Espanha busca restos mortais de Cervantes
Historiadores e arqueólogos se lançaram na busca pelos restos mortais de um dos mais importantes escritores da literatura ocidental. A intenção é revelar o rosto verdadeiro do autor de "Dom Quixote de la Mancha" (1605/1615), Miguel de Cervantes. O plano para procurar a ossada de Cervantes, que estaria sepultada nas paredes ou sob o assoalho de um convento na região central de Madri, permitiria que arqueólogos forenses reconstruíssem o rosto de um homem que só se conhece por um retrato pintado pelo artista Juan de Jauregui, cerca de 20 anos depois de sua morte. A ossada pode também revelar se Cervantes, que, segundo se acredita, morreu de cirrose e era acusado por rivais de ter sido um beberrão notório, morreu em consequência do álcool. "A ossada pode nos ajudar a descobrir não apenas como era a aparência dele, mas qual foi a causa de sua morte", disse o historiador Fernando Prado: "Consta que, no final da vida, ele teria ficado gravemente doente, mas sabe-se que essa mesma época também foi muito produtiva para ele". A equipe de Prado conseguiu o apoio das autoridades locais e do arcebispado de Madri para procurar os restos mortais do criador de Dom Quixote, candidato a cavaleiro errante famoso por ter atacado moinhos de vento, e de seu fiel escudeiro, Sancho Pança. Especialistas disseram que os ossos de Cervantes devem ser facilmente identificáveis, pois trariam marcas de ferimentos sofridos na batalha naval de Lepanto, em 1571. Cervantes foi ferido no peito e nos braços durante a batalha, em que uma esquadra liderada pelos espanhóis derrotou seus inimigos otomanos no golfo de Patras, ao largo da Grécia ocidental. "Ele levou um tiro de arcabuz no peito e teve outro ferimento, que o deixou incapaz de usar uma mão", disse Prado: "Essas duas coisas devem ter deixado marcas em seus ossos". Cervantes morreu em casa, em 1616, e foi sepultado no convento, não longe dali. Sua morte antecedeu a de Shakespeare em apenas dez dias (tanto Cervantes e Shakespeare morreram em 23 de abril de 1616; na época, a Espanha adotava o calendário gregoriano e a Inglaterra o calendário juliano, o que explica a diferença de dez dias). A ossada de Cervantes desapareceu em 1673, quando o convento passou por obras. Sabe-se que os restos mortais foram levados a outro convento e depois devolvidos ao convento original. O que ninguém sabe, porém, é onde, exatamente, eles estariam no interior do conjunto do convento. Os arqueólogos dizem que vão usar tecnologia de georradares para procurar nichos ocultos nas paredes do convento e escanear até cinco metros abaixo do chão. Prado espera que o trabalho seja concluído até 2016, ano em que se planeja uma comemoração global e conjunta do aniversário de morte de Cervantes e Shakespeare.
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