quinta-feira, 27 de outubro de 2011


"Ele não parecia saber o que fazer", diz motorista de Gaddafi.

Muammar  Gaddafi

Huneish Nasr viu o homem para quem trabalhou por 30 anos em pé nas ruínas de Sirte, com uma expressão confusa, enquanto o caos o cercava. "Estava tudo explodindo", diz Nasr, motorista pessoal de Gaddafi, relembrando os momentos anteriores à captura do ditador deposto, na semana passada. "Os revolucionários estavam nos perseguindo. Ele não estava com medo, mas não parecia saber o que fazer. Foi a única vez que o vi desse jeito". Minutos mais tarde, os eufóricos rebeldes haviam posto fim à resistência final de Gaddafi, capturando o quartel-general arruinado de suas forças na cidade em ele nasceu e se tornou o seu último e ignominioso refúgio. Nasr disse que levantou as mãos em sinal de rendição quando rebeldes armados se aproximaram. Foi derrubado com uma coronhada, que causou um olho roxo. Gaddafi estava sendo removido de uma grande tubulação de drenagem, quando Nasr caiu. Quando o viu pela última vez, o líder deposto estava cercado de rebeldes. Depois, os dois começaram a ser espancados. Agora, passada uma semana, Nasr e Mansour Dhao, chefe dos seguranças do ditador executado, parecem ser os únicos sobreviventes da velha guarda de Gaddafi capazes de narrar o que aconteceu em seus frenéticos dias finais. "Se outro dos integrantes de sua equipe pessoal sobreviveu, não sei onde pode estar e o que lhe terá acontecido", disse Nasr, em sua cela improvisada em um quartel de Misrata. Nasr conta que passou os cinco dias finais do cerco em companhia de Gaddafi, escapando de casa em casa para fugir aos combatentes que disparavam suas armas e detonavam explosivos sem parar no bairro conhecido como Distrito 2. Ainda usando a camisa púrpura e ensanguentada que vestia na quinta-feira passada, quando Gaddafi foi morto, Nasr, um homem de pouco mais de 60 anos, disse que seu ex-chefe não parecia compreender o que estava acontecendo em torno dele: "Ele estava estranho. Parava e ficava imóvel, olhando para o oeste. Não percebi medo nele. Passei 30 anos trabalhando para o homem, e juro por Deus que jamais presenciei qualquer comportamento indevido de sua parte. Ele me tratava bem. Sempre foi simplesmente um chefe". Na manhã da terça-feira(25), o leal motorista de Gaddafi foi jogado na caçamba de uma picape e conduzido ao deserto na companhia de alguns outros homens. Viu seu antigo chefe ser depositado em uma cova sem qualquer identificação, e viu o corpo ser coberto de areia. Foi um destino que jamais havia esperado para um homem que considerava infalível. Já o destino pessoal de Nasr é bem menos certo.

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