Protesto contra alta dos aluguéis sai do Facebook e transforma área nobre de Tel Aviv em acampamento
Israelenses sentam acampamento improvisado na Avenida Rotschild, em Tel Aviv: manifestações se espalham por outras cidades
A produtora de vídeos israelense Daphni Leef, de 25 anos, não imaginava que um convite público na internet pudesse abrir as portas para um protesto nacional contra os preços dos aluguéis - a exemplo de outras manifestações pelo mundo que começaram online e tomaram as ruas. Há uma semana, frustrada com a busca por um apartamento com aluguel acessível em Tel Aviv, Daphni abriu uma página no Facebook convocando inquilinos a dormirem em barracas numa das principais avenidas da cidade. "Emergência: tragam barracas e se manifestem", postou ela. E nada menos que 6.755 pessoas responderam à convocação.
No mesmo dia, dezenas de moradores de Tel Aviv começaram a acampar na Avenida Rotschild, em frente ao Teatro Habima, um dos mais tradicionais do país. Em pouco tempo, já eram centenas. O protesto se tornou nacional, com milhares de tendas sendo erguidas em Jerusalém e Beer-Sheva. A imprensa e os políticos não tardaram a aparecer. Até o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu comentou o assunto, prometendo solucionar o problema da alta no custo da moradia em Israel - que se une a recentes aumentos nos preços de alimentos, luz e combustível.
- Não posso negar que algo interessante esteja acontecendo no mundo - disse Daphni, referindo-se aos protestos que levaram à Primavera Árabe e aos "Indignados" da Espanha. - Essa questão estava prestes a explodir. Eu só dei um empurrãozinho.
No front da batalha estão os estudantes obrigados a fazer "bicos" para conseguir pagar o aluguel. É o caso de Tal Arbeli, de 26 anos, que saiu de Eilat, no extremo sul do país, para estudar Administração em Tel Aviv. Há dias, Tal dorme numa tenda na Avenida Rotschild, onde o clima está mais para Woodstock do que para Praça Tahrir - palco de protestos no Egito.
- Pago 2.300 shekels (cerca de R$ 1 mil) por mês por um quarto enquanto ganho 4.000 (cerca de R$ 1.800) como garçom. Como posso sobreviver? - pergunta o estudante.
O clima de colônia de férias, no entanto, despertou críticas. Sever Plotzker, editor de economia do "Yediot Ahronot", chamou os participantes de mimados. "Eis meu conselho para os jovens: procurem apartamentos fora dos quatro quilômetros quadrados do centro de Tel Aviv", escreveu.
Outro jornalista, Nahum Barnea, lembrou que outro protesto, de semanas atrás, contra o preço do queijo cottage - que mobilizou o país e forçou à queda do preço - era mais legítimo. "Infelizmente, o protesto pelos aluguéis não é igual ao do cottage. O tempo necessário para uma solução é maior".
No acampamento, os manifestantes se defendem:
- Não são todos mimados. É a primeira vez que as novas gerações saem às ruas espontaneamente para mudar algo. Há manifestantes de todos os setores, religiões e etnias. Árabes e judeus, religiosos e laicos. Isso só faz bem ao país - destacou o professor de matemática Nir Genussar, de 35 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário