
- Ela está muito viva! Todos aqui sabíamos disso. Ela estava trabalhando até o domingo - 21 de agosto - no hospital. Nós a vimos por volta das 12h. Escapou e Kadafi mentiu para o mundo - disse o anestesista Saif Moussa, de 29 anos.
Outro cirurgião, Abdul Jalil, completou:
- Kadafi é o maior mentiroso da História da Líbia.
Com o regime desmoronando, verdades, meias verdades, mentiras e segredos começam a emergir. Pelo menos quatro médicos do hospital confirmam a versão de que Hana nunca morreu -- embora o regime de Kadafi tenha justificado recentemente que Hana é uma segunda filha que Kadafi teria adotado logo depois da trágica morte da primeira. O mesmo nome teria sido dado por ele em homenagem à morta. Mas ninguém no hospital acredita nisso. Hana, recém-formada em Medicina, já comandava o maior hospital do país.
A ordem era não atender rebeldes
Os médicos contam que logo depois do início do levante em Trípoli, na sexta-feira - 19 de agosto, alguns rebeldes feridos tiveram o azar de serem enviados para o principal hospital da cidade, em vez de ir para outros menores. E a ordem de Hana, segundo os médicos, era clara: deixá-los morrer.
- Ela não queria que tratássemos dos rebeldes, que ela chamava de ratos. Ela disse: "Não dê para eles sangue". Nós ficamos com muito medo, mas tratamos deles - contou Saif.

Ashref Shaebi, de 35 anos, um dos cirurgiões mais preparados do hospital, com mestrado no Reino Unido e membro do Royal College de cirurgiões da Inglaterra, conta que ficava revoltado por ser comandado por uma jovem recém-formada e arrogante, com poder de decidir a vida do hospital e demitir quem quisesse.
- Eu não gostava dela. Ela acabou de se formar e se tornou chefe de todo o hospital. Nós todos sabíamos quem era, mas ninguém ousava tocar neste assunto com ela - contou Shaebi.
Kadafi tem oito filhos biológicos e dois adotivos (Hana e Milad). Dúvidas sobre se Hana teria mesmo morrido pairam já há algum tempo e aumentam à medida que o regime desmorona. Segundo o jornal britânico "Daily Mail", documentos obtidos pelos rebeldes na embaixada líbia no país mostram que o embaixador organizou, em 2008, a ida ao país de um dentista inglês, Stephen Hopson, para tratar de uma "Miss Hana Kadafi", filha do ditador, segundo o fax enviado pelo profissional confirmando a estada de uma semana em Trípoli.
Em 1999, uma agência oficial da China noticiou, com uma foto, a presença de Hana Kadafi junto com o pai e Aisha (filha legítima do ditador) em um almoço com Nelson Mandela - ainda presidente da África do Sul. Foi naquela ocasião que o governo líbio teria justificado a presença da jovem, alegando ser uma segunda filha adotiva de Kadafi, com o mesmo nome (e aparentemente a mesma idade) em homenagem à primeira. Desde o bombardeio americano de 1986, Kadafi explorou politicamente a morte da filha a cada oportunidade. Quando o ataque completou 20 anos, em 2006, organizou inclusive, um "Festival Hana para Liberdade e a Paz".
Em maio passado, o Ministério da Informação anunciou a morte do filho do ditador, Saif al-Arab, de 29 anos, e seus três filhos, num bombardeio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Um funeral foi organizado vários dias depois. Kadafi esbravejou vingança. Mas, dessa vez, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, cujo país foi forte aliado de Kadafi, duvidou. Em entrevista à televisão italiana, ele disse:
- Mesmo no caso dos netos (de Kadafi), me parece infundado.
Morta ou não, o fato é: uma certa Hana Kadafi aparece na lista de 23 nomes que o ditador líbio deixou como beneficiários de uma fortuna que foi congelada em um banco suíço, segundo o jornal alemão "Die Welt", que obteve a cópia de um documento mostrando que, na lista, Hana aparece em 7º lugar.
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