sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Filha de Kadafi dada como morta no bombardeio de 1986 está viva e seria a diretora do hospital de Trípoli

Para o mundo, Hana, a filha adotiva de Muamar Kadafi, morreu aos 15 anos de idade vítima do bombardeio dos Estados Unidos ao complexo do ditador, em 1986. Ela estaria enterrada em Trípoli há 25 anos. Mas os médicos do principal hospital da cidade afirmam que a jovem e poderosa cirurgiã que vive cercada de guarda-costas e que, até domingo passado, mandava e desmandava no hospital, não é um fantasma: é a mesma Hana Kadafi.
- Ela está muito viva! Todos aqui sabíamos disso. Ela estava trabalhando até o domingo - 21 de agosto - no hospital. Nós a vimos por volta das 12h. Escapou e Kadafi mentiu para o mundo - disse o anestesista Saif Moussa, de 29 anos.
Outro cirurgião, Abdul Jalil, completou:
- Kadafi é o maior mentiroso da História da Líbia.
Com o regime desmoronando, verdades, meias verdades, mentiras e segredos começam a emergir. Pelo menos quatro médicos do hospital confirmam a versão de que Hana nunca morreu -- embora o regime de Kadafi tenha justificado recentemente que Hana é uma segunda filha que Kadafi teria adotado logo depois da trágica morte da primeira. O mesmo nome teria sido dado por ele em homenagem à morta. Mas ninguém no hospital acredita nisso. Hana, recém-formada em Medicina, já comandava o maior hospital do país.

A ordem era não atender rebeldes
Os médicos contam que logo depois do início do levante em Trípoli, na sexta-feira - 19 de agosto, alguns rebeldes feridos tiveram o azar de serem enviados para o principal hospital da cidade, em vez de ir para outros menores. E a ordem de Hana, segundo os médicos, era clara: deixá-los morrer.
- Ela não queria que tratássemos dos rebeldes, que ela chamava de ratos. Ela disse: "Não dê para eles sangue". Nós ficamos com muito medo, mas tratamos deles - contou Saif.
A reportagem visitou a sala no último andar do enorme hospital onde os médicos dizem que Hana trabalhava. Ao contrário da pequena sala dos médicos, mal mobiliada, a sala da jovem cirurgiã era a de uma executiva de empresa: sofás e cadeiras confortáveis, o último modelo de uma sofisticada máquina de café europeia e um grande banheiro. Hana teria saído às pressas no último domingo. Vestia um lenço na cabeça e, no hospital, foi vista com roupa de cirurgiã. Ela mesma esvaziou as gavetas. Só deixou para trás estoques de cápsulas de café importado, a máquina de café, e um creme para o rosto da marca francesa Dior.
Ashref Shaebi, de 35 anos, um dos cirurgiões mais preparados do hospital, com mestrado no Reino Unido e membro do Royal College de cirurgiões da Inglaterra, conta que ficava revoltado por ser comandado por uma jovem recém-formada e arrogante, com poder de decidir a vida do hospital e demitir quem quisesse.
- Eu não gostava dela. Ela acabou de se formar e se tornou chefe de todo o hospital. Nós todos sabíamos quem era, mas ninguém ousava tocar neste assunto com ela - contou Shaebi.
Kadafi tem oito filhos biológicos e dois adotivos (Hana e Milad). Dúvidas sobre se Hana teria mesmo morrido pairam já há algum tempo e aumentam à medida que o regime desmorona. Segundo o jornal britânico "Daily Mail", documentos obtidos pelos rebeldes na embaixada líbia no país mostram que o embaixador organizou, em 2008, a ida ao país de um dentista inglês, Stephen Hopson, para tratar de uma "Miss Hana Kadafi", filha do ditador, segundo o fax enviado pelo profissional confirmando a estada de uma semana em Trípoli.
Em 1999, uma agência oficial da China noticiou, com uma foto, a presença de Hana Kadafi junto com o pai e Aisha (filha legítima do ditador) em um almoço com Nelson Mandela - ainda presidente da África do Sul. Foi naquela ocasião que o governo líbio teria justificado a presença da jovem, alegando ser uma segunda filha adotiva de Kadafi, com o mesmo nome (e aparentemente a mesma idade) em homenagem à primeira. Desde o bombardeio americano de 1986, Kadafi explorou politicamente a morte da filha a cada oportunidade. Quando o ataque completou 20 anos, em 2006, organizou inclusive, um "Festival Hana para Liberdade e a Paz".
Em maio passado, o Ministério da Informação anunciou a morte do filho do ditador, Saif al-Arab, de 29 anos, e seus três filhos, num bombardeio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Um funeral foi organizado vários dias depois. Kadafi esbravejou vingança. Mas, dessa vez, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, cujo país foi forte aliado de Kadafi, duvidou. Em entrevista à televisão italiana, ele disse:
- Mesmo no caso dos netos (de Kadafi), me parece infundado.
Morta ou não, o fato é: uma certa Hana Kadafi aparece na lista de 23 nomes que o ditador líbio deixou como beneficiários de uma fortuna que foi congelada em um banco suíço, segundo o jornal alemão "Die Welt", que obteve a cópia de um documento mostrando que, na lista, Hana aparece em 7º lugar.

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