domingo, 28 de agosto de 2011

Mansões voadoras
Chão de mármore e ducha no banheiro. Essas são algumas das tendências de decoração aplicadas nas portentosas e cada vez mais confortáveis aeronaves que servem à aviação executiva.

Vende-se amplo espaço de 74 m2, com salas de jantar e de reuniões decoradas com estofados capitonês de veludo azul, carpete alto e equipadas com tevês de plasma, linhas telefônicas e conexão de internet, suíte com cama king size e banheiro com ducha. Com capacidade para se movimentar para qualquer lugar do mundo que tenha uma pista de 1,6 mil metros de comprimento para recebê-lo, o Airbus ACJ 318, um dos atuais ícones da aviação executiva, pode ter um interior como esse. Desde que o interessado pague a bagatela de US$ 65 milhões. Sua versão para a aviação comercial transporta 109 passageiros, mas, adaptado para a aviação executiva, acomoda 19 pessoas com o que há de mais sofisticado na decoração de interiores. Decoração essa que pode ser personalizada conforme o gosto do freguês. “Nossos clientes chineses exigem uma mesa redonda com o centro giratório, pois, em casa, é nesse tipo de móvel que eles fazem suas refeições”, diz François Chazelle, vice-presidente mundial de vendas da Airbus para aviação executiva. “Eles também costumam exigir que seus aviões venham equipados com karaokê."

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O interior das aeronaves da empresa tem o mesmo luxo das residências dos seus clientes,
que pagam cerca de US$ 65 milhões por um avião que pode ter até banheiro com ducha (à direita)

Breno César S. Corrêa, diretor de marketing e vendas para a América Latina da concorrente Embraer, sabe que a personalização é uma aliada para quem quer conquistar mercado. “Hoje, o propósito de um avião executivo é ser uma extensão do escritório ou da casa de quem o utiliza”, diz Corrêa. A empresa brasileira é a terceira do mundo em número de entregas de aeronaves executivas e detém 19% do mercado mundial. Segundo o diretor da Embraer, a meta para 2011 é entregar 100 aviões da linha Phenom, os menores da companhia, e 18 modelos maiores, gerando uma receita de US$ 1,2 bilhão. A grande vedete para 2011 é o Lineage 1000, um avião também para 19 passageiros, como o Airbus ACJ 318, com cinco áreas de cabine (sendo uma reservada à suíte com ducha) e preço inicial de US$ 50,5 milhões. “Para equipá-lo com materiais luxuosos e tecnologias avançadas é preciso desembolsar mais cerca de US$ 3 milhões”, afirma o executivo.

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Luxo no ar: o vice-presidente mundial de vendas para a aviação executiva da Airbuss, François Chazelle, apresenta o ACJ 318

De acordo com Corrêa, o empresário brasileiro anda comprando mais aviões executivos com todo o luxo e a riqueza que ele merece. Mas o mercado ainda tem muito a crescer até alcançar o patamar de consumo dos EUA e da Europa, os maiores compradores desse tipo de aeronave. Das 500 maiores empresas dos EUA, cerca de 90% possui ou freta aeronaves executivas. No País, somente 20% delas têm essa prática. “Por aqui, o avião executivo está deixando de ser um luxo para relaxar nos fins de semana e vem se tornando uma importante ferramenta de produtividade”, diz o diretor da Embraer. Ele enumera as vantagens do avião próprio ou fretado. “O empresário não fica horas na sala de espera de um aeroporto lotado e pode trabalhar durante o voo, com a ajuda da conectividade e sem ninguém da poltrona ao lado espionando o balanço da sua empresa”, diz. “Imagine, ainda, economizar horas sem ter que fazer escalas.”

A decoração de interior, antes encarada como supérflua, hoje é fundamental na concretização dessa experiência corporativa de voar. Afinal, quanto mais equipado e à vontade o empresário se sentir, mais ele irá render. Por essa razão as grandes companhias de aviação mantêm designers em sua folha de pagamento ou contratam empresas especializadas na atividade e no gerenciamento de aeronaves, como a americana Comlux. Ela é parceira da Airbus na decoração de aviões executivos e faz fretamento e leasing de sua frota, que também inclui modelos Legacy, da Embraer. Apesar de a imaginação dos designers das companhias aéreas muitas vezes alçar voo, há um teto quando se trata de criar o mais aconchegante e elegante ambiente interno de um avião. Ela vai sempre esbarrar nas limitações das certificações, determinadas pelos órgãos que regulamentam o setor aéreo, bem como em outras impostas pela engenharia. Afinal, uma aeronave de dez lugares não levanta voo com toneladas de ouro.

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Lançando tendências: "Usamos madeiras certificadas, mármore e prata Christofle para decorar
e equipar nossos aviões executivos", diz Breno César S. Corrêa, da Embraer

Mesmo com esse tipo de limitação, os fabricantes podem enriquecer com mármore, um material notoriamente pesado, o chão de suas mansões voadoras. Uma das tendências, por sinal, da decoração dos superjatos executivos. Segundo Corrêa, da Embraer, isso só é possível graças à aplicação de tecnologias de aviação – como a base em forma de colmeia, que mistura materiais leves, a exemplo do alumínio e do kevlar, e serve de sustentação para o piso da cabine. “Em cima dessa base, aplicamos uma fina camada da pedra, que, também graças à tecnologia, pode ser cortada nessa espessura”, diz o diretor de marketing da empresa brasileira. Outras tendências destacadas por ele são os carpetes e estofados nas cores bege e cinza e o uso de madeiras foscas e certificadas nos móveis. “Acabamos de lançar o revestimento piano black, uma madeira preta, que faz referência aos pianos de cauda”, diz o executivo da Embraer. “Só o luxo exagerado não é tendência.”

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Sonhando nas nuvens: o sofá vira cama, para acomodar o passageiro, no Legacy 650, aeronave da Embraer cujo preço básico é US$ 30,24 milhões

Concierges do ar
Depois de comprar um avião executivo é só fazer as malas e sair voando por aí, certo? Nem sempre. Quem vai pilotar, limpar e preparar a comida? Onde ficará estacionado o novo, caro e grande brinquedo? Na hora de administrar essas verdadeiras “mansões aéreas” entram em ação as empresas de gerenciamento de aeronaves. Como a brasileira Líder Aviação. “Providenciamos desde a contratação de tripulação, revisão e limpeza até a parte burocrática junto à Anac e Infraero, que permite que um avião desses decole e pouse”, diz Heron Hollerbach Nobre, diretor do serviço de gerenciamento da Líder, que mantém salas vip paras seus clientes em 22 aeroportos, no País.

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Além disso, essas empresas fornecem combustível, contratam o seguro e administram o tempo ocioso do avião. “Quando não está voando, o cliente pode capitalizar em cima do seu bem”, afirma Nobre. “Fazemos isso a partir do fretamento da aeronave.” A receita com o aluguel do avião ajuda a minimizar os custos de gerenciamento, que podem variar entre R$ 130 mil e R$ 300 mil mensais, dependendo do tamanho e da performance da aeronave.

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