Segundo o jornal português Público,
inquérito em Portugal visa 'pessoas próximas' a Lula — pagamentos vindos
de construtoras como a Andrade Gutierrez teriam aberto as portas para
que um acordo entre a Oi e a Portugal Telecom fosse autorizado pelo
Brasil e pelas agências reguladoras
A Polícia de Portugal está investigando pessoas próximas ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem como a ex-governantes e
gestores brasileiros e portugueses, num inquérito relacionado ao negócio
fechado entre a operadora Oi e a Portugal Telecom (PT) em 2010. As
revelações foram publicadas na segunda-feira (02.nov.2015) pelo jornal
português Público e confirmadas pelas autoridades policiais do país
europeu.
A suspeita é de que pagamentos teriam aberto as portas para que o acordo
tivesse a autorização necessária da parte do estado brasileiro e
agências reguladoras. O dinheiro para essa autorização teria vindo de
construtoras brasileiras, numa forma de quitar uma dívida que existia
entre essas empresas e a Portugal Telecom, avaliado na época em 1,2
bilhão de euros.
O Ministério Público português confirmou que existem duas investigações
ocorrendo em paralelo e que a cooperação com o MP brasileiro tem sido
"constante". Segundo o jornal, existe a suspeita de "pagamentos de
várias dezenas de milhões de euros ao universo restrito do ex-presidente
da República Lula da Silva, bem como a ex-governantes e gestores
brasileiros e portugueses."
O dinheiro teria vindo de empresas como a construtora Andrade Gutierrez,
"através de territórios como Angola e Venezuela." O presidente da
Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, é réu na Operação Lava Jato e é
considerado um dos homens que permitiu o acordo entre a Portugal Telecom
e a Oi, numa negociação que começou em 2007. A partir de agora, as
autoridades dos dois países tentam estabelecer uma conexão a partir dos
e-mails apreendidos, além de depoimentos e escutas telefônicas.
Segundo o jornal Público, o inquérito afeta "a abrangência dos contatos
que se estabeleceram entre os círculos próximos do ex-presidente do
Brasil Luiz Inácio Lula da Silva e os do ex-primeiro-ministro José
Sócrates."
Em janeiro, a polícia portuguesa realizou uma operação na sede da
Portugal Telecom em Lisboa, com o objetivo de colher dados sobre o
contrato com a Oi. Segundo a revista Sol, também de Portugal, documentos
com anotações "Portugal Telecom" foram encontrados na casa de Luís
Oliveira Silva, sócio e irmão de José Dirceu.
O então presidente da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, ainda foi
aconselhado pelo ex-presidente de Portugal, Mário Soares, a procurar o
escritório de advocacia Fernando Lima, João Abrantes Serra e José Pedro
Fernandes, a LSF & Associados. O gabinete é ligado à José Dirceu,
segundo o jornal. Já Soares teria sido contratado para aproximar os
empresários ao ex-presidente Lula.
Dentro da Portugal Telecom, os pagamentos de 50 mil euros mensais para a
LSF & Associados teriam gerado confrontos. "Luís Pacheco de Melo,
ex-administrador financeiro da Portugal Telecom, questiona Granadeiro,
mas o CEO o avisa que existe um acordo para cumprir", explica o jornal.
Melo, ainda assim, suspenderia os pagamentos, mas só depois que 200 mil
euros tivessem sido depositados. Ele ainda tentaria bloquear o acordo
com a Oi.
Ao mesmo tempo, a empresa portuguesa teria sido informada de que o
"negócio com a Oi está condicionado à entrega ao grupo petista de 50
milhões de euros, verba que deve ser movimentada por uma conta em Macau.
Sem pagamento, não haverá parceria".
A partir desse momento, as conversas entre Lula e Sócrates teriam se
intensificado. Ao jornal Diário de Notícias de 8 de julho de 2010, o
próprio Dirceu afirmaria que sempre defendeu "a fusão da Oi com a Brasil
Telecom ou com uma empresa como a Portugal Telecom."
"As autoridades suspeitam agora de eventuais verbas ilícitas entregues
ao grupo de Lula da Silva e a políticos e gestores portugueses. E os
indícios apontam para uma origem na parcela de 1,2 bilhão, com o
Ministério Público a querer saber quem deixou a sua assinatura ",
concluiu o jornal.
Defesa. Procurado pela reportagem, Lula afirmou por meio da assessoria
de imprensa de seu instituto que "desconhece a existência do inquérito"
citado na reportagem. O Instituto Lula informou ainda ter conhecimento
apenas de um outro processo, no qual o ex-presidente também era citado, e
que foi arquivado pelo Ministério Público Federal do Brasil e o
Ministério Público Português em setembro.
O advogado do ex-ministro José Dirceu, Roberto Podval, disse que as
investigações portuguesas são sigilosas e evitou fazer mais comentários
sobre elas. "As investigações são sigilosas. Não tivemos acesso a ela,
nem fomos chamados a participar dela", afirmou.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Andrade Gutierrez informou que
não comenta "processos em andamento" com objetivo de não prejudicar a
defesa de executivos da empresa.
A assessoria do escritório de advocacia LSF & Associados não retornou aos contatos feitos pela reportagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário