terça-feira, 3 de novembro de 2015


Ex-presidente da Câmara ganhou um apartamento em Miami — o ex-vereador petista da cidade de Americana, no interior de São Paulo, Alexandre Romano disse à polícia que ex-presidente da Câmara dos Deputados Marco Maia (PT-RS) é o verdadeiro dono de um apartamento em Miami, nos Estados Unidos. O imóvel foi comprado com dinheiro oriundo das arcas da corrupção. Coisa de US$ 671 mil, o equivalente a R$ 2,5 milhões.





O petista Marco Maia, ex-presidente da Câmara, garante que “passou uma temporada”
no apartamento do “amigo” por “empréstimo” e apenas “uma vez”

As histórias mais comuns de corrupção normalmente envolvem a parceria de um empresário ganancioso com um político desonesto. O primeiro é agraciado com contratos públicos milionários. Em troca, distribui recompensas como malas de dinheiro, carros importados, imóveis de luxo. No rastro da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal descobriu que um grupo de petistas montou um esquema de negócios escusos no Ministério do Planejamento. O padrão era o mesmo do petrolão. Em troca da assinatura de um contrato vultoso, a empresa repassava parte do valor recebido para o PT. Seguindo o dinheiro, os policiais e procuradores identificaram quem arrecadava e quem recebia a propina. Chegaram então a figurões do PT beneficiados pelo dinheiro sujo na forma de financiamento de campanha eleitoral, presentes e regalias, entre elas o direito de usufruto de um apartamento em Miami. Chamou a atenção dos investigadores esse imóvel de alto padrão fincado no belíssimo litoral da capital hispânica dos Estados Unidos, refúgio de fortunas honestas e desonestas.
A história do apartamento em Miami começou a ser contada em agosto passado, quando a Polícia Federal prendeu Alexandre Romano, ex-verea­dor petista da cidade de Americana, no interior de São Paulo. Romano atende pelo apelido de Chambinho. De apenas um contrato milionário dado pelo Ministério do Planejamento à empresa de informática Consist, foram desviados 50 milhões de reais. Chambinho cuidava da distribuição da bolada. Como era praxe, João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, ficava com fatias gordas. A polícia calcula que Vaccari tenha recebido do esquema cerca de 10 milhões de reais. Parte considerável do dinheiro desviado beneficiou também a senadora Gleisi Hoffmann, ex-ministra da Casa Civil (PT-PR), e o marido dela, Paulo Ber­nardo, ex-ministro do Planejamento no governo Dilma.
Depois do depoimento do ex-vereador Chambinho à polícia, o apartamento de Miami ganhou enorme relevância na investigação. Em depoimento prestado aos investigadores no curso das negociações para fechar um acordo de delação premiada, o ex-vereador disse que o apartamento está registrado em nome de uma empresa aberta por ele na Flórida, mas que Marco Maia é o verdadeiro dono do imóvel, comprado por 671 000 dólares (2,5 milhões de reais no câmbio da semana passada). Se se confirmar a revelação feita aos policiais, além de coletor e distribuidor de propinas, Chambinho — que tem em seu nome um segundo apartamento no mesmo condomínio — se prestava ao papel de "laranja" de luxo.
A escritura do apartamento em Miami estava entre o material apreendido pelos policiais na apuração do caso Consist — distribuição de propinas de R$ 50 milhões obtidas por meio de contrato da empresa de informática Consist com o Ministério do Planejamento.
O deputado nega. Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara dos Deputados, reconhece que passou férias no apartamento de Miami — hoje sob suspeita. Maia afirmou que, a convite de Chambinho, se hospedou no apartamento por dez dias, mas "uma única vez".
O apartamento sob investigação tem 164 metros quadrados, fica na South Tower at The Point — e conta com três quartos e dois banheiros. O prédio faz parte de um condomínio de cinco edifícios situado a poucos metros da praia e proporciona aos condôminos o uso de uma marina e de um spa. Os investigadores já tinham indícios de que Chambinho fala a verdade sobre a propriedade do imóvel em Miami. A polícia sabe, por exemplo, que a decoração do apartamento que o ex-vereador diz pertencer a Marco Maia foi feita sob orientação da mulher do deputado.
Por decisão do Supremo Tribunal Federal, que não encontrou conexão do caso Consist com o petrolão, a investigação saiu da alçada do juiz Sergio Moro, em Curitiba, e agora corre na Justiça Federal de São Paulo. A parte que envolve políticos com mandato — com foro privilegiado — será remetido a responsabilidade do Supremo, a cujos ministros, em última instância, Marco Maia deverá se explicar. Além de Maia, frequenta o inquérito na condição de beneficiária de propinas a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Ela também nega.





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