segunda-feira, 11 de abril de 2011

100 dias do governo Tarso Genro

Durante a campanha eleitoral de 2010, o então candidato petista Tarso Genro veio a público propondo um governo de diálogo, de coalizão, sem conflitos. Poupou adversários em seus programas, dedicou-se a ser propositivo e até escondeu a estrela do PT. Tudo destinado a apagar a péssima impressão deixada por Olívio Dutra quando de sua passagem pelo Piratini. Em outubro, as urnas decretaram:
Tarso - 54,35%
Fogaça - 24,74%
Yeda - 18,70%
Tarso Genro foi eleito com ampla maioria de votos. Durante a transição, procurou trabalhar de forma a agradar todos os lados. Propôs conversar com a oposição (que ficou com 16 deputados de fato: 5 do PSDB, 8 do PMDB, 2 do PPS e 1 do DEM), costurou uma ampla base aliada na Assembleia Legislativa (32 deputados, sendo 14 do PT, 7 do PDT, 1 do PCdoB, 1 do PRB, 3 do PSB e 6 do PTB) e quase atraiu o PP para seu governo (com 7 deputados, hoje o PP vive um conflito entre ser oposição ou ser base). A base foi toda acomodada em seu secretariado, que priorizou o PT (13 secretarias), mas abriu espaço com pastas importantes para os aliados, como a Saúde (PDT), Obras Públicas (PTB), Meio Ambiente (PCdoB) e Infra-Estrutura (PSB).
O novo governador recebeu de Yeda Crusius um Estado com finanças arrumadas, obras a pleno vapor e grande capacidade de investimento. Tarso fez de tudo para que seu governo ficasse longe de ser um "Olívio II": abriu diálogo com empresários, agricultores e sindicalistas, todos bem acomodados no Conselhão. Tudo parecia marchar para um governo sem grandes novidades ou surpresas.
Mas, como se sabe, de tédio não se morre no Rio Grande do Sul.
Passados 100 dias, o governo de Tarso Genro tem mostrado que o discurso de coalizão ficou só na promessa e ainda demonstra sinais claros de que o governo Olívio ainda é referência para certos atos de Estado. Não que Tarso vá mandar uma Ford embora, ao contrário. Ele tem sido benevolente ao distribuir renúncias fiscais para todos: a Braskem, por exemplo, recebeu recentemente a notícia de que terá incentivos na ordem de R$ 300 milhões. O PT mostra sua marca através dessas contradições insanáveis, que se corporificam também através do empreguismo, do aumento da gastança pública, das vendetas políticas e da leniência com desvios de conduta e corrupção.

Vendetas
A começar pelos três diretores do Irga, nomeados por Yeda Crusius, que sofreram perseguição de Tarso. Eles foram impedidos de tomar posse. O mesmo aconteceu a Vicente Britto, nomeado para o Conselho da Agergs. Tarso foi derrotado nos dois casos. O TJ-RS decidiu que eles devem ser empossados.

Gastança
A gastança tem sido livre no governo Tarso. Apesar do secretário da Fazenda Odir Tonollier ter dito em janeiro que o Estado estava em crise e que não existiu nunca o déficit zero, o Executivo criou mais de 500 cargos em confiança. Uma despesa total que ultrapassa os R$ 100 milhões. Em janeiro, Tarso convocou os deputados para votar projetos que criavam 500 cargos em comissão e efetivos, aumentando além disto os salários dos diretores de fundações e autarquias. Tudo foi aprovado sem nenhuma dificuldade. Agora em em fevereiro, um pacotão de gastança foi enviado à Assembléia com mais de vinte projetos, vários deles criando novos órgãos públicos, cargos e salários. Tudo em regime de urgência. Aprovados todos os projetos, graças à ampla base de governo.
O governo também tem concedido aumentos salariais para categorias de servidores sabendo que não terá como pagá-los.
  • Nada sobre cortes de despesas e aumento da receita.
  • O desequilíbrio fiscal é um rombo que aumenta a cada dia.
  • O governo demonstra que não sabe governar o governo.

Atrapalhações

Alguns fatos curiosos marcaram os cem dias de governo Tarso. Como em janeiro, que descobriu-se que o major Fábio Duarte Domingues foi nomeado para a subchefia de operações da Casa Militar. Ele foi araponga do PT durante a CPI do Detran, flagrado vasculhando o Sistema de Consultas Integradas. Em fevereiro, um motorista de Tarso tentou atropelar guardas municipais ao tentar fugir de uma blitz em São Leopoldo. Além disso, alguns secretários de Tarso estão enrolados na Justiça, como Stela Farias (Administração), acusada no caso do Banco Santos; Cláudio Pereira, presidente do Irga (condenado em Santa Vitória do Palmar); Mauro Knijnik (Desenvolvimento), enrolado com o Opportunity Fund; e Luiz Fernando Mainardi (Agricultura), que responde a dez processos em Bagé. Agora, surge a informação de que a Polícia Civil retomou um expediente olivista: a Press Police, para "garantir isonomia na cobertura dos eventos policiais por parte da imprensa". É de se imaginar o que a mídia e os deputados petistas fariam se isso acontecesse durante os governos Rigotto e Yeda.

Além de tudo, dois incidentes foram marcantes nos primeiros cem dias do govrno Tarso:
1) o caso da escolinha de Luciana Genro, que seria instalada no Colégio Júlio de Castilhos (estadual) e financiada por grandes empresas, como a Icatu Seguros, que tem contratos com o Banrisul, os quais foram feitos quando Túlio Zamin deu expediente no banco durante o governo Olívio. Zamin voltou ao Banrisul por ordens de Tarso. O cursinho de Luciana, com claro viés ideológico, acabou abortado no Julinho e foi para as instalações da Escola Superior do Ministério Público, que é administrada pela Associação do Ministério Público, cujo presidente licenciado é Marcelo Dornelles, subprocurador do MP da chapa de Eduardo de Lima Viega, escolhido o novo procurador-geral de Justiça por Tarso Genro.

2) As denúncias de corrupção no DAER, que provocaram diferentes reações do governo. Primeiro, tratou-se de culpar os governos anteriores e até o PT anunciou que poderia apoiar a CPI dos Pardais, proposta pelo deputado pedetista Dr. Baségio. Alguns dias depois, no entanto, a coisa mudou. Beto Albuquerque, secretário de Infra-Estrutura, foi fritado em público pelo PT. Ele anunciou mudanças no DAER, com a criação de um órgão para gerir a fiscalização das rodovias. Depois, foi desautorizado pelo Chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, que anunciou uma força-tarefa para fazer uma varredura no departamento. Com isso, o PT passou a minar a CPI, até acabá-la de vez. Tentou-se até colocar deputados na força-tarefa, o que foi rejeitado pela Assembleia Legislativa gaúcha. Além da prisão de um graduado funcionário nomeado pelo governo Tarso, o engenheiro Paulo Aguiar, do Daer, o Piratini também teve que dar explicações sobre os indiciamentos de dois outros ocupantes do governo, por decisão da Polícia Federal: o secretário Mauro Knijnik e o sub do Escritório de Representação em Brasília.
A oposição vem procurando marcar presença, atacando os desmandos do governo Tarso.
PMDB, PSDB, DEM e PPS procuram manter um discurso afinado e são voz ativa na Assembleia Legislativa. Contudo, as dificuldades são muitas, especialmente pela desvantagem numérica, incapaz de fazer frente à base governista. O PP, que quase entrou para o governo, agora está numa gangorra, por vezes tendendo a ser governo e em outras a ser oposição.
A oposição promete brigar até o fim.
Os cem dias de governo Tarso já mostram que o discurso de campanha, como sempre para os petistas, ficou só no papel.

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