O recordista de permanência no Ministério da Fazenda
Governo Vargas. O ministro da Fazenda, Arthur de Souza Costa (à
direita), com os ministros Oswaldo Aranha (centro) e Eurico Gaspar Dutra |
O gaúcho Arthur de Souza Costa, nascido no século retrasado, em 1893,
assumiu o Ministério da Fazenda na década de 30, no governo de Getúlio
Vargas, tornando-se o seu mais longevo titular, durante 11 anos. Souza
Costa vinha de uma longa trajetória no setor financeiro. Presidente do Banco do Brasil de 1931 a 1934, após ocupar diversos
cargos durante duas décadas no Banco da Província do Rio Grande do Sul,
de “praticante de contabilidade” na adolescência a presidente da
instituição financeira, Souza Costa tomou posse como ministro em 24 de
julho de 1934, sucedendo a Oswaldo Aranha.
Na época, a “sorte financeira
da República”, como diziam os jornais da época, estava abalada. O
Brasil vivia os efeitos da crise global de 1929, quando a Bolsa de
Valores de Nova York quebrou, e os Estados Unidos mergulharam na
depressão econômica, arrastando os países ricos e os periféricos,
produtores de matérias-primas. Eram tempos em que os preços do café
despencaram e o produto-rei nacional era até queimado.
Por sinal, já nos anos 30, o país também tentava, tal como hoje,
alcançar o equilíbrio fiscal, entre receitas e despesas do orçamento
federal. O receituário de Souza Costa? “Economizar o máximo para
tributar o mínimo” era manchete de jornal, em julho de 1939, baseada em
declarações do ministro, homem-forte de Getúlio, então em plena ditadura
do Estado Novo (1937-1945) após chegar ao poder com a Revolução de
1930. Aqueles eram tempos ainda de missões ao exterior que levavam o
nome dos ministros da Fazenda. Ficaram famosas a Missão Souza Costa aos
Estados Unidos, à Inglaterra, ao Uruguai e à Argentina. Em fevereiro de
1942, na viagem aos EUA, o ministro brasileiro foi recebido, em
Washington, pelo presidente Roosevelt. Na Casa Branca, apresentou um
plano de aumentar as exportações brasileiras para o mercado americano,
incluindo “borracha, minério e óleos vegetais”, auxiliando no esforço de
guerra americano.
Souza Costa também liderou, em julho de 1944, a delegação brasileira que
participou da Conferência de Bretton Woods, nos EUA. Estiveram no
encontro líderes de 44 países convocados por Roosevelt, entre eles Lord
Keynes. Eles estabeleceram a nova ordem econômica mundial após a Segunda
Guerra, sob a hegemonia do dólar, e criaram instituições como o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird). No grupo
brasileiro estavam, entre outros, o conselheiro Eugênio Gudin, um
liberal e o criador do primeiro curso de Economia do país (na
Universidade do Brasil, hoje UFRJ), e o então chefe da Divisão de
Estudos Econômicos e Financeiros da Fazenda, Octávio Gouvêa de Bulhões. O
mesmo que, décadas depois, foi titular da pasta da Fazenda após o golpe
de 1964, ficando no cargo até 1967. Uma das preocupações do plano do
Brasil na conferência era garantir aos países da América Latina mercados
constantes para as suas matérias-primas no pós-guerra.
Apenas com o curso secundário, Souza Costa era um autodidata. Falava
inglês, francês e espanhol, aprendeu russo e japonês, e tornou-se doutor
honoris causa em universidades estrangeiras. Na sua gestão na Fazenda, o
Brasil também começava a montar a sua indústria de base com a criação,
em 1941, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ),
após acordo de empréstimos com os americanos. Ele também mudou a
política de câmbio, tornando-o livre. Dentro do ideário nacionalista de
Vargas, houve ainda a encampação da Itabira Mining Company, resultando
na criação da Companhia Vale do Rio Doce, em 1942.
No seu período, uma das medidas de maior repercussão foi a instituição
do cruzeiro como o novo padrão monetário, além do acordo para a
liquidação da dívida externa. Para os cariocas, uma das marcas deixadas
na cidade foi a construção do Palácio da Fazenda, na Esplanada do
Castelo, no Centro, sede do ministério no Rio de Janeiro, então capital
da República.
Nascido em Pelotas no dia 26 de maio de 1893, Souza Costa ficou no cargo
até 29 de outubro de 1945. Depois, elegeu-se deputado federal pelo PSD e
participou da Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e, de 1949 a
1955, foi membro do Conselho Nacional de Economia. Na madrugada de 12 de
abril de 1957, morreu pobre no Hospital da Beneficência Portuguesa, no
Rio, sem ter acumulado fortuna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário