Josias de Souza

O encontro amistoso de dois personagens deu à História uma aparência de viaduto ligando o inacreditável ao inimaginável.
Confraternizaram-se no plenário do Senado o ex-cara-pintada Lindberg Farias e o ex-presidente Fernando Collor.
Inimigo de Collor no verbete da enciclopédia que trata do impeachment, Lindberg é, hoje, cúmplice de governismo do ex-desafeto.
Felizes apoiadores do governo petista de Dilma Rousseff, os neocompanheiros foram ao plenário para votar a favor da tetrapresidência de José Sarney.
Observaram-se à distância por mais de duas horas. Só depois de encerrada a sessão, com o entorno já esvaziado, achegaram-se um ao outro.

"Aquele foi um momento da história do país. Ele foi gentil comigo, apertou minha mão", disse Lindberg aos repórteres.
Uma casualidade proveu assunto para um diálogo improvável. A ex-moralidade e o ex-aético conversaram sobre a comissão de Infraestrutura do Senado.
Lindberg é candidato a presidente da comissão. Se prevalecer, irá a uma cadeira que, até dezembro, era ocupada por Collor.
"Ele disse que, se eu for sucedê-lo na comissão, vai passar tudo para mim", festejou Lindberg.
Compelidas pelas circunstâncias a reescrever os livros, a ex-ética e a ex-imoralidade dão à História um formato de lenda.
No final da fábula, numa evidência de que o tempo é mesmo Senhor da razão, todos vivem felizes para sempre.
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Aécio faz as vezes de mãezinha de Itamar no Senado
De volta ao Senado, Itamar Franco (PPS-MG) foi abordado pela repórter Cynara Menezes.
Ela disse: a abertura do Ano Legislativo parece primeiro dia de aula.
E Itamar: “É, mas aqui não tem mãezinha puxando a gente pelo braço...”

Na eleição, o grão-tucano Aécio Neves foi um pai para Itamar. Carregou-o nos ombros.
No Senado, ampara-o como uma "mãezinha" faria com o rebento.
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A Assembléia Legislativa de São Paulo opera com dois organogramas –um oficial e outro paralelo.
No oficial, a casa de leis do maior e mais “desenvolvido” Estado da federação possui oito diretorias.
No paralelo, encontram-se abrigadas na folha de pagamento 70 pessoas apelidadas de “diretores”.
Somados, os "diretores" oficiais e os paralelos custam às arcas estaduais algo como R$ 8 milhões anuais.
Os contracheques variam de R$ 6.921 a R$ 16 mil. As cifras incluem gratificações que oscilam de R$ 3.172 a R$ 8.696.
Ostenta o título de “diretor”, por exemplo, o zelador das máquinas de Xerox. Ou, na nomenclatura da Assembléia, serviço de “fotomicrografia”.
Dedica-se a "executar extração de cópias de documentos e papeis em geral" e "zelar pela boa conservação e utilização dos equipamentos".
Há também o “diretor” de garagem. Na terminologia da Assembléia: setor de ”controle de frota”.
Cuida, entre outras atividades, de "manter o registro" e "providenciar a regularização da documentação dos veículos".
Os “diretores”, por abundantes, às vezes executam tarefas que se sobrepõem umas às outras.
Tem o “diretor” da divisão "protocolo geral e arquivo", o do serviço de "protocolo geral" e também o do setor de "arquivo".
Acima –ou ao lado— do “diretor” de garagem há o de transportes, a quem cabe "planejar, coordenar, dirigir, controlar e avaliar as atividades” da área.
Acha muito? Pois existe também um “diretor” para o serviço de “manutenção e reparo” da frota.
Faz o quê? Ora, cuida da "manutenção e reparo" da frota. E zela pelo bom estado de “equipamentos e ferramentas”.
Instada a explicar-se sobre o congestionamento de “diretores”, a direção da Assembléia complicou-se.
Em nota, informou que a Casa não tem senão oito diretorias. A profusão de diretores "limita-se apenas e tão somente à nomenclatura oficial".
Como assim? "Na prática, existem oito diretores, 24 gerentes e 36 chefes de seção".
Se “na prática” é assim, por que na realidade é assado? Bem, a Assembléia esclareceu que já dispõe de um estudo saneador.
Planeja "adequar a nomenclatura à prática funcional". Coisa prometida para março.
No mais, o texto anota que, consirando-se o custo por habitante, a "Assembleia [de São Paulo é a] mais barata do Brasil."
Atribui-se a De Gaulle um comentário mordaz sobre a França: “É absolutamente impossível governar um país com 452 espécies de queijo”.
Bobagem. Difícil mesmo é governar um país como o Brasil, com infinitos tipos de de roedore$.
Ex-cara-pintada, Lindberg reencontra Collor no Senado

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