Ex-titular da Valec compra terras próximas de ferrovia
No comando da Valec [empresa estatal responsável por projetos, licitações e obras ferroviárias da malha nacional - órgão ligado ao Ministério dos Transportes] desde 2003, primeiro ano da gestão Lula, José Francisco das Neves tornou-se freguês de caderneta do Tribunal de Contas da União.
Estrela do PR de Goiás, Juquinha, como é conhecido, colecionou denúncias de mau uso de verbas públicas – de desvios a superfaturamentos.
Apeado por Dilma Rousseff da estatal ferroviária, Juquinha é, agora, candidato a protagonista de uma ação por improbidade administrativa.
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) incluiu o nome de Juquinha num de seus relatórios.
Vinculado à pasta da Fazenda, o órgão detectou movimentação financeira atípica em contas bancárias do ex-mandachuva da Valec.
Cópias do documento do Coaf foram remetidas à Polícia Federal e ao Ministério Público, a quem cabe averiguar a origem do dinheiro.
A despeito da origem humilde, Juquinha tornou-se dono de terras milionárias.
Ao eleger-se deputado pela primeira vez, em 1998, Juquinha, então filiado ao PMDB, informara à Justiça Eleitoral que seu patrimônio era de R$ 559 mil.
Desde então, afora o ambiente parlamentar, frequentou o serviço público. Antes de ser nomeado por Lula para a Valec, presidira a Celg, estatal elétrica de Goiás.
Em maio do ano passado, Juquinha comprou três fazendas na cidade goiana de Mundo Novo, a 650 quilômetros de Brasília.
Juntas, as propriedades medem 5,5 mil hectares. De acordo com os registros cartoriais, as fazendas custaram a Juquinha a bagatela de R$ 13 milhões.
Um corretor local disse que, no mundo real, as propriedades valem mais. Estimou-as em R$ 20 milhões.
As terras foram registradas em nome de Juquinha, da mulher dele, Marivone, e dos filhos: Jader, Jales e Karen.
A escritura anota que Juquinha pagou pelas terras por meio de 20 transferências bancárias, feitas ao longo de seis meses.
Moradores locais informam que parte do pagamento foi feito em moeda corrente. “Eles chegaram para pagar, chegou com uma mala de dinheiro”, disse um deles.
Além das cifras, um detalhe injeta um quê de inusitado na transação. O negócio foi fechado apenas dois meses depois do anúncio da construção de uma linha férrea.
Chama-se Ferrovia de Integração Centro-Oeste. Projetada pela Valec, então presidida por Juquinha, a obra corta a região das fazendas adquiridas pelo mesmo Juquinha.
Quer dizer: ao mesmo tempo em que cuidava do projeto da ferrovia, Juquinha providenciava a compra das terras.
Os dormentes nem foram assentados e as terras já subiram de preço. Antes, um alqueire era cotado na região a R$ 18 mil.
Hoje, estima o Crea, vale entre R$ 25 mil e R$ 30 mil. A chegada da Centro-Oeste tonificará a cotação em até 30%.
Juquinha foi procurado em Goiânia, no luxuoso condomínio em que mantém residência. Informou-se que ele não estava.
O ex-mandachuva da Valec mandou dizer que não daria entrevista para explicar de onde veio o dinheiro que custeou a aquisição das terras de Mundo Novo.
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