terça-feira, 3 de novembro de 2015


Lula e ex-ministros movimentaram R$ 300 milhões — o Relatório de Inteligência Financeira 18.340 de 32 páginas, do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), agência de combate à lavagem de dinheiro apontou transações atípicas com indício de irregularidades do ex-presidente Lula e os ex-ministros Antônio Palocci, Fernando Pimentel e Erenice Guerra




O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência financeira do Ministério da Fazenda, encontrou movimentações financeiras suspeitas ao analisar as transações bancárias do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de três ex-ministros petistas — Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Antônio Palocci (Fazenda) e Erenice Guerra (Casa Civil) —, de acordo com informações do Relatório de Inteligência Financeira 18.340 de 32 páginas. No dia 23 de outubro, os analistas do Coaf apresentaram o que lhes foi pedido: todas as transações bancárias, com indícios de irregularidades, envolvendo, entre outros, os quatro principais chefes petistas sob investigação da PF, do Ministério Público e do Congresso.
Os petistas movimentaram quase R$ 300 milhões nos últimos anos sem que houvesse justificativa para a entrada do dinheiro, conforme o Relatório 18.340.
Os dados foram remetidos à CPI do BNDES na Câmara que investiga irregularidades em contratos assinados com o banco entre 2003 e 2015. Os parlamentares querem saber se membros do PT receberam recursos desviados desses contratos, que concediam empréstimos subsidiados a grupos econômicos.
Lula teria movimentado R$ 52,3 milhões entre abril de 2011 e maio de 2015. Uma das movimentações que chamaram a atenção do Coaf foi a aquisição do ex-presidente, então com 69 anos, de um título de previdência privada no valor de R$ 1 milhão. Já a empresa de palestras do ex-presidente recebeu R$ 27 milhões e transferiu R$ 25,3 milhões.
As operações bancárias de Palocci são as mais vultosas e somam R$ 216 milhões entre 2008 e 2015. O relatório da Coaf comunica que o ex-ministro da Fazenda fez pelo menos 11 depósitos de valores elevados à empresa Projeto Consultoria, da qual é dono. Depois de deixar o governo Dilma, em junho de 2011, até maio de 2015, a empresa recebeu cerca de R$ 53 milhões.
Nas contas de Pimentel, atual governador de Minas, as operações financeiras alcançam R$ 3,1 milhões entre 2009 e 2014.
Já Erenice teria movimentado R$ 26,3 milhões de 2008 a 2015 em contas no nome dela e de terceiros. O escritório da ex-ministra recebeu R$ 12 milhões nos últimos quatro anos. A revista cita um trecho do relatório da Coaf que menciona o repasse de R$ 209 mil a Saulo Guerra, filho de Erenice, pagos por Fábio Baracat, suspeito de corrupção e tráfico de influência em contratos com o governo.



Operações. Ao todo, o Coaf examinou as contas bancárias e as aplicações financeiras de 103 pessoas e 188 empresas ligadas ao quarteto petista, em operações que somam aproximadamente R$ 500 milhões. Somente as transações envolvendo os quatro petistas representam cerca de R$ 300 milhões. Segundo o documento, há indícios de irregularidades como transações financeiras incompatíveis, saques em espécie e incapacidade de comprovação da origem legal dos recursos. Trata-se da maior devassa já realizada nas contas de pessoas que passaram pelo governo do PT.
As informações devem ajudar a Receita Federal, a Polícia Federal e o Ministério Público a avançar nas apurações dos esquemas multimilionários descobertos nas três operações que sacodem o Brasil: nas investigações da Lava Jato, sobre desvios nos contratos da Petrobrás, da Acrônimo, relacionada a suspeitas de lavagem de dinheiro e corrupção no BNDES, e da Zelotes, que apura fraudes em decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Essas investigações, aparentemente díspares entre si, têm muito em comum. Envolvem políticos da aliança que governa o país e grandes empresários. No caso da CPI do BNDES, os parlamentares investigam as suspeitas de que os líderes petistas tenham se locupletado com as operações de financiamento do banco, sobretudo as que beneficiaram o cartel de empreiteiras do petrolão.



Em nota, o Instituto Lula disse que a reportagem “criminaliza os fatos” e que os dados foram “vazados criminosamente”. “Não há nada de ilegal na movimentação financeira do ex-presidente. Os recursos são oriundos de atividades profissionais, legais e legitimas de quem não ocupa nenhum cargo público”, diz a nota. No site, o instituto postou uma imagem da reportagem com um carimbo com a palavra “mentira”.
A assessoria de Pimentel informou, também em nota, que o governador “apresentará todos os esclarecimentos assim que as informações mencionadas” forem disponibilizadas. “A defesa desconhece a origem e o conteúdo dos documentos, ainda mantidos sob sigilo para as partes”, diz a nota.
O Coaf não faz juízo sobre as operações. Somente relata movimentações financeiras suspeitas de acordo com a lei e regras do mercado, como saques de dinheiro vivo na boca do caixa ou depósitos de larga monta que não tenham explicação aparente. O Coaf recebe essas informações diretamente dos bancos e corretoras. Eles são obrigados, também nos casos previstos em lei, a alertar o Coaf de operações “atípicas” envolvendo seus clientes. É obrigação do Coaf avisar as autoridades sobre operações suspeitas de crimes. A lavagem de dinheiro existe para esquentar recursos que tenham origem ou finalidade criminosa, como pagamentos de propina. Não cabe ao Coaf estipular se determinada transação é ilegal ou não. Cabe a ele somente informar a existência dessa transação às autoridades competentes, caso essa transação contenha características de uma operação de lavagem de dinheiro. Foi isso que o Coaf fez no caso do quarteto petista. Cabe agora à PF, ao MP e ao Congresso trabalhar detidamente sobre as informações reveladas pelo Coaf.

Lula e família. Uma empresa transferiu R$ 48 mil a Fernando Bittar, 
sócio de um dos filhos do petista e dono de um sítio atribuído ao ex-presidente

Convocação. Integrantes da CPI do BNDES, os deputados Arnaldo Jordy (PPS-PA) e Betinho Gomes (PSDB-PE) defenderam no sábado, 31.out.2015, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ex-ministros Antonio Palocci, Fernando Pimentel e Erenice Guerra sejam ouvidos "imediatamente" pela comissão da Câmara.
Os deputados classificaram como "estarrecedora" a informação publicada de que, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), chegou a quase R$ 300 milhões as movimentações sob suspeita dos quatro petistas nos últimos anos.
O Coaf, órgão de inteligência financeira do Ministério da Fazenda, encontrou movimentações financeiras suspeitas ao analisar as transações bancárias dos quatro petistas. Os dados foram remetidos à CPI do BNDES na Câmara que investiga irregularidades em contratos assinados com o banco entre 2003 e 2015.
Lula e os ex-ministros são alvo de pedidos de convocação ou de quebra de sigilos bancários, fiscal e telefônicos na CPI. Segundo os integrantes da comissão, pesa contra eles a suspeita de terem usado a instituição financeira para beneficiar grupos econômicos com financiamentos subsidiados.
Para o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), o conteúdo do relatório do Coaf "é grave". "Esta é uma situação inconcebível, pois se trata de mais uma denúncia que se acumula sobre o governo de Lula", disse.





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