segunda-feira, 8 de agosto de 2011


Campanha da Legalidade

Ex-prefeito de General Câmara, Francisco Pereira Rodrigues, participou da ação orientado por Brizola.
Brizola queria saber o que se passava no Arsenal do Exército

O movimento da Legalidade, em 1961, teve como centro principal a cidade de Porto Alegre, de onde o governador Leonel Brizola comandava a resistência, diante do veto militar à posse de João Goulart. Mas, em outros municípios gaúchos também ocorreu mobilização, em maior ou menor grau, envolvendo principalmente militantes trabalhistas, ligados partidária ou ideologicamente à figura de Brizola. Uma dessas cidades é General Câmara, situada às margens do Rio Taquari, na Região Metropolitana.

O advogado e escritor Francisco Pereira Rodrigues era prefeito de General Câmara, pelo PTB, quando irrompeu a Legalidade. Ele comandava um município importante, por ser a sede do Arsenal de Guerra do III Exército (que compreendia Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), o atual Comando Militar do Sul. Nessa condição, o local era encarregado da fabricação e reforma de armamento, além de munição, para toda a força militar, portanto, de importância estratégica naquele contexto. Os funcionários – todos civis – eram cerca de 800, sob o comando de militares. Nas proximidades se localizava o batalhão do Exército local.

Quando começou o movimento legalista de 61, vários prefeitos gaúchos se colocaram à disposição de Brizola, muitos deles se oferecendo para ir lutar a partir de Porto Alegre, se necessário. Aconteceram fatos curiosos, como o de Jair Calixto, prefeito de Nonoai, no norte do Estado, que juntou armas e homens para seguir em direção à capital gaúcha – sendo demovido depois, pois não haveria necessidade desse reforço.

Em General Câmara, o prefeito Francisco Pereira Rodrigues também resolveu oferecer sua colaboração, disposto a viajar com homens armados. “Liguei para o Palácio Piratini e recebi um recado de Brizola, transmitido por meu irmão, Lauro Rodrigues, que tinha se incorporado aos resistentes. O governador mandava agradecer, mas afirmava que não seria interessante nós irmos para Porto Alegre. Ele dizia que eu não saísse da sede do município e me mantivesse vigilante à movimentação do Arsenal”, conta o ex-prefeito.

Foi o que fez. Rodrigues conta que organizou um grupo de trabalhistas e outros simpatizantes, para ficar, dia e noite, se revezando em turnos, observando as instalações militares. “Também contávamos com informações de alguns funcionários civis que trabalhavam na fabricação de armas”. Em determinado momento, veio a notícia de que um general estava chegando para assumir o Arsenal. “Nos armamos e fomos até o campo de aviação. Mas era boato”. Ele constata, também, que o comandante do Arsenal, “simpatizante lacerdista”, teve uma “atitude correta” durante toda a Legalidade, não tomando qualquer atitude que fosse prejudicar o movimento.

“O que poderíamos fazer, não sei, pois éramos civis, mas sei que a qualquer gesto suspeito iríamos imediatamente comunicar a Brizola”, afirma. Como precaução, o próprio Rodrigues carregava sempre seu revólver calibre 38.

Segundo o ex-prefeito, a importância do Exército na formação da cidade é tão grande que General Câmara – localizado na região carbonífera do Estado — surgiu em função do próprio Arsenal. Este foi transferido em 1940 para o município, pois até então ocupava instalações no Centro de Porto Alegre. Datado de 1867, na época do Rio Grande do Sul Província, tinha entre outras funções realizar o apoio logístico, a fabricação, a recuperação de armamentos e munições da época.

Rodrigues conta que como havia galpões e outras instalações disponíveis, o Arsenal logo começou a funcionar, ocupando cerca de 1.100 funcionários e suas famílias, que praticamente construíram a cidade. General Câmara, que era distrito de Santo Amaro, passou a sede do município, status que detém até hoje.

Nesse contexto, Rodrigues – que é natural de Santo Amaro — atribuiu a Brizola “tudo o que General Câmara tem hoje”. Explica: “Quando fui eleito prefeito, a água da cidade era do Arsenal, assim como a energia elétrica e o ginásio local. O prefeito era uma figura decorativa. Ficava difícil administrar. Fiz um pedido a Brizola e em pouco tempo contávamos com o fornecimento de água pela Corsan e de energia pela CEEE”.

Rodrigues se lembra da Legalidade como “dias de tensão, mas de muita paixão, em que houve mobilização por parte de vários companheiros. O Rio Grande do Sul se uniu em torno de uma ameaça. O movimento foi centralizado em Porto Alegre e nós, no interior, tínhamos muita expectativa sobre o que iria acontecer”.


Vídeo: Legalidade - 50 anos -
Programa 1 - RBS TV





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