segunda-feira, 21 de março de 2011

Universidade gaúcha apura abuso após calouro ter coma alcoólico.
Estudante de ciências da computação bebeu meio litro de cachaça durante trote.
Universidade cogita punir envolvidos

A reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) se reuniu para analisar o caso do estudante que foi levado ao hospital, em coma alcoólico, durante um trote do curso de Ciências da Computação na última sexta-feira (18/03). Sem informar se adotará medidas, a reitoria da UFRGS disse condenar abusos nas recepções aos calouros. A diretoria da faculdade deve se reunir com os alunos envolvidos no trote para buscar mais informações.
O reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Carlos Alexandre Netto, emitiu uma nota oficial:
"A Universidade Federal do Rio Grande do Sul está atenta às atividades desenvolvidas em suas diferentes Unidades durante a recepção de seus novos alunos. Certa de que é de extrema importância coibir todo tipo de atitude que possa representar abusos em forma de violência, tanto física como psicológica, bem como aquelas que desrespeitem a vida e a dignidade humana, a UFRGS regulamenta o trote através da Decisão 02/2001, de 26 de janeiro de 2001, na qual, entre outros itens, estabelece:
- A UFRGS reconhece o trote como um ritual de iniciação às atividades universitárias, desde que expresse tanto a alegria dos novos alunos, quanto a satisfação da instituição em ver-se renovada pelos novos ingressantes.
- Cada Unidade Acadêmica (Escolas, Faculdades e Institutos) deverá constituir uma comissão encarregada da recepção e integração dos calouros à Universidade com participação da direção, entidades representativas dos estudantes e representantes dos servidores docentes e técnico-administrativos.
- A Universidade determina que os responsáveis por eventuais abusos cometidos não fiquem impunes e sofram, conforme o grau de participação, as sanções previstas no Art. 185 do Regimento Geral da Universidade (advertência, suspensão e exclusão); no Estatuto da Criança e do Adolescente, e no Código Penal Brasileiro, conforme o caso."

Carlos Alexandre Netto


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O calouro do curso de Ciências da Computação, Felipe Boff Molski, 18 anos, ficou inconsciente depois de ingerir cachaça durante o trote ocorrido na tarde de sexta-feira (18/03), fora da universidade, no Parque da Redenção. Uma das atividades da recepção consistia em uma competição para ver qual estudante bebia a maior quantidade de cachaça.
Em uma comunidade de estudantes da UFRGS no Orkut, veteranos que participaram do trote e o próprio Felipe comentaram o caso. Ele teria ingerido cerca de meio litro da bebida e desmaiou. Os alunos chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que teria se negado a atender o aluno, pois estava alcoolizado.
Felipe foi levado ao Hospital de Pronto Socorro (HPS) por familiares e veteranos do curso e liberado ainda na sexta-feira (18/03).
Familiares do jovem acusam Brigada Militar e Samu de negligência no socorro.
O estudante do curso de Ciência da Computação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Felipe Boff Molski, 18 anos, entrou em coma no início da tarde de sexta-feira (18/03) após a realização de trote por alunos veteranos, em Porto Alegre. Segundo a tia do jovem, Terezinha Evaldt, a família teria sido acionada por volta das 16h e localizou o rapaz no Parque da Redenção.
A irmã, Cristiane Boff Molski,e o avô José Fernandes Boff, viajaram de Viamão a Porto Alegre em busca de Felipe, que foi encontrado caído próximo ao Monumento do Expedicionário. Os familiares decidiram pedir ajuda à Brigada Militar e ao Samu, que se recusaram a transportá-lo ao HPS.
— Felipe é tímido, tranquilo, não bebe. Quando a gente faz festinha nos aniversários, ele toma refrigerante, não usa droga, não sabemos o que tá acontecendo — afirmou Cristiane.
Após uma série de exames no Instituto Médico Legal, foram detectadas diversas lesões no corpo do estudante. A avaliação médica revelou que não havia teor alcoólico no sangue. De acordo com relatos de colegas, eles teriam bebido cachaça durante o trote da faculdade.
Felipe Boff Molski atribuiu o caso a uma irresponsabilidade pessoal. “Só bebo em festas e aquilo foi na empolgação do momento. Irresponsabilidade sim, mico nem se fala”, escreveu [ Orkut ].
Demorou quatro horas para ele ser atendido
Após a alta recebida no Hospital de Pronto Socorro (HPS), em Porto Alegre, o estudante Felipe Boff Molski, de 18 anos, se recupera do coma na casa dos pais, em Viamão. A família, que o resgatou desacordado no Parque da Redenção, na companhia de cerca de outros dez estudantes, tenta entender por que ele só foi levado ao hospital quatro horas depois de desmaiar.
Segundo sua irmã Cristiane Molski, um segundo exame realizado durante a madrugada teria acusado bebida alcoólica no sangue do rapaz. Felipe foi internado após sofrer trote de estudantes universitários veteranos do curso de Ciência da Computação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
– O primeiro exame feito no HPS deu o resultado "intoxicação e hipotermia". Só depois foi constatado que ele ingeriu álcool. A perícia esteve lá e fizeram exames para saber se colocaram algo na bebida, o quanto ele bebeu. O resultado oficial sairá esta semana. Queremos saber por que a Samu não socorreu, por que não levaram ele logo para o hospital, porque não ligaram logo para a família – diz Cristiane.
O estudante do terceiro semestre, Cássio de Abreu Ramos, 21 anos, um dos veteranos que aplicou o trote em Felipe, diz que o grupo não levou o jovem logo para o hospital por aconselhamento dos guardas.
– Eles disseram que era melhor esperar a família. Além disso sempre tinha gente cuidando ele, não foi como disseram por aí que ele estava sozinho quando a família chegou – disse o veterano, alegando não ter estado presente especialmente neste dia.
Conforme o estudante, quem teve a iniciativa de beber foi o próprio bixo.
– Ele quis ser o que bixo que bebe mais, o chamado "bicho-alambique". É uma brincadeira que a gente faz todos os anos, e nunca deu problema. A gente ainda vai discutir isso depois, ninguém esperava a repercussão. Nunca tivemos problema com isso – explicou Cássio.
A mãe de Felipe, Maria Boff Molski, afirmou que ele consumiu bebida alcóolica em excesso por livre e espontânea vontade e acredita que a atitude exagerada pode ter sido resultado da empolgação pelo ingresso na universidade. Ela não pretende buscar responsáveis pelo que ocorreu com o filho em sua estreia na universidade.
Em nota, a reitoria da UFRGS disse que condena “todo tipo de atitude que possa representar abusos em forma de violência, tanto física como psicológica, bem como aquelas que desrespeitem a vida e a dignidade humana”. Sem informar que medidas serão tomadas no caso, a universidade afirmou que uma norma interna de 2001 determina que os responsáveis por eventuais abusos sejam punidos.
Segundo o vice-diretor do Instituto de Informática da UFRGS, Luís Carlos Lamb, haveria uma reunião com os alunos envolvidos. “Eu não organizaria uma atividade deste teor. Nas dependências da universidade, não é permitido o consumo de bebida alcoólica”, destaca o professor.
Ele explica que, a cada semestre, os alunos são orientados a não cometerem excessos durante os trotes. Depois de se reunir com os estudantes, a direção analisará se tomará alguma medida. “Vamos conversar com eles novamente sobre as normas existentes e levantar dados para descobrir se houve alguma atitude além do civilizado”, informa Lamb.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) defende a instalação de uma sindicância para apurar responsabilidades e procurará saber se a universidade tomará medidas concretas. “Não há tradição de trotes violentos na UFRGS, mas abusos como consumo de álcool e outras humilhações acontecem e devem ser coibidos”, afirma o estudante Rodolfo Mohr, um dos coordenadores da entidade.

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