sexta-feira, 15 de abril de 2011

O texto abaixo não é a reprodução da Nota Oficial do Serviço de Imprensa do Palácio do Planalto sobre a presença da procuradora Paula Rousseff Araújo na comitiva da presidente Dilma Rousseff – mas poderia ser.
Sim, Paula pode
Só a falta de um motivo mais consistente para atacar a presidente Dilma Rousseff explica as críticas à presença de sua filha, Paula, na comitiva que está na China. Dizer que Paula foi à China fazer turismo com dinheiro público, como têm dito os detratores da presidente, é uma mistura de má-fé, preconceito e gosto pela picuinha. Ninguém questiona um presidente homem quando leva a primeira-dama numa viagem oficial. Por que Dilma, uma mulher divorciada, não pode viajar com a filha, que na posse desfilou com ela em carro aberto?
Paula é procuradora do Ministério Público do Trabalho. Entrou lá por seus méritos, ao ser aprovada em concurso público, muito antes de a mãe sequer sonhar em ser presidente da República. Ganha um bom salário e não precisa de carona para fazer turismo. Pode ir à China todos os anos, com marido, filho e babá, sem que isso desestruture o orçamento familiar. Acompanhar a mãe é até um sacrifício pessoal para quem tem um bebê de sete meses e que se separa do filho pela primeira vez por tão longo período.
Não deixa de ser também um gesto simpático de Dilma para com os anfitriões mandar a filha visitar a Grande Muralha, um monumento que normalmente os chefes de Estado e de governo incluem na agenda das viagens ao país. No futuro, Paula poderá até cumprir tarefas acessórias em visitas oficiais, como fez Michelle Obama no Brasil enquanto o marido se encontrava com a presidente.
A propósito da visita de Obama e de sua comitiva, o que diria o moralismo brasileiro se Dilma fosse aos Estados Unidos com a mãe, a filha, o neto, a tia e a madrinha de Gabriel? Pois Obama trouxe a mulher, as filhas, a sogra e a madrinha de uma das meninas, sem contar o exército de serviçais.
Paula poderia ser criticada se estivesse matando o trabalho e recebendo tratamento diferenciado por ser filha da presidente. Não está. O Ministério Público do Trabalho informa que ela está usufruindo de licença-prêmio, como qualquer servidor público.

O mais notável é que a nota é da editora de Política do jornal Zero Hora e portanto reflete a posição da RBS.
  • Página 10 - Coluna: Rosane de Oliveira - jornal Zero Hora 14-04-2011
A rendição editorial do Grupo RBS aos interesses do Palácio do Planalto e em menor escala aos interesses do Palácio Piratini, chega a ser assombrosa. A nota de Zero Hora tenta demonstrar que a procuradora Paula Rousseff Araújo é um sucesso profissional e mãe exemplar, impondo-se, neste caso da viagem à China, um sacrifício pessoal incomensurável em benefício da Pátria Brasileira. Zero Hora só falta dizer que somente anti-patriotas juramentados não reconhecem isto.

O Ministério Público do Trabalho apressou-se em informar que Paula Rousseff Araújo goza de licença neste momento. Ora, se é pacífica legalmente a presença da procuradora na comitiva de Dilma Rousseff, a explicação seria desnecessária. Não é incomum que filhas, maridos ou mães, exerçam o papel de primeira-dama ou primeiro-damo, mas parece inadmissível que isto seja feito apenas quando for do interesse do governante. No caso de Paula Rousseff Araújo, o que despertou a curiosidade foi exatamente esta circunstância e também o fato de que o nome da filha de Dilma Rousseff não constou de nenhuma lista oficial disponível por ocasião do embarque.

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