segunda-feira, 30 de novembro de 2015


Mantida prisão do banqueiro André Esteves a pedido do Ministério Público — após decisão do STF, Esteves renuncia à presidência do BTG



O banqueiro André Esteves durante transferência para o presidio de Bangu, no Rio

O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, determinou no domingo (29.nov.2015) que o banqueiro André Esteves e o assessor parlamentar Diogo Ferreira permaneçam presos.
Ambos haviam sido detidos no âmbito da Operação Lava Jato na quarta-feira (25.nov.2015), sob a acusação de colaborar com uma trama para atrapalhar as investigações em conjunto com o Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo Dilma Rousseff no Senado.
Delcídio e o advogado Edson Ribeiro já haviam sido presos de forma preventiva, isto é, sem prazo para serem libertados. Esteves e Ferreira, contudo, haviam sido detidos por um prazo de cinco dias — que venceriam à meia-noite de domingo (29.nov.2015).
O Ministério Público Federal fez o pedido de conversão em prisão preventiva e Teori o aceitou, alegando que as provas recolhidas e depoimentos ouvidos nesta etapa da Lava Jato já reúnem os requisitos para mantê-los presos.
Segundo o despacho de Teori, soltar Esteves e Ferreira implicaria risco à ordem pública, à ordem econômica e à instrução criminal do caso.

GRAVIDADE
Para embasar a conversão da prisão do banqueiro, a Procuradoria-Geral da República citou o fato de tanto Esteves como Delcídio terem confirmado, em depoimentos, que tiveram encontros.
O procurador-geral Rodrigo Janot destacou o fato de Delcídio ter afirmado no depoimento que realmente teve uma conversa com André Esteves sobre o caso de Cerveró.
"Há agora a confirmação do próprio Delcídio do Amaral de que a conversa realmente existiu", escreveu Janot.
Em relação ao chefe de gabinete do senador, foram encontrados documentos na residência dele da delação premiada do lobista Fernando Baiano e da minuta preliminar da delação de Cerveró, ambos sigilosos.
Janot classificou esses achados como "de altíssima gravidade". "Revela sua disposição concreta, materializada, para incorrer em condutas manifestamente ilegais em auxílio a Delcídio do Amaral", escreveu o procurador-geral da República.

PRIORIDADE
Os integrantes do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR passaram o fim de semana analisando o material apreendido nas buscas feitas no dia da operação e dando prioridade ao caso.
A meta é que até esta segunda-feira (30.nov.2015) o procurador-geral Rodrigo Janot apresente denúncia ao Supremo contra Delcídio e os demais envolvidos neste caso. Isso porque, como os investigados estão presos, o prazo para finalizar o inquérito é mais exíguo.
A denúncia deve acusá-los de obstruir investigações de associação criminosa e, no caso do senador, de exploração de prestígio, já que ele prometeu conversar com ministros do Supremo em favor de um habeas corpus para soltar Cerveró.
Além dessa denúncia, os procuradores também voltam a investigar o envolvimento de Delcídio com a corrupção na Petrobras, já que sua atuação para evitar a delação de Cerveró seria justamente para que esses fatos não viessem à tona.
O ex-diretor Paulo Roberto Costa, por exemplo, havia dito em sua delação que Delcídio se beneficiou de propina, mas a PGR havia arquivado o inquérito por considerar que os elementos eram frágeis.
No domingo (29.nov.2015), uma das filhas de Delcídio foi visitá-lo na superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde ele está detido. Ela chegou ao local às 16h e só saiu por volta das 18h, sem falar com a imprensa.

PLANO DE FUGA
Delcídio, Ferreira e Ribeiro são acusados de montar um plano de fuga para Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras preso na Lava Jato. Eles foram gravados pelo filho de Cerveró, Bernardo, ofertando dinheiro e praticidades para a fuga quando o ex-diretor fosse solto.
Em troca, eles queriam ver seus interesses protegidos na delação premiada negociada por Cerveró. O banqueiro Esteves, do BTG Pactual, foi indicado como o financiador da operação.

ESTEVES RENUNCIA À PRESIDÊNCIA DO BTG
Após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter convertido a prisão de André Esteves, presidente do BTG Pactual, de temporária em preventiva, o executivo foi obrigado a renunciar ao cargo e também à presidência do conselho de administração do banco. Com isso, a gestão da instituição será compartilhada entre Roberto Sallouti e Marcelo Kalim, ambos diretores vice-presidentes seniores da instituição, que vão assumir como co-CEOs. As informações foram confirmadas pelo banco.
Já a presidência do Conselho de Administração do BTG ficará a cago de Pérsio Arida, sócio e fundador do banco, que desde a prisão de Esteves assumiu o comando interino do banco. Na vice-presidência do Conselho, será eleito John Huw Gwili Jenkins, sócio do BTG Pactual, com base no escritório de Londres.

OUTRO LADO
Todos os acusados negam os crimes, mas Delcídio entrou em contradição com Esteves — que está preso no Rio.
O advogado de Esteves, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse não ter conhecimento da decisão, mas que considerava não haver motivos para manter seu cliente preso.






De Bento Rodrigues, sobraram ruínas e lembranças — a Chernobyl brasileira



O distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, se transformou em ruínas


Varrido deste mundo, Bento Rodrigues, distrito rural de Mariana, foi tragado pela tsunami de lama e rejeitos de minério de ferro, no último dia 05.nov.2015, no maior desastre ambiental da História do Brasil.
Os manacás e tudo mais no povoado do século XVIII se perderam sob o mar de lama. Bento, como chamavam os moradores, se tornou uma Chernobyl brasileira. Não há contaminação radioativa, como na cidade ucraniana. Não há mais nada. Só a onipresente lama, que condenou Bento Rodrigues à desolação. As vozes por lá agora são as muitas vozes do vento. Ele assobia pelos destroços, faz um telhado quebrado chacoalhar estridente. Sacode uma copa de árvore pesada de lama num chiado seco. Bate portas. Rola pequenos objeto a esmo. Joga no chão fotos de família.
Nas poucas ruas reabertas pelas equipes de resgate perambulam alguns animais, deixados para trás pelos donos em fuga. Vez por outra, uma galinha solitária cisca nos destroços. Numa casa com lama até as janelas, três cachorros magros, um deles com os ossos a espetar a pele, rosnam e ainda montam guarda. Esperam por donos que não vão voltar. Se tiverem sorte, serão resgatados por voluntários. Duas marianinhas (pequenos papagaios) encontraram refúgio num telhado quebrado.
A vida tenta surgir em forma de brotinhos de capim. Mas basta uma chuva que a lama escorre e os leva embora. Não uma lama de barro comum, mas densa e viscosa. Passado quase um mês, ela ainda estala, incha e cheira forte à carniça e substâncias insondáveis. Engole animais. Ameaça equipes de resgate em piscinas de areia movediça.
As poucas casas ainda de pé, em ruínas e destelhadas, têm as janelas escancaradas para o vazio. No horizonte, no chão, nas paredes, na copa das árvores e nas encostas, tudo o que há é lama. Cinza e marrom, em muitos tons. O cinza vem dos restos do itabirito, a rocha que contém hematita, de onde se extrai o ferro. O marrom é da quantidade colossal de rocha estilhaçada em pedaços grandes como ônibus e pequenos como grão de areia.



Agora, as janelas das poucas casas em pé dão para o vazio


Poucas famílias conseguiram pegar o que restou


Cerca de 600 pessoas moravam em Bento Rodrigues


Sem consolo após tragédia
Em Mariana, a 35 quilômetros do epicentro da tragédia, os sobreviventes de Bento não veem consolo.
Pelas ruas desertas de Bento parecem vagar fantasmas. Não os dos mortos do antigo cemitério da Igreja de São Bento, arrastada pela tsunami, e que agora jazem num túmulo sob toneladas de rejeitos de minério. São as lembranças dos vivos, assombrados pelas perdas de parentes, amigos e da própria terra. A igreja do padroeiro, São Bento, se foi com a lama e seu sino badalou por centenas de metros até ser engolido.
No lugar que era dos cerca de 600 moradores de Bento há um caos de destroços. Um pé de bota é a única coisa no meio da rua principal. Na escola, se foram as portas e as janelas. Mas os quadros continuam nas paredes. Da Igreja de São Bento ficaram as ruínas do portal, dois degraus e um pedaço da base do batistério.
Um dos oficiais bombeiros que trabalham em Bento Rodrigues embarga a voz ao olhar para caos de restos de roupas, documentos, fotos.
— Estou acostumado com resgates, em ver gente em sofrimento. Mas nunca imaginei nada dessa dimensão. É uma desolação tão grande que faz pensar no que importa mesmo na vida. Nas pessoas que amamos — afirma ele.
Ao lado, um motorista de uma empreiteira diz que evita ver fotos do distrito antes da tragédia.
— Isso aqui já é uma coisa pavorosa. Descobrir como era a vida aqui só vai me deixar mais triste.
Fotos são exatamente o que Paula quer ver:
— Queria dar uma última olhada onde ficava minha casa. Poder me despedir da minha terra.
Cristiano teme que a tragédia seja esquecida.
— Ainda há desaparecidos. Ninguém nos informa nada direito. Busco olhar para o futuro. Mas vejo apenas ela, a tragédia, a lama.



A enxurrada de lama acabou com quase tudo


Ruínas da Escola Municipal Bento Rodrigues.
O desastre provocou a morte de 13 pessoas e deixou 10 desaparecidos


Maioria dos animais morre
Um cavalo branco tentar escapar em desespero da lama em Gesteira, no município de Barra Longa, em Minas Gerais. Ele empina e afunda sucessivas vezes. Como centenas de outros animais, se viu aprisionado ao tentar beber água no rio Gualaxo do Norte tomado pela lama, quase um mês após o desastre com a barragem da Samarco.
O cavalo consegue escapar, machucado.
Aos muitos animais vitimados no dia do rompimento, se somam outros todos os dias, já que a lama continua a prender aqueles que chegam perto do rio. Nas imediações do Gualaxo, vê-se pegadas de uma onça parda e teme-se pela sorte dela — já que são tão raras
A maioria dos animais presos morre antes que alguém os descubra. Alguns têm a sorte de serem localizados e, muitas vezes, são tirados com vida. Eles são levados para um galpão alugado pela Samarco às margens da rodovia MG-129 e mantido por voluntários.



Um cavalo branco tentar escapar da lama


Voluntária cuida de um potro retirado da lama por equipes de resgate:
 muitos animais que sobreviveram à tragédia sofreram mutilações


'O chão tenta engolir seus pés'
A lama já não se move mais como onda sobre a terra. Mas está viva. E continua a aterrorizar. Falta na língua portuguesa uma palavra que defina o monstro fétido feito de restos de minério e água que engolfa terra e rios por dezenas de quilômetros da Barragem de Fundão até virar simplesmente lama e se lançar no Rio Doce. Ele recebe o nome de lama. Mas é só por falta de outro melhor. Assim como é inominável o terror que se sente ao pisar sobre uma parte supostamente rasa, já nas imediações de Santa Rita Durão, alguns quilômetros abaixo de Bento Rodrigues.
A sensação é de pisar todo o tempo em falso. Um campo minado de bolsões ocultos de areia movediça. O chão cede em fração de segundos e tenta engolir seus pés. Parece relativamente firme, mas em instantes adquire a consistência de uma gelatina viscosa, que afunda, sinistramente macia. Quanto mais você se mexe para tentar se soltar, mais ela lhe prende.
Após quase um mês do rompimento da barragem da Samarco, parte do rejeito tem a aparência de seca por cima. É apenas uma perigosa ilusão. A parte seca é uma camada muito fina que pode esconder metros de gosma densa de minério. Mas, nessa gosma de ferro, cada passo é motivo de sofrimento.
Esse tipo de substância pode se comportar tanto quanto sólido como fluido. É exatamente isso, um monstro instável, uma ameaça sem prazo para se esgotar. Essa massa arrastou árvores e blocos de rocha imensos pelo caminho.
Se andar à luz do dia cuidadosamente e apoiado num bastão é um sofrimento, fica difícil imaginar como deve ter sido tentar fugir na escuridão da noite sobre a lama mole, que puxa tudo o que toca, em meio a destroços, sem saber para onde ir.



Natureza tenta reagir ao desastre em uma recuperação lenta


O desastre ambiental é o maior já registrado no Brasil


Em Minas, a lama destruiu 900 hectares de flora






domingo, 29 de novembro de 2015


A três anos de 2018, Lula tornou-se um ex-Lula quando medido pela taxa de intenção de votos. Segundo a pesquisa Datafolha, divulgada no sábado (28.nov.2015), 47% dos eleitores dizem que jamais votariam em Lula. Entre os potenciais presidenciáveis nenhum outro ostenta taxa de rejeição tão vistosa. Aécio é refugado por 24% do eleitorado. Alckmin e Marina são enjeitados por 17% dos pesquisados.
Lula caiu do pedestal, eis a principal informação contida na sondagem do Datafolha. Ele já foi pessoalmente imbatível. Em 2006, reelegeu-se cavalgando o escândalo do mensalão. Em 2010, eletrificou Dilma, seu poste. No ano passado, apesar do estrago promovido pelos delatores da Petrobras, conseguiu novamente carregar a pupila nas costas, mesmo tendo que anabolizar a propaganda de João Santana.
Hoje, Lula tornou-se o fardo de si mesmo. A ruína ético-financeira que destrói a gestão da falsa gerentona exerce sobre Lula os efeitos de uma espécie de kriptonita, a pedra usada na ficção pelos inimigos do Super-Homem para minar-lhe os superpoderes. A diferença entre realidade e ficção é que Lula não precisou de nenhum Lex Luthor para se tornar um político convencional.
Lula dispensa oposicionistas. O melado que escorre da Lava Jato teve origem na sua administração. O escândalo caiu no colo da sucessora, que teve de abolir do vocabulário sua expressão favorita: “herança maldita”. De resto, a capacidade gerencial de Dilma é uma fábula 100% criada por Lula.
No final dos seus dois reinados, em 2010, Lula era considerado o melhor presidente que o Brasil já teve por 71% dos eleitores. No final de 2014, o índice despencou para 56%. No último mês de abril, caiu pra 50%. Hoje, apenas 39% avaliam que nunca antes na história desse país houve um presidente como Lula.
Depois de tanta tempestade, começa a chegar a cobrança.



Mineração abre cratera, faz pico de montanha sumir e cria 'bairros fantasmas' em região de Minas



A tragédia de proporções ainda incalculáveis que brotou do coração da região mineradora de Minas Gerais expôs os conflitos e os dilemas da atividade no Estado.
No último dia 05.nov.2015, cerca de 40 bilhões de litros de lama foram derramados após o rompimento de uma barragem em Mariana com rejeitos da mineradora Samarco, presidida por Ricardo Vescovi e controlada pelas gigantes Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.

Paisagem de Mariana, no Quadrilátero Ferrífero de MG, com poeira de minério ao fundo

O "tsunami", que também tinha lama de uma mina da Vale, presidida por Murilo Ferreira, destruiu um vilarejo, matou peixes, invadiu o litoral do Espírito Santo, abalou o abastecimento de água de cidades ao longo do caminho e deixou ao menos 8 mortos e 11 desaparecidos — há cinco corpos sem identificação.
Os danos do desastre — ocorrido na cidade mineira que mais arrecadou com a extração mineral neste ano — já eram registrados, numa escala imensamente menor, há décadas nas cidades do chamado Quadrilátero Ferrífero.
Área na região central que concentra a maior parte da população urbana do Estado, o Quadrilátero engloba a capital, Belo Horizonte, e municípios cuja razão de ser é a mineração, como Congonhas, Nova Lima, Itabira e Brumadinho, além de Mariana e Ouro Preto, onde as primeiras minas foram cavadas no final do século 17.

Marco da Estrada Real no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG)

Transformações urbanísticas, mudanças inteiras de comunidades, danos ambientais e o funcionamento de barragens de rejeito em áreas urbanas são alguns dos eventos conhecidos da população dessas cidades.
Quase sempre, as mudanças foram feitas com a anuência do poder público.
Responsável por 17% do PIB de Minas, a mineração não causa dependência somente aos governos municipais e estadual: ONGs, projetos ambientais e até instituições culturais se mantêm graças ao dinheiro das empresas do setor.
No ano passado, segundo o governo mineiro, o Quadrilátero Ferrífero foi responsável quase pela metade do minério de ferro exportado pelo Brasil.

Vista de mina da Vale em Itabira (MG)

"Espero que essa tragédia ajude a repensar o modelo de mineração em Minas Gerais. Ele deve ser revisto", diz o médico Apolo Heringer Lisboa, 72 anos, um dos fundadores do Projeto Manuelzão, que luta pela defesa da bacia hidrográfica do rio das Velhas, um dos tantos que cortam o Quadrilátero.
Como mostrou a tragédia em Mariana, a forte dependência da mineração foi acompanhada de um afrouxamento dos órgãos de controle e fiscalização do Estado, que não têm estrutura adequada para acompanhar uma atividade tão grande e intensa.
Segundo o Ministério Público de Minas Gerais, em toda cidade mineradora há dezenas de procedimentos abertos pelo órgão que vão de queixas de moradores a inquéritos sobre eventuais danos ambientais.
O governo de Minas Gerais e seus órgãos ambientais, contudo, nem sequer têm inventariado os danos causados na região histórica pela mineração, que financia campanhas eleitorais no Executivo e no Legislativo.
DEPENDÊNCIA — No Parque Serra do Rola-Moça, que se espalha por cidades como Belo Horizonte, Nova Lima, Brumadinho e Ibirité, a mineração descontrolada deixou uma cratera numa área que circunda o local.
A exploração da mina foi liberada pelo Estado, nos anos 1990, sem que a pequena mineradora responsável — que não existe mais — apresentasse um projeto técnico. Anos depois, a Justiça embargou a área, atualmente abandonada.

Mina Casa Branca, desativada por estar irregular, no Parque Serra do Rola-Moça

"Esse é um grande exemplo do que uma mina não pode ser. Não somos contra a mineração, mas há lugares que nunca poderiam ser liberados para exploração", diz a ambientalista Maria Dalce Ricas, da AMDA (Associação Mineira de Defesa do Ambiente).
Em Brumadinho (a 53 km da capital), logo abaixo das montanhas do Rola-Moça, o empresário Bernardo Paz utilizou as antigas minas de sua mineradora, a Itaminas, para instalar o Instituto Inhotim, museu dedicado à arte contemporânea e que se mantém graças à mineração.
A Vale, a maior mineradora do Brasil, é um "patrocinador master" do instituto de Paz, conforme suas palavras, além de também ser parceira comercial da Itaminas.
"A mineração é a alma de Minas. O Estado só é o que é por causa do ouro, do diamante e do minério", ressalta.
Paz verbaliza a preocupação de muitos no Estado: a mineração, após o desastre de Mariana, não pode ser demonizada.
Vinte dias após a tragédia, o Legislativo mineiro aprovou projeto de lei proposto pelo governador Fernando Pimentel (PT) que acelera a concessão de licenças ambientais a empresas de mineração.
Críticos do projeto, como ambientalistas, apostavam que o clima de comoção gerado após o desastre em Mariana poderia contribuir para o texto ser barrado.

Barragem de rejeitos Pontal, em Itabira (MG)

LABORATÓRIO — Itabira (a 100 km de BH), cidade onde a Vale foi criada nos anos 1940 pelo então presidente Getúlio Vargas (em 1997, foi privatizada por FHC), é um laboratório para a exploração do minério de ferro em larga escala e exemplo das contradições da indústria mineral.
Um dos municípios que mais arrecada impostos da mineração no Estado, Itabira decretou este ano estado de calamidade financeira. A queda acentuada do preço da tonelada de minério de ferro e o desaquecimento do mercado internacional embaraçaram as contas municipais.

Barragem de rejeitos Pontal, vizinha ao bairro Bela Vista, em Itabira

As mudanças na geografia provocadas pela mineração são visíveis em toda a cidade. Bairros inteiros já foram removidos. O caso mais recente é o da Vila Paciência, localizado ao lado da linha ferroviária — por onde é escoado o minério — e de uma mina da empresa.
As explosões de dinamites na área afetavam a estrutura das casas e faziam com que pedras de minério fossem arremessadas no bairro.
A empresa disse que a desativação da antiga vizinhança era necessária para "aumentar a área de amortecimento" de suas operações.
Mas o processo de aquisição das casas, que começou em 2007, estancou sobretudo nos dois últimos anos. De centenas de imóveis, restaram na Vila Paciência apenas 29, alguns deles isolados em lotes que, agora, pertencem à Vale.

Vila Paciência, bairro desativado em Itabira; mineração abalava casas da área

"Vi o bairro nascer e, agora, estou vendo ele morrer", disse a aposentada Maria das Graças Teixeira, 65 anos, que mora há quase 50 anos na Vila Paciência. Sua casa está rodeada por lotes vazios. "O pior de tudo foi perder os vizinhos", conta.
Itabira tem na destruição do pico do Cauê uma das principais marcas da mineração: o antigo pico que tanto encantava o poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade hoje é uma enorme cratera que vem sendo utilizada pela Vale justamente como área de rejeito.
Contradição é o que mais se vê nas cidades mineradoras de Minas Gerais. Em Itabira, ela pode ser personificada na figura do aposentado da Vale João Batista, 61 anos. Sua casa, onde mora há 15 anos e adquirida graças ao trabalho na mineradora, está ao lado da barragem do Pontal, uma das seis existentes na cidade e a primeira de grande porte a ser construída no Estado. A área tem capacidade para receber mais de 122 bilhões de litros de lama.

À esquerda pico do Cauê, em Itabira (MG), em 1948; à direita, ao fundo, o mesmo local, 
hoje aplainado pela mineração

A empresa afirma que a barragem é segura e que ela passou por fiscalização do Estado em junho. A mineradora, no entanto, diz que após o acidente na barragem de Fundão, em Mariana, fez uma "verificação detalhada das condições estruturais de suas barragens".
A expansão do reservatório de rejeitos do Pontal nos últimos anos mudou o curso de um córrego, que agora passa a cinco metros do quintal de João Batista.
"A barragem já superou [em altura] minha casa. Não dá para ficar em paz quando chove. Eles falam que é muito seguro, mas a natureza, quando cobra, não avisa que vai cobrar. A insegurança e o medo tomam conta", afirma.
Ao encontrar a reportagem, nesta semana, Batista terminava de escrever mais uma carta para a empresa reclamando da situação ao lado de sua casa. Nunca recebeu resposta, mas ele não se importa.
"Acho que a empresa também não vai responder a essa carta. Mas tudo bem, alguma coisa eu preciso fazer", afirmou.



"A mineração é a alma de Minas. O Estado só é o que é por causa do ouro, do diamante e do minério"
BERNARDO PAZ, empresário e fundador do Inhotim, instituto voltado à arte contemporânea

Na foto, o pico do Cauê, que sumiu da paisagem de Itabira por causa da mineração. 
Foto do Arquivo Público Mineiro



O QUADRILÁTERO FERRÍFERO



CENTRO DA MINERAÇÃO — Região originalmente de mata atlântica, engloba a capital Belo Horizonte e outras cidades de Minas que vivem da mineração, como Brumadinho, Itabira, Mariana e Ouro Preto. Produz 60% do ferro do Brasil, segundo o "Global Environmental Change", periódico científico da área de geociências. Entre 2004 e 2010, de acordo com a publicação, 65% das minas de ferro do quadrilátero ferrífero cresceram em florestas nativas.






BALANÇA COMERCIAL



DESVALORIZAÇÃO — Atualmente, as cidades do Quadrilátero Ferrífero sofrem as consequências da queda do preço do minério de ferro. De janeiro de 2014 a outubro de 2015, o valor para exportação despencou de US$ 101 por tonelada para US$ 34. A queda é decorrência da crise mundial das commodities e da desaceleração da China.







sábado, 28 de novembro de 2015


Pesquisa Datafolha: corrupção é o maior problema do país, tema aparece pela primeira vez na pesquisa como principal mazela do Brasil para 34% — a pesquisa também aponta que 47% do eleitorado não votaria em Lula em 2018



Pesquisa Datafolha divulgada no sábado (28.nov.2015) apontou a corrupção como maior problema do país. Foi a primeira vez desde que o levantamento começou a ser feito, em 1996, que o tema apareceu como campeão das preocupações dos brasileiros. Desde 2008, a saúde era apontada como a principal mazela.
Segundo a pesquisa, realizada nos dias 25 e 26 deste mês, 34% dos 3.541 entrevistados elegeram a corrupção como maior problema. Em segundo lugar, ficou a saúde (16%), seguida pelo desemprego (10%) e educação e violência (empatados com 8%). A economia foi citada por apenas 6%.
A pesquisa foi feita na semana das prisões do senador Delcídio do Amaral (PT) e do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela Operação Lava-Jato. Sob as gestões Lula e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, corrupção nunca foi apontada como líder do ranking Datafoha. O máximo que conseguiu alcançar foi o índice de 9%.



Alto índice de rejeição de Lula — A pesquisa também aponta alto índice de rejeição ao nome de Lula. Quase metade dos entrevistados (47%) disseram que não votariam nele de jeito nenhum na próxima eleição presidencial. É uma das taxas mais altas já apuradas pelo Datafolha.
Não foi divulgado um histórico da rejeição de Lula.
O Datafolha mostra que a imagem de Lula como ex-presidente perde força com velocidade. Hoje, conforme o instituto, 39% o consideram o melhor presidente que o país já teve. Em 2010, esse índice era de 71%. No fim de 2014, ele caiu para 56%, em abril deste ano para 50%. Apesar disso, segue líder.





Corrida eleitoral em 2018 — Numa simulação de cenário eleitoral para 2018, o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, lidera a pesquisa de intenção de voto feito pelo Datafolha com 31%. Lula aparece em segundo lugar, com 22%, empatado tecnicamente com a ex-senadora Marina Silva (Rede), com 21%. Luciana Genro (PSOL) aparece com 3%, Eduardo Jorge (PV) 2% e Eduardo Paes 2%. Não sabem ou não responderam 19% dos entrevistados. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.





Num cenário com o governador de São Paulo Geraldo Alckmin como candidato do PSDB, Marina lidera, com 28%. Lula tem 22% e Alckmin 18%. Em todas as sondagens em que aparece, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tem 2%.







Avaliação do governo Dilma — A presidente Dilma Rousseff teve uma melhora da sua avaliação de governo. O índice de reprovação caiu de 71% em agosto para 67% agora. Para 22%, a gestão é regular — antes eram 20%. Para 10%, ela é ótima ou boa — antes eram 8%.






Do arquivamento à prisão — a guinada na trajetória de Delcídio Amaral em oito meses



Clique para ampliar





O castelo de cartas da Lava-Jato — em um ano, operação prendeu políticos, empresários e servidores, revertendo passado de impunidade



Clique para ampliar




quarta-feira, 18 de novembro de 2015


O recordista de permanência no Ministério da Fazenda



Governo Vargas. O ministro da Fazenda, Arthur de Souza Costa (à direita),
com os ministros Oswaldo Aranha (centro) e Eurico Gaspar Dutra
 

O gaúcho Arthur de Souza Costa, nascido no século retrasado, em 1893, assumiu o Ministério da Fazenda na década de 30, no governo de Getúlio Vargas, tornando-se o seu mais longevo titular, durante 11 anos. Souza Costa vinha de uma longa trajetória no setor financeiro. Presidente do Banco do Brasil de 1931 a 1934, após ocupar diversos cargos durante duas décadas no Banco da Província do Rio Grande do Sul, de “praticante de contabilidade” na adolescência a presidente da instituição financeira, Souza Costa tomou posse como ministro em 24 de julho de 1934, sucedendo a Oswaldo Aranha.
Na época, a “sorte financeira da República”, como diziam os jornais da época, estava abalada. O Brasil vivia os efeitos da crise global de 1929, quando a Bolsa de Valores de Nova York quebrou, e os Estados Unidos mergulharam na depressão econômica, arrastando os países ricos e os periféricos, produtores de matérias-primas. Eram tempos em que os preços do café despencaram e o produto-rei nacional era até queimado.
Por sinal, já nos anos 30, o país também tentava, tal como hoje, alcançar o equilíbrio fiscal, entre receitas e despesas do orçamento federal. O receituário de Souza Costa? “Economizar o máximo para tributar o mínimo” era manchete de jornal, em julho de 1939, baseada em declarações do ministro, homem-forte de Getúlio, então em plena ditadura do Estado Novo (1937-1945) após chegar ao poder com a Revolução de 1930. Aqueles eram tempos ainda de missões ao exterior que levavam o nome dos ministros da Fazenda. Ficaram famosas a Missão Souza Costa aos Estados Unidos, à Inglaterra, ao Uruguai e à Argentina. Em fevereiro de 1942, na viagem aos EUA, o ministro brasileiro foi recebido, em Washington, pelo presidente Roosevelt. Na Casa Branca, apresentou um plano de aumentar as exportações brasileiras para o mercado americano, incluindo “borracha, minério e óleos vegetais”, auxiliando no esforço de guerra americano.
Souza Costa também liderou, em julho de 1944, a delegação brasileira que participou da Conferência de Bretton Woods, nos EUA. Estiveram no encontro líderes de 44 países convocados por Roosevelt, entre eles Lord Keynes. Eles estabeleceram a nova ordem econômica mundial após a Segunda Guerra, sob a hegemonia do dólar, e criaram instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird). No grupo brasileiro estavam, entre outros, o conselheiro Eugênio Gudin, um liberal e o criador do primeiro curso de Economia do país (na Universidade do Brasil, hoje UFRJ), e o então chefe da Divisão de Estudos Econômicos e Financeiros da Fazenda, Octávio Gouvêa de Bulhões. O mesmo que, décadas depois, foi titular da pasta da Fazenda após o golpe de 1964, ficando no cargo até 1967. Uma das preocupações do plano do Brasil na conferência era garantir aos países da América Latina mercados constantes para as suas matérias-primas no pós-guerra.
Apenas com o curso secundário, Souza Costa era um autodidata. Falava inglês, francês e espanhol, aprendeu russo e japonês, e tornou-se doutor honoris causa em universidades estrangeiras. Na sua gestão na Fazenda, o Brasil também começava a montar a sua indústria de base com a criação, em 1941, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), após acordo de empréstimos com os americanos. Ele também mudou a política de câmbio, tornando-o livre. Dentro do ideário nacionalista de Vargas, houve ainda a encampação da Itabira Mining Company, resultando na criação da Companhia Vale do Rio Doce, em 1942.
No seu período, uma das medidas de maior repercussão foi a instituição do cruzeiro como o novo padrão monetário, além do acordo para a liquidação da dívida externa. Para os cariocas, uma das marcas deixadas na cidade foi a construção do Palácio da Fazenda, na Esplanada do Castelo, no Centro, sede do ministério no Rio de Janeiro, então capital da República.
Nascido em Pelotas no dia 26 de maio de 1893, Souza Costa ficou no cargo até 29 de outubro de 1945. Depois, elegeu-se deputado federal pelo PSD e participou da Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e, de 1949 a 1955, foi membro do Conselho Nacional de Economia. Na madrugada de 12 de abril de 1957, morreu pobre no Hospital da Beneficência Portuguesa, no Rio, sem ter acumulado fortuna.






Migração no Brasil — de onde veio a população de cada Estado



O Rio Grande do Sul é o Estado mais "bairrista" do país: é onde há menos moradores, proporcionalmente, que nasceram fora dali — 4,2%.
Em São Paulo, a maior parte da população de fora veio da Bahia, que representa 5% do total paulista. Mato Grosso do Sul é onde há maior proporção de estrangeiros — 1,1% —, provavelmente do Paraguai e de outros países vizinhos.
Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2014, levantamento recém-divulgado pelo IBGE.
A pesquisa ouviu 363 mil pessoas em 151 mil domicílios e considera como referência o mês de setembro. Segundo a estimativa, o Brasil tinha população de 203,2 milhões de habitantes nesse período.
Do total, 16% da população não mora no Estado onde nasceu. Essa proporção é bem maior em Estados mais afastados do centro econômico do país, como Roraima (45%) e Rondônia (44%), e atinge o máximo no Distrito Federal (49%), inaugurado em 1960.






A metodologia da pesquisa, feita por amostragem, não captou a presença de algumas naturalidades em determinados Estados.
Entre os moradores da Paraíba, por exemplo, não foi apontado nenhum morador que tivesse nascido em um conjunto de oito Estados (Acre, Amapá, Amazonas, Espírito Santo, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins).
Em outros, a participação é tão pequena que, no arredondamento, representa menos de 0,0% da população do Estado.
É o caso, por exemplo, dos amapaenses que moram em São Paulo (1.039) e dos roraimenses que residem na Bahia (323). Nos dois casos, eles representam 0,002% da população.






'Charlie Hebdo' ironiza terroristas — eles invejam o champanhe



Capa da edição do semanário satírico francês 'Charlie Hebdo'
que vai às bancas em 18 de novembro

"Eles têm as armas. A gente os irrita, temos o champanhe".
Essa foi a resposta que o semanário satírico francês "Charlie Hebdo" deu aos terroristas que realizaram ataques em Paris na sexta passada (13.nov.2015).
A edição, com data de 18.nov.2015, traz na capa o desenho de um homem tomando champanhe e o líquido vazando por buracos em seu corpo.
A maior parte dos atentados da semana passada aconteceu em bares da cidade.
No editorial da publicação, Antonio Fischetti escreve que, na "guerra de imagens, o Daech [como o Estado Islâmico é chamado na França] ultrapassa Goebbels [o ministro da Propaganda da Alemanha nazista]".
Segundo o jornalista, a regra geral nas guerras é inculpar o adversário e fazê-lo parecer sempre como o malvado.
"Até os nazistas tentaram negar as câmaras de gás".
Mas, para Fischetti, o Estado Islâmico inovou. "Ele não apenas não esconde a sua barbárie como a reivindica e a expõe".
"Melhor para nós", diz o editor, "pois não precisamos nos cansar inculpando o inimigo, já que ele próprio o faz".
"É mais tempo e energia que nos sobram para esmagá-lo", conclui.
Em janeiro deste ano, o "Charlie Hebdo" também foi alvo de ataque de terroristas islâmicos. Doze pessoas foram mortas no ataque.





domingo, 15 de novembro de 2015


Rombo na Petrobras: desvios de dinheiro podem chegar a R$ 42 bilhões — A Justiça Federal autorizou a quebra do sigilo telefônico da sede do diretório nacional do PT, em São Paulo




Depois da divulgação de uma cartilha em que o PT faz pose de vítima e ataca magistrados, investigadores e jornalistas, veio à luz um novo relatório da Polícia Federal. O documento reestima o rombo produzido pelos petrogatunos.
Os repasses indevidos da Petrobras para as empresas investigadas na Lava Jato podem chegar a inimagináveis R$ 42,8 bilhões.
Laudo concluído em 26 de outubro pela Polícia Federal (PF) indica que pagamentos indevidos feitos pela Petrobras para 27 empresas investigadas na Operação Lava-Jato podem chegar a R$ 42,8 bilhões. O período analisado compreende de 2004 a 2014. Até agora, a Lava-Jato estimava uma cifra máxima de desvios de R$ 20 bilhões, decorrentes de um suposto esquema de cartel e fraude a licitações conduzido pelas empreiteiras, em conluio com políticos de PT, PMDB e PP e funcionários da estatal. “Considerando que em ambiente cartelizado a competitividade fica praticamente descartada, estima-se que os percentuais de lucros excessivos aplicados pelas empreiteiras cartelizadas possam ter variado entre o mínimo de 3%, correspondente aos valores repassados a partidos políticos e aos ex-funcionários da Petrobras, podendo chegar a até 20%”, informa o documento da perícia da PF. Na análise, a PF considera que os 20% seriam “um percentual conservadoramente considerado como máximo para a majoração indevida dos lucros decorrentes dos preços excessivos, aplicados em ambiente desprovido de livre concorrência”. O relatório de análise técnica também elenca a origem dos pagamentos feitos pela Petrobras para as 27 empresas investigadas e conclui que totalizaram R$ 215,67 bilhões. Anexado aos autos da investigação sobre a Odebrecht, o laudo indica que as provas colhidas até agora evidenciam a prática do crime de cartel. O delito é o crime antecedente à lavagem de dinheiro que ampara as acusações do Ministério Público Federal (MPF). Os procuradores deverão apresentar denúncia por cartel até o ano que vem.
Uma cifra como essa (R$ 42,8 bilhões) faz ruir o Brasil alternativo que o petismo tenta criar para si, um país fictício em que nada aconteceu.
Melhor enxergar a realidade e reforçar o time de advogados. A Justiça Federal autorizou a quebra do sigilo telefônico da sede do diretório nacional do PT em São Paulo.
A Justiça Federal autorizou a quebra do sigilo telefônico da sede do diretório nacional do PT, em São Paulo, e de mais seis números que supostamente foram usados pelo ex-tesoureiro da sigla João Vaccari Neto, segundo o Ministério Público Federal. Os dados, já fornecidos pelas operadoras de telefonia e encaminhados à Justiça, também incluem interceptações telefônicas da linha do Sindicato dos Bancários e de uma ex-funcionária da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) que hoje é vinculada ao PT, além da linha pessoal de Vaccari, de sua esposa e da residência dele. "É de todo plausível considerar-se que João Vaccari tenha se utilizado de linha fixa de sua residência e de outros números do diretório do Partido dos Trabalhadores a fim de realizar contatos profissionais, sendo possível, ademais, que tenha solicitado que terceiros realizasses as ligações em questão", disse o Ministério Público em manifestação sobre a medida. Dois números ligados ao coordenador-geral da Editora Gráfica Atitude, Paulo Roberto Salvador, também tiveram o sigilo quebrado. Os dados telefônicos cedidos vão de julho de 2010 a julho de 2015, período que engloba duas campanhas presidenciais. As medidas solicitadas pelo Ministério Público Federal integram a ação que investiga se a Gráfica Atitude foi usada pelo ex-tesoureiro do PT para lavar dinheiro de propina recebida por contratos com a Petrobras. As revelações sobre o esquema foram feitas pelo ex-executivo da Toyo Setal Augusto de Mendonça, que fez acordo de delação premiada. O advogado de Vaccari, Luis Flávio Borges D'urso, classificou as quebras de sigilo envolvendo outras pessoas e entidades que não são seu cliente como "devassa" e entrou com uma petição nesta quinta (11) para tentar excluir os dados telefônicos do PT e do Sindicato dos Bancários da ação. "Solicitamos que o juiz afaste telefones de pessoas e de instituições, como o próprio PT, que são estranhas ao processo. Não há necessidade. Pedimos para que ele reverta essa situação", disse D'urso. Ele também afirmou que seu cliente está "tranquilo" porque "não há nada de irregular nas suas ligações". Vaccari está preso em Curitiba (PR) há sete meses. Ele foi detido na 12ª fase da Operação Lava Jato. Além de ter sido tesoureiro do PT, foi presidente do Sindicato dos Bancários e da Bancoop. Procurado pelo reportagem, o PT afirmou que não comentará quebra de sigilo de sua linha telefônica.






Em depoimento, filho de Lula não consegue explicar como ganhou R$ 2,5 milhões do escritório de consultoria Marcondes & Mautoni — à Polícia Federal, Luís Cláudio reconhece falta de experiência e o empresário Mauro Marcondes admite que cifras pagas eram “absurdas”




Luís Cláudio da Silva é o filho caçula do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele tem 30 anos e é formado em educação física. Depois de trabalhar para times de futebol em São Paulo, Luís Cláudio resolveu se aventurar no mundo do marketing esportivo. Para isso, abriu uma empresa, a LFT, que não tem nenhum funcionário além dele. Logo, começou a prosperar. O primeiro contrato foi com o Corinthians, o time do coração do pai — que, na época, trabalhou abertamente para que a construtora Odebrecht viabilizasse um estádio para o clube, o Itaquerão. Luís Cláudio assinou um contrato de R$ 300 mil por ano com o time paulista, que previa a criação de campanhas de marketing para desenvolver o esporte amador e atividades lúdicas para crianças.
Depois de estrear no mundo empresarial no Corinthians, Luís Cláudio ganhou, entre 2014 e 2015, R$ 2.552.400,00 do escritório de consultoria de Mauro Marcondes, Marcondes & Mautoni, cuja especialidade era representar montadoras de carro. Luís Cláudio prestaria à consultoria de Marcondes consultoria técnica e assessoramento empresarial de marketing esportivo. E foi aí que começaram os problemas em sua vida. Luís Cláudio agora é um dos investigados pela Operação Zelotes, da Polícia Federal. Seu nome surgiu após a PF começar a investigar Marcondes. Em 1o de outubro, publicou-se que Marcondes era suspeito de “comprar” medidas provisórias editadas entre 2009 e 2013 para favorecer montadoras, por meio de incentivos fiscais. Em 26 de outubro Marcondes foi preso. No dia 4 de novembro, Luís Cláudio foi convocado à superintendência da Polícia Federal, em Brasília. A reportagem obteve o depoimento de Luís Cláudio e, também, o depoimento dado por Mauro Marcondes quando já estava preso no Complexo da Papuda, em Brasília. Os dois depoimentos sugerem que ainda há muito a ser esclarecido sobre o contrato de Luís Cláudio com a empresa de consultoria de Mauro Marcondes. “É como se um não soubesse por que pagou e outro não soubesse por que recebeu”, disse uma pessoa próxima à investigação.


Luís Cláudio disse aos investigadores que a empresa teve somente dois clientes até hoje: justamente o Corinthians e a consultoria de Marcondes, a Marcondes & Mautoni. No depoimento, ele tem dificuldades para explicar o que é consultoria técnica e assessoramento empresarial de marketing esportivo e para dizer quais suas qualificações para prestar esse serviço — que, aliás, afirma que realizou sozinho. Consta na declaração: “Que os projetos contratados pela Marcondes e Mautoni foram executados diretamente pelo declarante, que a formação do declarante é a graduação em educação física, não possuindo nenhuma especialização acadêmica em marketing esportivo”. Em outro momento do depoimento, a PF pergunta sobre um dos projetos, calculado em R$ 1 milhão. O filho de Lula admite que nunca tinha feito aquele serviço antes. “Que nunca tinha realizado estudo ou projeto contendo o mesmo objeto dessa minuta deste contrato”, diz o depoimento. Para fazer algo que nunca tinha feito antes, Luís Cláudio recebeu R$ 1 milhão.
No total, Luís Cláudio e Marcondes acertaram seis serviços, entre junho e julho do ano passado, embora Luís Cláudio tenha afirmado que não executou todos. Os contratos têm de tudo um pouco: trabalhos relativos à Copa do Mundo, violência nos estádios e até um genérico “elaboração de análise de marketing esportivo como fator de motivação e integração nas empresas com exposição de casos e oportunidades”.
No depoimento, a PF tentava esclarecer uma pergunta simples: como se chegou ao valor milionário da consultoria? A memória de Luís Cláudio, contudo, falhava. “Não se recorda, neste momento, o valor desse projeto”, diz o depoimento. De acordo com Luís Cláudio, o valor milionário foi calculado a partir das horas trabalhadas. E quanto Luís Cláudio teve de trabalhar nos projetos contratados? Diz o documento: “Que utiliza como parâmetro a quantidade de horas trabalhadas para a fixação dos valores cobrados aos seus clientes nos projetos que executa, que não sabe mensurar, neste momento, o valor cobrado pela sua hora de trabalhar”. Mas quantas horas Luís Cláudio teve de trabalhar? De novo, ele não soube responder. Luís Cláudio tampouco sabe responder sobre o negócio. Qual a margem de lucro? E quanto custou para executar o projeto? “Que, neste momento, não tem noção de quanto foi o custo de execução desse projeto; que também não sabe, neste momento, declinar a margem de lucro obtida nesse contrato”, diz o documento.


A Polícia Federal fez uma mesma pergunta para Luís Cláudio, contratado, e Marcondes, contratante. Por que o escritório de advocacia escolheu a empresa LFT? “Que Mauro Marcondes nunca explicou ao declarante por que optou por contratá-lo; que não sabe dizer se o Mauro Marcondes realizou alguma pesquisa de mercado antes de contratar o declarante”, diz o depoimento. Marcondes, por sua vez, preferiu o silêncio.  No depoimento, a PF pediu que Luís Cláudio apresentasse os documentos que comprovassem os serviços prestados. Dias antes, a busca e apreensão no escritório da LFT tinha sido infrutífera. Os vizinhos relataram aos policiais que o escritório parecia que estava de mudança, em razão da intensa retirada de documentos.
Em seu depoimento, Luís Cláudio não apresentou relatórios que comprovassem os serviços prestados. À Polícia Federal, ele disse que, sim, produziu relatórios e que ficou com cópias, mas que havia entregue a advogados para uma “confirmação jurídica” — seja lá o que isso significa. O escolhido para guardar os documentos foi Roberto Teixeira, advogado do pai, Luiz Inácio Lula da Silva. Por que Luís Cláudio não levou à PF? “Além de não conhecer a legislação, não sabia da investigação em curso envolvendo o nome do declarante e também (disse que) é habitual os ataques à sua família por parte da imprensa.” Os documentos só foram entregues à PF após a análise do escritório de Roberto Teixeira.
De acordo com Marcondes, “a contratação da LFT Marketing Esportivo refere-se à realização de estudo para um projeto de implantação de um centro de exposição numa cidade do interior de São Paulo”. Nada a ver com marketing esportivo. Marcondes, contudo, recusou-se a dar detalhes sobre o tal centro de convenções. O consultor, aliás, sempre optava pelo silêncio quando a PF o questionava sobre os serviços contratados com Luís Cláudio. Não explica, por exemplo, como escolheu a empresa do filho de Lula. Marcondes, contudo, admite que sabia que o valor pago era “absurdo”. De acordo com o depoimento, ele disse que fez uma “pesquisa superficial” para saber dos preços. Quem fez a pesquisa foi um estagiário da empresa de Mauro. “Ele constatou que eram absurdos”, disse Marcondes no depoimento. Isso, contudo, não o impediu de pagar cerca de R$ 2,5 milhões a Luís Cláudio, que trabalhava sozinho e nunca tinha prestado aquele tipo de serviço antes. Essa equação financeira está sendo investigada pela PF.

DETIDO — O advogado Mauro Marcondes Machado,
dono da Marcondes & Mautoni. Sua empresa repassou R$ 2,5 milhões ao filho de Lula

Marcondes também falou à PF sobre suas andanças no Palácio do Planalto, onde diz ter estado por “diversas vezes” durante o governo Lula, em razão de ser vice-presidente da Anfavea, a associação das montadoras. Ele citou nominalmente encontros com Gilberto Carvalho, para entregar estudos de interesse das montadoras. Gilberto também é alvo da Operação Zelotes. Marcondes afirma que “nas reuniões com Gilberto Carvalho não foram tratados assuntos referentes a edição de medidas provisórias para a prorrogação de benefícios fiscais”. Ele citou ainda que “a entrega dos documentos (a Gilberto Carvalho) ocorreu antes da edição da Medida Provisória 412/2009” — que prorroga incentivos fiscais para a compra de máquinas e equipamentos de uso na movimentação de cargas nos portos brasileiros.
Procurado, o advogado de Luís Cláudio, Cristiano Zanin Martins, disse: “Luís Cláudio Lula da Silva, profissional da área privada, já prestou às autoridades todos os esclarecimentos que lhe foram solicitados”. A assessoria do Corinthians disse que não poderia confirmar hoje qualquer função que Luís Cláudio tenha exercido no clube por meio da LFT, por não dispor dessas informações de bate-pronto. Contatado, o advogado de Mauro Marcondes não respondeu até o fechamento da reportagem.






Corinthians pagou pelo menos R$ 400 mil a Luís Cláudio, filho de Lula, desde 2010 — Andrés Sanchez, presidente corintiano na época, diz que caçula do ex-presidente era olheiro, preparador físico e responsável por parcerias com outros clubes, mas cargo oficial era outro: auxiliar de escritório



Luís Cláudio da Silva, filho caçula do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Luís Cláudio Lula da Silva, filho caçula do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu pelo menos R$ 400 mil do Corinthians por serviços prestados em um período que começou na gestão de Andrés Sanchez, hoje deputado federal pelo PT e superintendente de futebol do time, quem bancou sua contratação e manutenção no clube, e terminou na de Mário Gobbi, delegado que se afastou do futebol depois que deixou a presidência no ano passado. O que impressiona é a quantidade de funções desempenhadas por ele: preparador físico, olheiro, profissional do marketing e ... assistente de escritório.
A história de Luís Cláudio no Corinthians se divide em duas: uma com carteira assinada, como pessoa física, e outra como prestador de serviço por meio de uma de suas empresas, como pessoa jurídica.
Andrés Sanchez e Mário Gobbi, respectivos presidente e diretor de futebol no período, anunciaram em 16 de dezembro de 2009 o filho de Lula como preparador físico, função que desempenhara antes nos rivais Palmeiras, São Paulo e Santos. O cargo descrito na carteira de trabalho dele, porém, era outro: auxiliar de escritório.
Por este período, cerca de seis meses com carteira assinada pelo Corinthians em 2010, o caçula de Lula — à época com 24 anos — recebeu aproximadamente R$ 120 mil. O salário-base era de cerca de R$ 15 mil mensais, mas o valor depositado foi maior em alguns meses — e ainda entra na soma o valor da rescisão contratual.
Luís Cláudio pediu demissão em 5 de julho de 2010, conforme nota publicada no site do clube naquele dia, mas continuou a receber do Corinthians por mais dois anos por meio de contratos de prestação de serviços. O valor de um desses contratos, com base no depoimento que o caçula de Lula prestou à Polícia Federal (PF), é de R$ 300 mil. A proposta, nesta fase, disse ele, era trabalhar no marketing direcionado para o esporte amador.
Procurado, Sanchez afirmou que o filho de Lula era responsável por três funções no clube: (1) "levantar atletas", como um olheiro; (2) firmar parcerias com outros clubes; e (3) atuar como preparador físico. Questionado sobre resultados entregues por Luís Cláudio durante todo o período, o ex-presidente corintiano não quis entrar em detalhes. "Aqui é uma empresa privada, contratamos vários profissionais. Tudo aqui é aprovado pela diretoria e pelo Cori (Conselho de Orientação)", disse o atual superintendente de futebol.
O advogado de Luís Cláudio, Cristiano Zanin Martins, não respondeu nenhuma das perguntas feitas e informou que ele, "profissional da área privada, já prestou às autoridades todos os esclarecimentos que lhe foram solicitados".