Ex-presidente da Câmara ganhou um
apartamento em Miami — o ex-vereador petista da cidade de Americana, no
interior de São Paulo, Alexandre Romano disse à polícia que ex-presidente
da Câmara dos Deputados Marco Maia (PT-RS) é o verdadeiro dono de um
apartamento em Miami, nos Estados Unidos. O imóvel foi comprado com
dinheiro oriundo das arcas da corrupção. Coisa de US$ 671 mil, o
equivalente a R$ 2,5 milhões.
O petista Marco Maia, ex-presidente da Câmara, garante que “passou uma
temporada” no apartamento do “amigo” por “empréstimo” e apenas “uma vez” |
As histórias mais comuns de corrupção normalmente envolvem a parceria de
um empresário ganancioso com um político desonesto. O primeiro é
agraciado com contratos públicos milionários. Em troca, distribui
recompensas como malas de dinheiro, carros importados, imóveis de luxo.
No rastro da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal descobriu que um
grupo de petistas montou um esquema de negócios escusos no Ministério do
Planejamento. O padrão era o mesmo do petrolão. Em troca da assinatura
de um contrato vultoso, a empresa repassava parte do valor recebido para
o PT. Seguindo o dinheiro, os policiais e procuradores identificaram
quem arrecadava e quem recebia a propina. Chegaram então a figurões do
PT beneficiados pelo dinheiro sujo na forma de financiamento de campanha
eleitoral, presentes e regalias, entre elas o direito de usufruto de um
apartamento em Miami. Chamou a atenção dos investigadores esse imóvel
de alto padrão fincado no belíssimo litoral da capital hispânica dos
Estados Unidos, refúgio de fortunas honestas e desonestas.
A história do apartamento em Miami começou a ser contada em agosto
passado, quando a Polícia Federal prendeu Alexandre Romano, ex-vereador
petista da cidade de Americana, no interior de São Paulo. Romano atende
pelo apelido de Chambinho. De apenas um contrato milionário dado pelo
Ministério do Planejamento à empresa de informática Consist, foram
desviados 50 milhões de reais. Chambinho cuidava da distribuição da
bolada. Como era praxe, João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, ficava
com fatias gordas. A polícia calcula que Vaccari tenha recebido do
esquema cerca de 10 milhões de reais. Parte considerável do dinheiro
desviado beneficiou também a senadora Gleisi Hoffmann, ex-ministra da
Casa Civil (PT-PR), e o marido dela, Paulo Bernardo, ex-ministro do
Planejamento no governo Dilma.
Depois do depoimento do ex-vereador Chambinho à polícia, o apartamento
de Miami ganhou enorme relevância na investigação. Em depoimento
prestado aos investigadores no curso das negociações para fechar um
acordo de delação premiada, o ex-vereador disse que o apartamento está
registrado em nome de uma empresa aberta por ele na Flórida, mas que
Marco Maia é o verdadeiro dono do imóvel, comprado por 671 000 dólares
(2,5 milhões de reais no câmbio da semana passada). Se se confirmar a
revelação feita aos policiais, além de coletor e distribuidor de
propinas, Chambinho — que tem em seu nome um segundo apartamento no
mesmo condomínio — se prestava ao papel de "laranja" de luxo.
A escritura do apartamento em Miami estava entre o material apreendido
pelos policiais na apuração do caso Consist — distribuição de propinas
de R$ 50 milhões obtidas por meio de contrato da empresa de informática
Consist com o Ministério do Planejamento.
O deputado nega. Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara dos
Deputados, reconhece que passou férias no apartamento de Miami — hoje
sob suspeita. Maia afirmou que, a convite de Chambinho, se hospedou no
apartamento por dez dias, mas "uma única vez".
O apartamento sob investigação tem 164 metros quadrados, fica na South
Tower at The Point — e conta com três quartos e dois banheiros. O prédio
faz parte de um condomínio de cinco edifícios situado a poucos metros
da praia e proporciona aos condôminos o uso de uma marina e de um spa.
Os investigadores já tinham indícios de que Chambinho fala a verdade
sobre a propriedade do imóvel em Miami. A polícia sabe, por exemplo, que
a decoração do apartamento que o ex-vereador diz pertencer a Marco Maia
foi feita sob orientação da mulher do deputado.
Por decisão do Supremo Tribunal Federal, que não encontrou conexão do
caso Consist com o petrolão, a investigação saiu da alçada do juiz
Sergio Moro, em Curitiba, e agora corre na Justiça Federal de São Paulo.
A parte que envolve políticos com mandato — com foro privilegiado —
será remetido a responsabilidade do Supremo, a cujos ministros, em
última instância, Marco Maia deverá se explicar. Além de Maia, frequenta
o inquérito na condição de beneficiária de propinas a senadora Gleisi
Hoffmann (PT-PR). Ela também nega.
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