quarta-feira, 18 de novembro de 2015


O recordista de permanência no Ministério da Fazenda



Governo Vargas. O ministro da Fazenda, Arthur de Souza Costa (à direita),
com os ministros Oswaldo Aranha (centro) e Eurico Gaspar Dutra
 

O gaúcho Arthur de Souza Costa, nascido no século retrasado, em 1893, assumiu o Ministério da Fazenda na década de 30, no governo de Getúlio Vargas, tornando-se o seu mais longevo titular, durante 11 anos. Souza Costa vinha de uma longa trajetória no setor financeiro. Presidente do Banco do Brasil de 1931 a 1934, após ocupar diversos cargos durante duas décadas no Banco da Província do Rio Grande do Sul, de “praticante de contabilidade” na adolescência a presidente da instituição financeira, Souza Costa tomou posse como ministro em 24 de julho de 1934, sucedendo a Oswaldo Aranha.
Na época, a “sorte financeira da República”, como diziam os jornais da época, estava abalada. O Brasil vivia os efeitos da crise global de 1929, quando a Bolsa de Valores de Nova York quebrou, e os Estados Unidos mergulharam na depressão econômica, arrastando os países ricos e os periféricos, produtores de matérias-primas. Eram tempos em que os preços do café despencaram e o produto-rei nacional era até queimado.
Por sinal, já nos anos 30, o país também tentava, tal como hoje, alcançar o equilíbrio fiscal, entre receitas e despesas do orçamento federal. O receituário de Souza Costa? “Economizar o máximo para tributar o mínimo” era manchete de jornal, em julho de 1939, baseada em declarações do ministro, homem-forte de Getúlio, então em plena ditadura do Estado Novo (1937-1945) após chegar ao poder com a Revolução de 1930. Aqueles eram tempos ainda de missões ao exterior que levavam o nome dos ministros da Fazenda. Ficaram famosas a Missão Souza Costa aos Estados Unidos, à Inglaterra, ao Uruguai e à Argentina. Em fevereiro de 1942, na viagem aos EUA, o ministro brasileiro foi recebido, em Washington, pelo presidente Roosevelt. Na Casa Branca, apresentou um plano de aumentar as exportações brasileiras para o mercado americano, incluindo “borracha, minério e óleos vegetais”, auxiliando no esforço de guerra americano.
Souza Costa também liderou, em julho de 1944, a delegação brasileira que participou da Conferência de Bretton Woods, nos EUA. Estiveram no encontro líderes de 44 países convocados por Roosevelt, entre eles Lord Keynes. Eles estabeleceram a nova ordem econômica mundial após a Segunda Guerra, sob a hegemonia do dólar, e criaram instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird). No grupo brasileiro estavam, entre outros, o conselheiro Eugênio Gudin, um liberal e o criador do primeiro curso de Economia do país (na Universidade do Brasil, hoje UFRJ), e o então chefe da Divisão de Estudos Econômicos e Financeiros da Fazenda, Octávio Gouvêa de Bulhões. O mesmo que, décadas depois, foi titular da pasta da Fazenda após o golpe de 1964, ficando no cargo até 1967. Uma das preocupações do plano do Brasil na conferência era garantir aos países da América Latina mercados constantes para as suas matérias-primas no pós-guerra.
Apenas com o curso secundário, Souza Costa era um autodidata. Falava inglês, francês e espanhol, aprendeu russo e japonês, e tornou-se doutor honoris causa em universidades estrangeiras. Na sua gestão na Fazenda, o Brasil também começava a montar a sua indústria de base com a criação, em 1941, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), após acordo de empréstimos com os americanos. Ele também mudou a política de câmbio, tornando-o livre. Dentro do ideário nacionalista de Vargas, houve ainda a encampação da Itabira Mining Company, resultando na criação da Companhia Vale do Rio Doce, em 1942.
No seu período, uma das medidas de maior repercussão foi a instituição do cruzeiro como o novo padrão monetário, além do acordo para a liquidação da dívida externa. Para os cariocas, uma das marcas deixadas na cidade foi a construção do Palácio da Fazenda, na Esplanada do Castelo, no Centro, sede do ministério no Rio de Janeiro, então capital da República.
Nascido em Pelotas no dia 26 de maio de 1893, Souza Costa ficou no cargo até 29 de outubro de 1945. Depois, elegeu-se deputado federal pelo PSD e participou da Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e, de 1949 a 1955, foi membro do Conselho Nacional de Economia. Na madrugada de 12 de abril de 1957, morreu pobre no Hospital da Beneficência Portuguesa, no Rio, sem ter acumulado fortuna.





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