Até 2 mil alunos temem deportação após universidade britânica perder licença
Trabalhadores removem móveis da London Metropolitan University para um depósito: estudantes estrangeiros podem ser deportados |
Mais de 2.000 estudantes estrangeiros na Grã-Bretanha, incluindo 35 brasileiros, correm o risco de serem deportados do país, após o governo desautorizar a London Metropolitan University (LMU) de pedir visto a estudantes de fora da União Europeia.
A instituição tem mais de 30 mil alunos. Segundo o British Council, pelo menos 35 seriam brasileiros.
Os atuais estudantes não-europeus têm 60 dias para serem aceitos por uma instituição de ensino alternativa ou deixar o país. Já os que foram aceitos para o ano letivo que começa em setembro e ainda não haviam chegado à Grã-Bretanha, não poderão cruzar as fronteiras britânicas com vistos emitidos a pedido da universidade.
O site da LMU diz que seus cursos recebem um "grande número de estudantes brasileiros" todos os anos, tanto para a graduação quanto para a pós-graduação. Daniel Cooper, presidente da University of London Union (ULU), a associação de estudantes que representa alunos da LMU diz que "muito provavelmente" há brasileiros com problemas por causa da revogação da licença.
Até o momento, a embaixada brasileira em Londres havia sido contactada apenas por um estudante da London Metropolitan University, com dúvidas sobre sua situação.
Brasileiros vinculados à LMU só serão afetados se precisarem do visto de estudante e a instrução é que, caso tenham problemas, procurem assistência consular.
Uma força-tarefa foi criada pela universidade para ajudar os afetados pela decisão e a agência de imigração britânica disse que fará o possível para ajudar "estudantes genuínos" que precisem de uma transferência de curso ou outro tipo de apoio.
Problemas
O governo do primeiro-ministro David Cameron está empenhado em uma ofensiva para evitar que estrangeiros entrem no país obtendo visto de estudante, mas com intenção de trabalhar.
Ao anunciar a decisão, a agência de imigração britânica disse que a London Metropolitan University havia falhado em "dar resposta a problemas graves e sistêmicos" identificados há seis meses.
Segundo o ministro da Imigração, Damian Green, esses problemas se concentravam em três áreas. Primeiro, mais de um quarto dos 101 alunos estrangeiros de uma amostra coletada na universidade não tinha autorização para permanecer na Grã-Bretanha.
Segundo, não havia "evidências adequadas" de que todos os estudantes tinham níveis satisfatórios de inglês. Finalmente, também não havia controle sobre a frequência dos alunos nas aulas.
Entre os estudantes estrangeiros da LMU, o clima era de incerteza e desespero.
"Fui a todas as aulas e seminários e agora vão me deportar no terceiro ano", escreveu no Twitter uma estudante que se identificou como Seyda Yimaz. "Eu não estava trabalhando na Grã-Bretanha. Eu não preciso do seu dinheiro. Você precisa do meu dinheiro, Grã-Bretanha."
"Não tenho ideia do que vou fazer agora, estou enlouquecendo", disse Lorynn Conklin, da Califórnia, que havia vendido o carro e entregado o apartamento em que morava para mudar-se com o filho para Londres e estudar na London Metropolitan University.
"Já havia enviado meus móveis (para a Grã-Bretanha) e agora tenho de pagar para trazê-los de volta. Tenho semanas para encontrar um lugar para morar e uma escola para meu filho. Vou precisar começar tudo de novo."
O Conselho de Financiamento do Ensino Superior britânico ressaltou que as repercussões da suspensão da licença ficarão restritas a alunos da LMU. "A medida não vai afetar atuais ou futuros estudantes internacionais em outras universidades", disse o órgão.
Sem precedentes
Apesar de outras suspensões no pedido de vistos terem ocorrido no passado essa foi a primeira vez que uma universidade britânica teve revogado definitivamente sua permissão para recrutar e manter estudantes não-europeus.
A União Nacional dos Estudantes britânica (NUS, na sigla em inglês) criticou Cameron e a Minsitra do Interior Theresa May, defendendo que a decisão terá efeitos "catastróficos" sobre o sistema de educação superior do país.
"A decisão criará pânico e é rejeitada não só pelos alunos da LMU, mas de todo o país', disse o presidente da NUS, Liam Burns. "Essa medida truculenta não faz sentido nem para os alunos, nem para as instituições, nem para o país. "
Segundo autoridades britânicas, permitir que a London Metropolitan University continuasse a aceitar estudantes internacionais "não era uma opção".
Com o país mergulhado em uma recessão econômica, muitas universidades britânicas têm olhado para o mercado de estudantes estrangeiros como uma tábua de salvação para sua situação financeira, porque os alunos não-europeus pagam mensalidades mais caras.
Estima-se que os estudantes estrangeiros gastem 5 bilhões de libras (US$ 16 bilhões) no país e estima-se que esse valor possa triplicar até 2025.
No ano letivo que começou em 2010 e terminou em julho de 2011, a Grã-Bretanha recebeu 48.580 alunos de graduação estrangeiros e 79.805 de pós-graduação. No caso do setor de graduação, não-europeus representaram 11% dos alunos e foram responsáveis por 32% da receita das universidades.
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