Ministra do STF afirma que
corrupção coloca em risco instituições
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Cármen Lúcia |
"O que coloca em risco as instituições é a corrupção", alertou a
ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, em Brasília.
Cármen Lúcia conversou com jornalistas no terceiro andar do Anexo II
do Supremo. Explicou o alcance de seu voto no julgamento do Mensalão
do PT, proferido na sessão de segunda-feira (27 de agosto). Ela
condenou o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), candidato a prefeito
do município de Osasco, na Grande São Paulo. O parlamentar foi
denunciado pela Procuradoria-Geral da República, que a ele imputou
os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.
Cármen Lucia votou pela condenação de João Paulo em todos os
crimes."Eu estou dizendo: o que coloca em risco as instituições é a
corrupção", afirmou a ministra. "Nós temos que julgar, eu já tinha
dito isso lá na denúncia, em 2007. Falaram 'ah, vai demorar se não
desmembrar'. Problema nosso, temos que julgar". Ao ser indagada
sobre como acabar com a corrupção e o desabafo que fez para o País,
em seu voto, Cármen Lúcia afirmou: "Eu sempre fui de comissão de
ética de tudo quanto é lugar, de hospitais, eu acho que é mesmo
jogando luz em todo lugar que se combate a corrupção. Onde não tiver
sombra fica sempre mais difícil, não tem fórmula, não é?" E
prosseguiu: "Sabe o que eu acho? Eu acho que a vida é igual a uma
estrada. Não adianta você dizer que foi na reta certinho, mil
quilômetros e depois você entra na contramão e pega alguém. É a
mesma coisa. Você tem que ser reto a sua vida inteira. Independente
do que o outro fizer, independente de o outro atravessar a estrada.
Se você estiver certo, você terá contribuído para o fluxo da vida
ser mais fácil. Isso no serviço público muito mais". A ministra
continuou, referindo-se aos escândalos de corrupção no País: "Porque
não dá para um cidadão ir dormir imaginando que no espaço público
tem alguém fazendo coisa errada. É ruim, é ruim para nós. Olha o
tanto que incomoda uma coisa dessas, o mensalão. Eu espero que
quando chegar minha hora de ir embora do serviço público que as
pessoas saibam que cometi erros, com certeza, mas eu tentei ser, eu
fui honesta e nunca nenhum cidadão foi dormir achando que um erro
meu foi não por meu limite, mas por um descuido meu". Cármen Lúcia
disse: "Eu não me descuido da parte ética. E eu acho que é a única
forma de a gente viver na sociedade. Senão as pessoas não acreditam,
democracia vive da confiança e a confiança precisa disso. Você tem
que dormir sabendo que 'olha pode até não dar conta de fazer tudo o
que era preciso fazer, mas tentou'". Ela observou que sua posição
contra a corrupção não se deve à sua experiência no Tribunal
Superior Eleitoral, corte que preside. "Não é por causa disso, é por
causa da minha condição de cidadã. Eu acho que isso não é favor, eu
acho que nós temos que ser honestos o tempo todo. Quem convive com a
gente não pode ter que desconfiar disso porque é ruim, a pessoa se
sente injuriada". A ministra votou pela condenação de João Paulo
Cunha inclusive no episódio em que o deputado recebeu R$ 50 mil da
SMP&B, dinheiro sacado na boca do caixa pela mulher do petista,
em 2003. Ela comentou a seu modo o recado que deu ao País de que o
Judiciário não aceita versões singelas: "É porque você é um homem
gentil e porque eu sou uma juíza. Porque se nós dois estivéssemos
conversando eu diria mais. Mas é isso mesmo. Eu acho que mudou,
gente. Mudou muito. O meu voto está pronto. É tudo muito triste para
o Brasil, enquanto estiver assim. E eu não posso dormir também feliz
a 45 dias da eleição".
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