Não temo ser preso, diz Lula em
entrevista — O petista também disse estar disposto a ser candidato à
presidência em 2018 e que não irá admitir que o chamem de corrupto
O ex-presidente Lula durante entrevista ao jornalista Kennedy Alencar |
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na quinta-feira
(05.nov.2015), em entrevista, que não tem medo de ser preso em
consequência das investigações de pessoas próximas a ele em duas grandes
operações em curso no país, a Lava Jato e a Zelotes.
"Não temo [ser preso]. Eu duvido que tenha alguém neste país — do pior
inimigo meu ao melhor amigo meu, qualquer empresário pequeno ou grande —
que diga que um dia teve alguma conversa ilícita comigo", afirmou.
Lula chamou as investigações de pessoas próximas a ele, como seu
ex-chefe de gabinete Gilberto Carvalho e seu filho, Luís Cláudio, de
"coisas normais de um País democrático" e que são possíveis graças à
independência dada pelo seu governo para instituições como Polícia
Federal e Ministério Público Federal. O ex-presidente repetiu ainda o
discurso de ser filho de mãe que morreu analfabeta e que lhe deixou o
patrimônio de "poder andar de cabeça erguida".
"Combater a corrupção é obrigação, não é mérito", afirmou ao lembrar que
desde o auge da crise do mensalão adotou o discurso de se investigar e
punir quem quer que seja.
Em delação premiada na Lava Jato, o lobista Fernando Soares disse ter feito um repasse de R$ 2 milhões a um amigo do petista, o pecuarista José Carlos Bumlai. Segundo o delator, Bumlai disse na ocasião que o dinheiro seria destinado a uma nora do ex-presidente. O empresário nega a versão do lobista.Já a Operação Zelotes tem entre seus alvos um dos filhos do ex-presidente, Luis Cláudio, alvo de busca e apreensão em sua empresa. A Zelotes, que apura esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), prendeu o lobista Mauro Marcondes, sócio da Marcondes e Mautoni. E em 2014, o escritório deste lobista contratou a empresa de Luiz Cláudio por R$ 2,4 milhões.
Na entrevista, Lula riu quando o jornalista fez perguntas sobre algumas destas denúncias.
Apesar da fala favorável aos trabalhos de investigação, o ex-presidente
disse que o Brasil vive o que chamou de "República da suspeição", em que
pessoas são condenadas pela opinião pública pelo simples levantamento
de suspeitas — sem necessidade de provas.
"As instituições, que são fortes e poderosas, têm que ter
responsabilidade, cuidar para não criar uma imagem negativa de uma
pessoa sem ter provas", afirmou. "Nem tudo que o delator fala tem
veracidade. É preciso que não se dê um voto de confiança ao bandido e um
voto de desconfiança ao inocente", completou.
Lula foi irônico ao ser questionado se, quando presidente, nunca fora
alertado sobre a corrupção na Petrobras revelada pela Lava Jato.
O ex-presidente reforçou que, ao longo de seu governo, desconhecia o
esquema de corrupção na Petrobras. "Não fui alertado pela gloriosa
imprensa brasileira, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, e
olha que sou o presidente que mais visitou a Petrobrás. Nunca ninguém me
disse que tinha corrupto na Petrobras, essas coisas você só descobre
quando a quadrilha cai."
Lula falou rapidamente de seu amigo pecuarista José Carlos Bumlai. "Se
ele teve situação indevida vai ficar provado ou não", disse.
O ex-presidente disse na entrevista que o governo Dilma errou em ao
menos dois momentos: ao segurar o aumento do preço da gasolina, em 2012,
para evitar a disparada da inflação, e pelo volume de desonerações
concedidas a empresas, o que encolheu a arrecadação.
Ele também discordou da maneira como Dilma vem tentando driblar a crise,
bastante centrado na defesa da criação de impostos como a CPMF, e disse
que, se estivesse no lugar dela, optaria por outro caminho, o da
ampliação do crédito.
FHC sofre com meu sucesso — o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
rebateu as críticas recentes feitas a ele por Fernando Henrique Cardoso.
"O Fernando Henrique tem um problema comigo, de soberba. Ele sofre com o
meu sucesso", disse Lula. O petista afirmou que seu antecessor tucano
queria que ele ganhasse a eleição em 2002 contra o senador José Serra
(PSDB) porque o via como "coitadinho metalúrgico que não ia dar certo".
Segundo Lula, FHC queria voltar aos "braços do povo" em 2006 imaginando
que sua gestão seria um fracasso. "O que aconteceu foi que meu governo
se tornou numa coisa admirada no mundo, promovendo a maior inclusão
social desse País", disse Lula. Ao responder as declarações do
ex-presidente tucano de que Lula "se perdeu pelas delícias do poder" e
que teria transformado o toma lá dá cá da política em regra em vez de
exceção, o petista devolveu acusações.
"Toda vez que tiver que falar de corrupção, ele tem que lembrar da
[emenda da] reeleição de 1997. Ele tem que lembrar que o único mensalão
criado, reconhecido inclusive por deputados do DEM, que disseram que
receberam [dinheiro], foi o dele e tem que lembrar que nenhum processo
dele foi investigado", provocou Lula. O ex-presidente petista disse
ainda que a troca de críticas é fruto de estarmos vivendo "um momento de
acidez política muito grande" no País.
Lula admite candidatura em 2018 e afirmou que não irá admitir que o chamem de corrupto
Irritado com a escalada de denúncias na sua direção, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, na quinta-feira, 05.nov.2015, que
pode ser candidato à sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2018,
para defender o projeto político do PT. Lula afirmou também, que não vai
mais ouvir calado ser chamado de corrupto "por quem é corrupto" e, no
seu diagnóstico, só quer desgastá-lo para impedir sua volta ao poder.
"Agora vou dizer uma coisa para vocês: nem que eu tiver apenas um minuto
de vida em 2018, se tiver concorrendo contra nós um projeto conservador
que tenha como objetivo acabar com as coisas que fizemos nesse País,
podem estar certos de que eu estarei na campanha ou como cabo eleitoral
ou como candidato", afirmou Lula, no encerramento da 5ª Conferência do
Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em
Brasília.
Interrompido várias vezes por gritos de "1,2,3, é Lula outra vez", o
ex-presidente convocou a plateia, formada por representantes de
movimentos sociais, a defender sua sucessora e disse que os adversários
não querem respeitar o resultado da eleição. "Nós não vamos admitir o
impeachment de Dilma. A hora não é de ficar de cabeça baixa", insistiu.
Sob aplausos, Lula deixou o discurso preparado por seus assessores de
lado e falou de improviso. "Eu não vou mais admitir que corrupto me
chame de corrupto porque todos esses que ficam nos acusando, se
colocarem um dentro do outro, não dá 10% da minha honestidade", gritou
ele.
Lula assumiu o tom de campanha quando criticava os adversários do PSDB
que, na sua avaliação, acreditam que tanto ele como Dilma não se
levantam mais. "Eles estão dando de barato que a Dilma acabou e dizem
'agora vamos acabar com o Lula porque esse tal de Lula pode voltar em
2018'", afirmou. Foi neste momento que disse estar perdendo a paciência
para ouvir ataques sem reagir.
"Eu tive muita paciência para construir a CUT, para fundar o PT, para
perder três eleições e para governar. Duvido que tenha tido governo mais
tolerante do que eu fui. Faltam três anos para a eleição. Eu não
'estou' candidato e Deus queira que possam aparecer quatro, cinco ou
seis candidatos no nosso meio", comentou. Garantiu, porém, que não terá
dúvidas em entrar na corrida para enfrentar o que chamou de "maré
conservadora".
Esta foi, até agora, a manifestação mais enfática do ex-presidente
admitindo a intenção de retornar ao Palácio do Planalto. Embora nos
bastidores Lula se movimente para isso, há dúvidas no governo e no PT se
ele realmente terá condições de ser candidato, após a avalanche de
acusações que o atingem e envolvem até sua família. Além disso, seus
amigos observam que é preciso aguardar para ver se a sangria de Dilma
será estancada.
Lula cobrou mais empenho dos militantes para ajudar a presidente a sair
da crise e lembrou que há um acampamento diante do Congresso pedindo o
impeachment. "Temos de dizer para essa gente: eles têm direito de ter
presidente da República, mas aprendam a exercitar a democracia e ganhem
as eleições", afirmou, numa referência ao PSDB.
Para o ex-presidente, a dificuldade enfrentada por Dilma não é só dela,
mas "do Brasil e do mundo" e o que está em jogo é uma disputa de
projetos. "Então, temos de ajudar", reiterou. "Vocês sabem que os
ataques que estamos sofrendo não são à toa. O que eles querem derrotar é
um projeto de sucesso", disse Lula, ressuscitando a disputa do "nós
contra eles" entre o PT e o PSDB.
Orçamento. O ex-presidente criticou o relator do projeto de Orçamento,
deputado Ricardo Barros (PP-PR), que propôs o corte de R$ 10 bilhões do
Bolsa Família. "Fiquei pensando o que pensa uma pessoa que não tem noção
do que significa pouco mais de R$ 100 nas mãos das famílias mais pobres
desse país", protestou. "Não seria mais fácil, ao invés de cortar dos
pobres, cobrar dos ricos?"
Ao citar os adversários, Lula disse que sempre foi acusado de gastar
muito dinheiro com programas sociais, em vez de construir pontes e
estradas. "Acontece que o povo não come cimento. O povo come feijão",
esbravejou. Depois, afirmou que pobre só é lembrado por político durante
as campanhas. "Na época da eleição, se pudessem colocar pobre na Bolsa
de Valores seria a coisa mais rentável do planeta Terra. Iria crescer
mais do que ações da Petrobrás", ironizou.
Na plateia, manifestantes ergueram uma faixa com os dizeres "Manter
Bolsa Família. Uma questão de honra, Dilma". No último dia 3, ao abrir a
5ª Conferência do Consea, a presidente garantiu que não haverá redução
no programa e desautorizou a ideia do relator do projeto de Orçamento.
"Nenhum passo atrás será dado nessa trajetória", prometeu ela.
Uma semana após admitir que Dilma ganhou a eleição com um discurso
contra o ajuste fiscal e adotou receituário diferente do prometido, Lula
voltou a Brasília para novas costuras políticas. Antes de se encontrar
com representantes da agricultura familiar, Lula se reuniu com deputados
do PT e nesta sexta-feira (06.nov.2015) ele deverá conversar novamente
com Dilma. O ex-presidente está empenhado em impedir que a ameaça do
impeachment prospere, em fazer o Congresso aprovar as principais medidas
do ajuste fiscal e em fazer alianças para impedir que petistas sejam
convocados nas CPIs do Congresso.
Nos últimos dias, Lula e o governo orientaram o PT a não provocar o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Trata-se, na prática, de
um acordo de não agressão para evitar que Cunha — mesmo fragilizado após
suspeitas de manter contas secretas na Suíça, com dinheiro desviado da
Petrobrás - crie problemas em votações de interesse do Planalto e aceite
dar sequência à representação dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale
Jr. e Janaina Paschoal, pedindo a saída de Dilma.
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