segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Agricultura vira cabide de emprego da cúpula do PMDB

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, transformou uma empresa pública, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), num cabide de empregos para acomodar parentes de líderes políticos de seu partido, o PMDB.
O loteamento começou quando Rossi dirigiu a estatal, de junho de 2007 a março de 2010. Ele deu ordem para mais do que quadruplicar o número de assessores especiais do gabinete do presidente - de 6 para 26 postos.
Muitos cargos somente foram preenchidos, porém, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu Rossi para o comando da Agricultura - o ministério ao qual a Conab responde.
Neste ano, já no governo de Dilma Rousseff, foram definidas 21 nomeações.
Algumas contratações foram assinadas de próprio punho pelo ministro, homem de confiança do vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do PMDB.
Receberam cargos, entre outros, um filho de Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado; a ex-mulher do deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do partido na Câmara; um neto do deputado federal Mauro Benevides (CE); e um sobrinho de Orestes Quércia, ex-governador e ex-presidente do PMDB de São Paulo, que morreu no ano passado.
Adriano Quércia trabalhou com o filho de Wagner Rossi, Baleia Rossi, antes de se abrigar na Conab. Foi o deputado estadual Baleia Rossi quem sucedeu Quércia no comando do PMDB paulista.
Funcionários antigos da Conab disseram que nunca viram Adriano por lá - nem o neto de Benevides, Matheus. Ambos dizem que trabalham normalmente.
Os funcionários da Conab indicados pelo PMDB recebem salários de R$ 7,8 mil a R$ 10 mil por mês.

Ministro diz que nomeou "pessoas qualificadas"
O ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB), defendeu as nomeações de parentes de políticos para cargos de confiança na Conab, mas nega que isso configure aparelhamento da estatal.
"Partidos da base aliada - PT, PMDB e PTB - e outras legendas indicam pessoas qualificadas para o cargo, e o governo promove as nomeações", disse Rossi por meio de sua assessoria.
Segundo ele, os diretores da Conab "têm direito a preencher dois cargos de livre nomeação" e "tais indicações são políticas".
Adriano Quércia, sobrinho do ex-governador Orestes Quércia, disse que Rossi o convidou para trabalhar lá quando presidia a estatal: "Ele precisava de uma pessoa de confiança para ocupar um cargo de confiança".
Adriano reconheceu que, quando entrou na Conab, não conhecia o setor agrícola. "Era algo novo para mim." E negou ser servidor-fantasma. "Obviamente que não. Atualmente eu toco projetos da empresa em São Paulo."
Matheus Benevides Gadelha, neto do deputado Mauro Benevides, disse que foi para a Conab a convite de Alexandre Aguiar, que sucedeu Rossi no comando da estatal, e não por causa do seu parentesco. Ele também negou ser servidor-fantasma. "Cumpro o expediente todos os dias."
Monica Azambuja disse que não foi contratada por indicação do ex-marido. "Vocês não podem me esquecer um pouquinho, não? Eu vou ser eternamente ex-mulher de quem sou. Ele pode ser rei ou lixeiro, eu vou ser sempre a ex-mulher dele, eu não tenho para onde correr", disse.
Antes de ir para a Conab, Monica foi assessora da Infraero. Em 2009, revelou-se que o trabalho dela era descrito na ficha funcional como "aquém do aceitável" - segundo os avaliadores, devido a seu "despreparo profissional e desinteresse".
O filho do senador Renan Calheiros não foi localizado nem na Conab nem no celular.

ALERTAS
A associação de servidores da Conab alertou o Palácio do Planalto para a ocupação política da empresa seguidas vezes neste ano.
A única providência conhecida foi tomada pela Casa Civil, que remeteu as acusações ao próprio ministro da Agricultura, alvo principal da reclamação.
O PMDB tem hoje três dos seis mais importantes cargos da Conab. O presidente da estatal, Evangevaldo dos Santos, é da cota do PTB, outro aliado do governo Dilma. O PT controla uma diretoria.
Com orçamento de R$ 2,8 bilhões neste ano, a Conab executa vários programas desenhados para organizar o mercado de produtores agrícolas e assegurar o abastecimento de alimentos no país.

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