Mantida prisão do banqueiro André Esteves a pedido do Ministério Público — após decisão do STF, Esteves renuncia à presidência do BTG
O banqueiro André Esteves durante transferência para o presidio de Bangu, no Rio |
O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, determinou no
domingo (29.nov.2015) que o banqueiro André Esteves e o assessor
parlamentar Diogo Ferreira permaneçam presos.
Ambos haviam sido detidos no âmbito da Operação Lava Jato na
quarta-feira (25.nov.2015), sob a acusação de colaborar com uma trama
para atrapalhar as investigações em conjunto com o Delcídio Amaral
(PT-MS), líder do governo Dilma Rousseff no Senado.
Delcídio e o advogado Edson Ribeiro já haviam sido presos de forma
preventiva, isto é, sem prazo para serem libertados. Esteves e Ferreira,
contudo, haviam sido detidos por um prazo de cinco dias — que venceriam
à meia-noite de domingo (29.nov.2015).
O Ministério Público Federal fez o pedido de conversão em prisão
preventiva e Teori o aceitou, alegando que as provas recolhidas e
depoimentos ouvidos nesta etapa da Lava Jato já reúnem os requisitos
para mantê-los presos.
Segundo o despacho de Teori, soltar Esteves e Ferreira implicaria risco à
ordem pública, à ordem econômica e à instrução criminal do caso.
GRAVIDADE
Para embasar a conversão da prisão do banqueiro, a Procuradoria-Geral da
República citou o fato de tanto Esteves como Delcídio terem confirmado,
em depoimentos, que tiveram encontros.
O procurador-geral Rodrigo Janot destacou o fato de Delcídio ter
afirmado no depoimento que realmente teve uma conversa com André Esteves
sobre o caso de Cerveró.
"Há agora a confirmação do próprio Delcídio do Amaral de que a conversa realmente existiu", escreveu Janot.
Em relação ao chefe de gabinete do senador, foram encontrados documentos
na residência dele da delação premiada do lobista Fernando Baiano e da
minuta preliminar da delação de Cerveró, ambos sigilosos.
Janot classificou esses achados como "de altíssima gravidade". "Revela
sua disposição concreta, materializada, para incorrer em condutas
manifestamente ilegais em auxílio a Delcídio do Amaral", escreveu o
procurador-geral da República.
PRIORIDADE
Os integrantes do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR passaram o fim
de semana analisando o material apreendido nas buscas feitas no dia da
operação e dando prioridade ao caso.
A meta é que até esta segunda-feira (30.nov.2015) o procurador-geral
Rodrigo Janot apresente denúncia ao Supremo contra Delcídio e os demais
envolvidos neste caso. Isso porque, como os investigados estão presos, o
prazo para finalizar o inquérito é mais exíguo.
A denúncia deve acusá-los de obstruir investigações de associação
criminosa e, no caso do senador, de exploração de prestígio, já que ele
prometeu conversar com ministros do Supremo em favor de um habeas corpus
para soltar Cerveró.
Além dessa denúncia, os procuradores também voltam a investigar o
envolvimento de Delcídio com a corrupção na Petrobras, já que sua
atuação para evitar a delação de Cerveró seria justamente para que esses
fatos não viessem à tona.
O ex-diretor Paulo Roberto Costa, por exemplo, havia dito em sua delação
que Delcídio se beneficiou de propina, mas a PGR havia arquivado o
inquérito por considerar que os elementos eram frágeis.
No domingo (29.nov.2015), uma das filhas de Delcídio foi visitá-lo na
superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde ele está detido.
Ela chegou ao local às 16h e só saiu por volta das 18h, sem falar com a
imprensa.
PLANO DE FUGA
Delcídio, Ferreira e Ribeiro são acusados de montar um plano de fuga
para Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras preso
na Lava Jato. Eles foram gravados pelo filho de Cerveró, Bernardo,
ofertando dinheiro e praticidades para a fuga quando o ex-diretor fosse
solto.
Em troca, eles queriam ver seus interesses protegidos na delação
premiada negociada por Cerveró. O banqueiro Esteves, do BTG Pactual, foi
indicado como o financiador da operação.
ESTEVES RENUNCIA À PRESIDÊNCIA DO BTG
Após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter convertido a prisão de André
Esteves, presidente do BTG Pactual, de temporária em preventiva, o
executivo foi obrigado a renunciar ao cargo e também à presidência do
conselho de administração do banco. Com isso, a gestão da instituição
será compartilhada entre Roberto Sallouti e Marcelo Kalim, ambos
diretores vice-presidentes seniores da instituição, que vão assumir como
co-CEOs. As informações foram confirmadas pelo banco.
Já a presidência do Conselho de Administração do BTG ficará a cago de
Pérsio Arida, sócio e fundador do banco, que desde a prisão de Esteves
assumiu o comando interino do banco. Na vice-presidência do Conselho,
será eleito John Huw Gwili Jenkins, sócio do BTG Pactual, com base no
escritório de Londres.
OUTRO LADO
Todos os acusados negam os crimes, mas Delcídio entrou em contradição com Esteves — que está preso no Rio.
O advogado de Esteves, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse
não ter conhecimento da decisão, mas que considerava não haver motivos
para manter seu cliente preso.