quarta-feira, 20 de julho de 2011

Brasil é o quarto maior investidor em títulos americanos

O impasse nos Estados Unidos sobre a aprovação do aumento do teto da dívida pública não está tão distante do Brasil quanto a geografia sugere. O governo brasileiro não para de comprar títulos do Tesouro americano. No fim de maio, segundo relatório do próprio Tesouro dos EUA, o Brasil era o quarto país em valor investido em títulos da dívida pública americana - os chamados Treasury bonds (T-Bonds) e outros papéis.
Em um ano, o Brasil teve o segundo maior crescimento de aplicações na dívida americana, entre os 10 maiores credores dos Estados Unidos. O investimento em títulos do tesouro americano saltou 30,90%, de US$ 161,5 bilhões em maio de 2010 para para US$ 211 bilhões no mesmo mês deste ano. Só ficou atrás da variação do investimento feito pela China no mesmo intervalo, de 33,66%.
Somente em maio, o Brasil incorporou US$ 4,5 bilhões nesse tipo de aplicação. Segundo analistas, a maioria desses títulos do Tesouro é detida pelo Banco Central (BC) brasileiro, que investe em T-Bonds boa parte das reservas oficiais, resultado da política de desvalorização do real ante o dólar. Os dólares comprados no mercado aberto pelo BC, para segurar a alta do real, são investidos em títulos americanos - esses ativos ainda são considerados seguros, ou seja, com pouca chance de calote ou prejuízo, por boa parte dos economistas. Mas essa opinião começou a mudar em 16 de maio quando os Estados Unidos anunciaram que atingiram o limite legal de endividamento público, de US$ 14,3 trilhões. Caso esse teto não seja expandido até 2 de agosto, pela primeira vez o país poderá deixar de cumprir seus compromissos financeiros.
Ao fim de junho, o BC tinha 87,4% das reservas brasileiras investidos em títulos, o que corresponde a cerca de R$ 293,5 bilhões, embora não seja especificado pelo governo se em títulos americanos ou de outros países.
- Boa parte do investimento das reservas é feita em treasuries pelo fato de ainda ser um ativo seguro - diz o economista Flavio Samara, da LCA consultores.
O impasse da dívida, com chance real de moratória, é tão grave que agências de classificação de risco, como a Moody's e a Standard & Poor's, passaram a cogitar um rebaixamento da avaliação do crédito soberano dos EUA. O efeito de um calote seria catastrófico para a economia global. Ao fim de maio, existiam US$ 4,5 trilhões investidos em papéis do Tesouro americano no mercado internacional. Somente a China, maior credor dos EUA, tinha US$ 1,1 trilhão aplicados.
- O que está acontecendo nos EUA é que ao mesmo tempo em que cai a qualidade do título, aumenta a demanda por papéis - diz o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC e sócio da Tandem Global Partners, Paulo Vieira da Cunha.
Um calote americano "importaria" a dívida deles para o Brasil, segundo o economista Ricardo Amorim.
- Caso haja um problema mais sério, exatamente por ter exposição tão grande aos títulos do Tesouro americano, se acontecer um calote por lá, vamos importar a dívida deles - diz Amorim.
Ele, no entanto, descarta a possibilidade de uma moratória americana. Acredita que os congressistas americanos vão chegar a um acordo político antes de 2 de agosto e aprovar o aumento do endividamento.
- Exatamente por ser tão facilmente evitável, não acredito que vá acontecer. Políticos levam isso ao limite para aumentar o poder de barganha, mas no fim das contas vão chegar a um acordo - diz Amorim.

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