sexta-feira, 6 de novembro de 2015


Não temo ser preso, diz Lula em entrevista — O petista também disse estar disposto a ser candidato à presidência em 2018 e que não irá admitir que o chamem de corrupto





O ex-presidente Lula durante entrevista ao jornalista Kennedy Alencar

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na quinta-feira (05.nov.2015), em entrevista, que não tem medo de ser preso em consequência das investigações de pessoas próximas a ele em duas grandes operações em curso no país, a Lava Jato e a Zelotes.
"Não temo [ser preso]. Eu duvido que tenha alguém neste país — do pior inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário pequeno ou grande — que diga que um dia teve alguma conversa ilícita comigo", afirmou.
Lula chamou as investigações de pessoas próximas a ele, como seu ex-chefe de gabinete Gilberto Carvalho e seu filho, Luís Cláudio, de "coisas normais de um País democrático" e que são possíveis graças à independência dada pelo seu governo para instituições como Polícia Federal e Ministério Público Federal. O ex-presidente repetiu ainda o discurso de ser filho de mãe que morreu analfabeta e que lhe deixou o patrimônio de "poder andar de cabeça erguida".
"Combater a corrupção é obrigação, não é mérito", afirmou ao lembrar que desde o auge da crise do mensalão adotou o discurso de se investigar e punir quem quer que seja.
Em delação premiada na Lava Jato, o lobista Fernando Soares disse ter feito um repasse de R$ 2 milhões a um amigo do petista, o pecuarista José Carlos Bumlai. Segundo o delator, Bumlai disse na ocasião que o dinheiro seria destinado a uma nora do ex-presidente. O empresário nega a versão do lobista.
Já a Operação Zelotes tem entre seus alvos um dos filhos do ex-presidente, Luis Cláudio, alvo de busca e apreensão em sua empresa. A Zelotes, que apura esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), prendeu o lobista Mauro Marcondes, sócio da Marcondes e Mautoni. E em 2014, o escritório deste lobista contratou a empresa de Luiz Cláudio por R$ 2,4 milhões.
Na entrevista, Lula riu quando o jornalista fez perguntas sobre algumas destas denúncias.
Apesar da fala favorável aos trabalhos de investigação, o ex-presidente disse que o Brasil vive o que chamou de "República da suspeição", em que pessoas são condenadas pela opinião pública pelo simples levantamento de suspeitas — sem necessidade de provas.
"As instituições, que são fortes e poderosas, têm que ter responsabilidade, cuidar para não criar uma imagem negativa de uma pessoa sem ter provas", afirmou. "Nem tudo que o delator fala tem veracidade. É preciso que não se dê um voto de confiança ao bandido e um voto de desconfiança ao inocente", completou.
Lula foi irônico ao ser questionado se, quando presidente, nunca fora alertado sobre a corrupção na Petrobras revelada pela Lava Jato.
O ex-presidente reforçou que, ao longo de seu governo, desconhecia o esquema de corrupção na Petrobras. "Não fui alertado pela gloriosa imprensa brasileira, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, e olha que sou o presidente que mais visitou a Petrobrás. Nunca ninguém me disse que tinha corrupto na Petrobras, essas coisas você só descobre quando a quadrilha cai."
Lula falou rapidamente de seu amigo pecuarista José Carlos Bumlai. "Se ele teve situação indevida vai ficar provado ou não", disse.
O ex-presidente disse na entrevista que o governo Dilma errou em ao menos dois momentos: ao segurar o aumento do preço da gasolina, em 2012, para evitar a disparada da inflação, e pelo volume de desonerações concedidas a empresas, o que encolheu a arrecadação.
Ele também discordou da maneira como Dilma vem tentando driblar a crise, bastante centrado na defesa da criação de impostos como a CPMF, e disse que, se estivesse no lugar dela, optaria por outro caminho, o da ampliação do crédito.
FHC sofre com meu sucesso — o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu as críticas recentes feitas a ele por Fernando Henrique Cardoso. "O Fernando Henrique tem um problema comigo, de soberba. Ele sofre com o meu sucesso", disse Lula. O petista afirmou que seu antecessor tucano queria que ele ganhasse a eleição em 2002 contra o senador José Serra (PSDB) porque o via como "coitadinho metalúrgico que não ia dar certo".
Segundo Lula, FHC queria voltar aos "braços do povo" em 2006 imaginando que sua gestão seria um fracasso. "O que aconteceu foi que meu governo se tornou numa coisa admirada no mundo, promovendo a maior inclusão social desse País", disse Lula. Ao responder as declarações do ex-presidente tucano de que Lula "se perdeu pelas delícias do poder" e que teria transformado o toma lá dá cá da política em regra em vez de exceção, o petista devolveu acusações.
"Toda vez que tiver que falar de corrupção, ele tem que lembrar da [emenda da] reeleição de 1997. Ele tem que lembrar que o único mensalão criado, reconhecido inclusive por deputados do DEM, que disseram que receberam [dinheiro], foi o dele e tem que lembrar que nenhum processo dele foi investigado", provocou Lula. O ex-presidente petista disse ainda que a troca de críticas é fruto de estarmos vivendo "um momento de acidez política muito grande" no País.


Lula admite candidatura em 2018 e afirmou que não irá admitir que o chamem de corrupto
Irritado com a escalada de denúncias na sua direção, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, na quinta-feira, 05.nov.2015, que pode ser candidato à sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2018, para defender o projeto político do PT. Lula afirmou também, que não vai mais ouvir calado ser chamado de corrupto "por quem é corrupto" e, no seu diagnóstico, só quer desgastá-lo para impedir sua volta ao poder.
"Agora vou dizer uma coisa para vocês: nem que eu tiver apenas um minuto de vida em 2018, se tiver concorrendo contra nós um projeto conservador que tenha como objetivo acabar com as coisas que fizemos nesse País, podem estar certos de que eu estarei na campanha ou como cabo eleitoral ou como candidato", afirmou Lula, no encerramento da 5ª Conferência do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em Brasília.
Interrompido várias vezes por gritos de "1,2,3, é Lula outra vez", o ex-presidente convocou a plateia, formada por representantes de movimentos sociais, a defender sua sucessora e disse que os adversários não querem respeitar o resultado da eleição. "Nós não vamos admitir o impeachment de Dilma. A hora não é de ficar de cabeça baixa", insistiu.
Sob aplausos, Lula deixou o discurso preparado por seus assessores de lado e falou de improviso. "Eu não vou mais admitir que corrupto me chame de corrupto porque todos esses que ficam nos acusando, se colocarem um dentro do outro, não dá 10% da minha honestidade", gritou ele.
Lula assumiu o tom de campanha quando criticava os adversários do PSDB que, na sua avaliação, acreditam que tanto ele como Dilma não se levantam mais. "Eles estão dando de barato que a Dilma acabou e dizem 'agora vamos acabar com o Lula porque esse tal de Lula pode voltar em 2018'", afirmou. Foi neste momento que disse estar perdendo a paciência para ouvir ataques sem reagir.
"Eu tive muita paciência para construir a CUT, para fundar o PT, para perder três eleições e para governar. Duvido que tenha tido governo mais tolerante do que eu fui. Faltam três anos para a eleição. Eu não 'estou' candidato e Deus queira que possam aparecer quatro, cinco ou seis candidatos no nosso meio", comentou. Garantiu, porém, que não terá dúvidas em entrar na corrida para enfrentar o que chamou de "maré conservadora".
Esta foi, até agora, a manifestação mais enfática do ex-presidente admitindo a intenção de retornar ao Palácio do Planalto. Embora nos bastidores Lula se movimente para isso, há dúvidas no governo e no PT se ele realmente terá condições de ser candidato, após a avalanche de acusações que o atingem e envolvem até sua família. Além disso, seus amigos observam que é preciso aguardar para ver se a sangria de Dilma será estancada.
Lula cobrou mais empenho dos militantes para ajudar a presidente a sair da crise e lembrou que há um acampamento diante do Congresso pedindo o impeachment. "Temos de dizer para essa gente: eles têm direito de ter presidente da República, mas aprendam a exercitar a democracia e ganhem as eleições", afirmou, numa referência ao PSDB.
Para o ex-presidente, a dificuldade enfrentada por Dilma não é só dela, mas "do Brasil e do mundo" e o que está em jogo é uma disputa de projetos. "Então, temos de ajudar", reiterou. "Vocês sabem que os ataques que estamos sofrendo não são à toa. O que eles querem derrotar é um projeto de sucesso", disse Lula, ressuscitando a disputa do "nós contra eles" entre o PT e o PSDB.
Orçamento. O ex-presidente criticou o relator do projeto de Orçamento, deputado Ricardo Barros (PP-PR), que propôs o corte de R$ 10 bilhões do Bolsa Família. "Fiquei pensando o que pensa uma pessoa que não tem noção do que significa pouco mais de R$ 100 nas mãos das famílias mais pobres desse país", protestou. "Não seria mais  fácil, ao invés de cortar dos pobres, cobrar dos ricos?"
Ao citar os adversários, Lula disse que sempre foi acusado de gastar muito dinheiro com programas sociais, em vez de construir pontes e estradas. "Acontece que o povo não come cimento. O povo come feijão", esbravejou. Depois, afirmou que pobre só é lembrado por político durante as campanhas. "Na época da eleição, se pudessem colocar pobre na Bolsa de Valores seria a coisa mais rentável do planeta Terra. Iria crescer mais do que ações da Petrobrás", ironizou.
Na plateia, manifestantes ergueram uma faixa com os dizeres "Manter Bolsa Família. Uma questão de honra, Dilma". No último dia 3, ao abrir a 5ª Conferência do Consea, a presidente garantiu que não haverá redução no programa e desautorizou a ideia do relator do projeto de Orçamento. "Nenhum passo atrás será dado nessa trajetória", prometeu ela.
Uma semana após admitir que Dilma ganhou a eleição com um discurso contra o ajuste fiscal e adotou receituário diferente do prometido, Lula voltou a Brasília para novas costuras políticas. Antes de se encontrar com representantes da agricultura familiar, Lula se reuniu com deputados do PT e nesta sexta-feira (06.nov.2015) ele deverá conversar novamente com Dilma. O ex-presidente está empenhado em impedir que a ameaça do impeachment prospere, em fazer o Congresso aprovar as principais medidas do ajuste fiscal e em fazer alianças para impedir que petistas sejam convocados nas CPIs do Congresso.
Nos últimos dias, Lula e o governo orientaram o PT a não provocar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Trata-se, na prática, de um acordo de não agressão para evitar que Cunha — mesmo fragilizado após suspeitas de manter contas secretas na Suíça, com dinheiro desviado da Petrobrás - crie problemas em votações de interesse do Planalto e aceite dar sequência à representação dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal, pedindo a saída de Dilma.





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