet e ele mesmo reconheceu em entrevista ao jornal Crítica que ela "é a coordenadora do sindicato". Na mesma reportagem, de março de 2008, o sindicalista disse que sua renda era composta pelo salário que recebia como presidente dos sindicatos dos caminhoneiros e dos motoristas. "Devo receber entre 8,5 mil e 9 mil pesos mensais (cerca de R$ 3,5 mil)", afirmou. É possível que o reajuste dos salários já tenha dobrado esse valor. Outro detalhe conhecido é que as quatro empresas em nome de seus parentes faturaram juntas cerca de 20 milhões de pesos nos últimos 6 anos, segundo registros contábeis reunidos pela ministra.
Propriedades usadas pessoalmente por Moyano estão também registradas em nome dessas empresas. O Clarín foi a um endereço que a filha de Liliana, Valeria Salerno, registrou como seu domicílio quando se inscreveu como sócia da Iarai S.A. Essa empresa é administrada pela mulher de Moyano. A Conducir Salud, administradora do sindicato dos caminhoneiros pertence à Iarai. Mas, de acordo com os registros do cartório de notas, o imóvel está no nome de Eva Irma Moyano e do marido dela. O 9.º andar do mesmo prédio pertence à Aconra S. A., construtora criada em 2004 cuja presidência foi assumida pela filha de Liliana em 2007. O balanço de seu primeiro ano de gestão viu um aumento de 70% (17 milhões de pesos) no faturamento, obtido por meio de obras construídas para o sindicato dos caminhoneiros. Para financiar suas operações, a Aconra recorreu ao crédito da Iarai. Esses cruzamentos entre débito e crédito se dão em todas as sociedades do conglomerado da família. O caminho que associa Moyano às residências e às empresas leva também a Parque Leloir, cidade da região de Buenos Aires. O sindicalista mora em Barracas, na capital argentina, mas costuma visitar uma casa de campo em um endereço comprado em 2004 pela Dixey, uma provedora de serviços de informática associada ao clã. Chama a atenção que no balanço da sociedade de 2006 seja mencionado que o espaço seria usado para abrigar seus escritórios. O endereço, visitado pelo Clarín, é uma bela residência quase do tamanho de um quarteirão localizada num bairro cheio de chácaras. Luisa Carpanessi, vereadora de Ituzaingó eleita pela Coalizão Cívica, confirmou que os moradores de Parque Leloir comentam que Moyano usa a casa: "Ele ergueu um muro de quase três metros, transformando-a numa fortaleza. E isso destoa das imediações, pois se trata de um bairro residencial, de muito verde", explicou ela. Liliana Zulet registrou seu domicílio particular na mesma região quando assumiu a diretoria da Dixey. Trata-se de uma imensa casa de campo em Udaondo. A lista telefônica diz que ali funciona também a Aconra. Na terça feira, depois de apresentar uma denúncia de "fraude processual" após o pedido suíço, o advogado de Moyano, Daniel Llermanos, conversou com a rádio Continental. Perguntaram a ele se não era contraditório o fato de Moyano ter criticado os sindicalistas da década de 90 por serem milionários enquanto ele próprio havia enriquecido. "O que ele questionava eram os sindicatos pobres presididos por sindicalistas ricos; o sindicato dos caminhoneiros é riquíssimo", respondeu.
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