Ao comparar fotos de sucessivas prisões, polícia mostra como usuários de crack definham.

A iniciativa da delegada Monique Vidal, da 17ª DP (São Cristóvão), juridicamente não tem efeito prático, mas é de grande valia pedagógica para quem começou a trilhar o perigoso caminho das pedras:

O fotografado em questão era Douglas Vinícius Campos de Freitas, de 21 anos. Na primeira passagem por uma delegacia, em 26 de maio de 2008, o rapaz, que na época trabalhava como contínuo, ainda usava camisa social. Na última prisão, em maio passado, ele tinha a barba grande e as roupas sujas. Em três anos, o jovem dependente de crack acumulava ainda dois mandados de prisão por roubos. Situação semelhante à de Igor Vieira da Silva, de 22 anos. O jovem de classe média vivia em Copacabana, mas, após se envolver com o tráfico, passou a usar a droga. Preso no último dia 20, ele pouco lembra o jovem preso pela primeira vez em 2007.

A ideia de armazenar as fotos de presos com histórico de uso de crack surgiu após a detenção de Ana Paula Dias Mota, em 15 de março passado. Aos 30 anos, era a terceira passagem pela polícia. Todas por roubo ou furto. Ao comparar as fotografias de entrada de Ana, a equipe da delegada começou a catalogar em separado as fotos dos "cracudos", como são conhecidos os dependentes da droga.

Situação semelhante à de Carlos Alexandre Medeiros da Silva, de 30 anos. Dispostas lado a lado, as fotos impressionaram Maria Thereza de Aquino, psiquiatra e diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao uso de Drogas (Nepad) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Em cinco anos, o uso do crack mudou por completo a fisionomia de Carlos, um homem moreno, que usava camisa gola polo ao ser detido, em julho de 2005. A foto da segunda prisão, em junho passado, revela uma pessoa deformada.

Consultada sobre os nocivos efeitos do uso da droga, Maria Thereza explica:
- O dependente de crack faz com que o cérebro promova continuamente um esgotamento das catecolaminas (neuro-hormônios) nas células cerebrais. Como é uma droga estimulante, vai provocar a liberação em excesso de adrenalina, noradrenalina, dopamina nas sinapses entre os neurônios. Todas essas substâncias vão fazer o organismo trabalhar mais em termos de aumento das batidas do coração, hiperventilação, sudorese, etc.


Maria Thereza aproveita para rebater a versão de que o crack é uma droga barata. Segundo ela, o dependente costuma consumir diversas pedras por dia:
- Para sustentar o vício, o dependente vende o que tem, rouba, larga família, trabalho. O crack consome seu usuário até o fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário