Nadadores protestam na entraga da medalha ao brasileiro. Diretor executivo da Fina afirma que "bom advogado" resolve todos os casos de doping.
No dia em que se sagrou bicampeão mundial nos 50 metros livre, em Xangai, o nadador brasileiro Cesar Cielo recebeu, do diretor executivo da Federação Internacional de Natação (Fina), Cornel Marculescu, uma dura crítica dirigida ao episódio recente de doping, em que o atleta terminou absolvido. Em entrevista à AFP, Marculescu também atacou a política mundial contra o doping, que é falha.
"Hoje, com o novo código, é como ir a um tribunal civil: com bom advogado você se livra; se você tiver um advogado ruim, é punido”, declarou Marculescu.
O nadador brasileiro, que acusou positivo para furosemida (um diurético) em um exame em maio, foi autorizado pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) a participar no Mundial de Xangai, onde já ganhou duas medalhas de ouro, nos 50 metros borboleta e 50 metros livre.
O dirigente da Fina não é o único descontente com a absolvição de Cielo. A entrega da medalha pela conquista da prova dos 50 metros livre, na manhã deste sábado, foi acompanhada de vaias de parte dos nadadores, contrária à participação dele no Mundial de Xangai.
"Entendo essa reação, é normal, as pessoas se sentem frustradas", comentou Marculescu, explicando que a FINA tem a intenção de levar o caso de Cielo à Agência Mundial Antidoping. Em sua decisão, o TAS ratificou a opinião da Federação Brasileira de Natação, que se limitou a advertir Cielo, sem sancioná-lo. “Quando se está num tribunal civil, com um bom advogado e uma boa argumentação, é possível influenciar o júri. O problema é que a gama (de sanções) é muito grande”, afirmou Marculescu.
O TAS manteve a simples advertência a Cielo, de 24 anos, e a dois atletas também brasileiros, Nicolas dos Santos e Henrique Barbosa. Já Vinicius Waked, o outro envolvido, recebeu punição de um ano de suspensão, por se tratar da segunda vez em que ele não seguia o regulamento antidoping.
Segundo o Tribunal, a presença de uma pequena quantidade de furosemida, uma substância que é usada para ocultar o uso de outros produtos dopantes, foi acidental e explicada porque os nadadores tomaram um complemento alimentar com cafeína. "Não é fácil explicar às pessoas que o uso de uma mesma substância pode implicar sanções desde a simples advertência até dois anos de suspensão", afirmou Marculescu.
O chefe da FINA quer pedir à AMA, instância mais alta sobre uso de substância proibidas no mundo do esporte, uma revisão das normas antidoping revisadas há dos anos e que permitem agora que os atletas escapem das sanções se conseguem demonstrar circunstâncias atenuantes.
Para sua defesa, Cielo contratou o advogado americano Howard Jacobs, que também defendeu outros astros do esporte envolvidos em casos de doping, como a nadadora Jessica Hardy e a atleta Marion Jones. Depois do caso Cielo, a Fina anunciou que voltará a fazer exames de sangue durante o Mundial de Xangai para estabelecer um "passaporte biológico" que permita detectar variações suspeitas ao longo do tempo.
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