Crescimento chinês dá sinais de esgotamento
Desenvolvimento do país é baseado no excessivo volume de investimentos, que alimenta a inflação.
A China pode conseguir um "pouso suave" no curto prazo, mas é cada vez maior o número de economistas e instituições que veem um cenário turbulento para o país em um futuro não muito distante, fruto do esgotamento do modelo de crescimento baseado no excesso de investimentos, que alimenta a inflação e empurra o endividamento a patamares insustentáveis.
O desequilíbrio crônico da economia chinesa se acentuou em 2009 e 2010, quando os bancos financiaram um boom de investimentos com empréstimos recordes de US$ 2,7 trilhões, valor que supera o PIB brasileiro. Muitos desses recursos foram destinados a projetos sem viabilidade econômica, que não vão gerar caixa para o pagamento do crédito.
Segundo a agência de classificação de risco Fitch, a explosão de financiamento dos últimos dois anos superou a registrada no Japão antes do colapso das bolhas de imóveis e ações no anos 90 e pode elevar o percentual de créditos podres do sistema financeiro a 30% - hoje, ele ronda os 7%. "Esse não é um modelo de crescimento sustentável, porque é movido a esteroides", afirma o americano Patrick Chovanec, professor da Universidade Tsinghua, em Pequim. "É inevitável uma correção e quanto mais tempo ela demorar, pior."
O grupo The Conference Board previu que a China vai desacelerar de forma "significativa" dentro de dois a três anos, em razão de medidas "drásticas" que Pequim terá de adotar para mudar seu modelo de crescimento. Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim, prevê redução "dramática" do ritmo de expansão da segunda maior economia do mundo, para um patamar de 3%, mas acredita que os ventos só mudarão depois que a nova geração de líderes chineses assumir o comando do país, em 2013.
Desequilíbrio
Com queda da demanda global, inflação superior a 6% e aumento do endividamento, os dois economistas acreditam que Pequim não conseguirá mais adiar o reequilíbrio de seu modelo de desenvolvimento, o que significa redução na velocidade de expansão dos investimentos e aumento do consumo.
Para o Brasil, a eventual mudança se refletirá na queda das vendas de minério de ferro, principal item da pauta de exportação do país, cujo maior comprador é a China. Em tese, o impacto sobre a balança comercial brasileira poderia ser neutralizado caso houvesse elevação significativa do consumo, que levaria ao aumento da demanda por alimentos, dizem Chovanec e Pettis. Nesse caso, a pauta mudaria, mas as exportações poderiam se manter em patamares elevados.
Mas o professor da Tsinghua acredita que o cenário mais provável é a desaceleração dos investimentos sem elevação correspondente do consumo. Para ele, a inflação é a principal restrição à continuidade do atual modelo, já que a expansão do crédito aumenta a quantidade de dinheiro em circulação e pressiona os preços.
No mês passado, a inflação atingiu 6,5%, o maior patamar em três anos, apesar das medidas de aperto monetário adotadas pelo Banco do Povo da China - desde outubro, houve cinco altas da taxa de juros e nove elevações do depósito compulsório dos bancos. Chovanec não está seguro de que os dirigentes chineses conseguirão esperar até a transição de poder em 2013 para enfrentar o ajuste.
Crucial para o desempenho futuro da economia chinesa, o setor imobiliário pode sofrer uma correção no fim de 2011 ou início de 2012, na avaliação de Stephen Joske, diretor da Economist Intelligence Unit na China.
Segundo ele, os investimentos na construção de imóveis aumentaram em patamar muito superior às vendas nos últimos meses, o que pode provocar excesso de oferta. A resposta dos empreendedores será o adiamento ou suspensão de projetos, o que afetará o nível de investimentos e, por tabela, a demanda pelo minério de ferro brasileiro.
O cenário de curto prazo do Morgan Stanley e do Deutsche Bank piorou, apesar de ambos continuarem a apostar em um pouso suave. Na semana passada, as duas instituições reduziram suas projeções de crescimento. A estimativa para 2012 do Morgan Stanley passou de 9,0% para 8,7%, enquanto a do Deutsche caiu de 8,6% para 8,3%.
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