sexta-feira, 1 de julho de 2011
Celso Ming
Fusão esquisita
O empresário Abílio Diniz insiste em que essa megafusão entre o Grupo Pão de Açúcar, que ele preside, e o Carrefour será um negócio bom para todos. O diário Financial Times, de Londres, na sua edição de ontem, expõe a suspeita de que os únicos ganhadores serão os advogados.
Os dois litigantes estão armados. O Grupo Casino, que acusa o Grupo Pão de Açúcar de atropelamento da lei e da ética, contratou para defender seus interesses o criminalista José Carlos Dias. E o empresário Abílio Diniz convocou o também criminalista Márcio Thomaz Bastos.
Esse é um jogo bruto entre interesses privados, daqui e do exterior, cujo resultado está exposto a condenações na Justiça, também, daqui e do exterior. E, no entanto, vai levando o governo Dilma a tomar partido, como se se tratasse de uma questão de Estado, supostamente para evitar a desnacionalização do varejo nacional.
Sem ao menos questionar a lisura do negócio e sua legalidade (perante os organismos de Defesa da Concorrência e perante o atual acordo de acionistas), o BNDES já se dispôs a despejar quase R$ 4 bilhões em dinheiro público. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o ministro do Desenvolvimento fazem a afirmação estranha de que "não há recurso público" envolvido na parada. E, no entanto, o BNDES, que trabalha com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Tesouro acaba de receber nova injeção de vitamina oficial, desta vez de R$ 50 bilhões. Se os recursos de um banco estatal como o BNDES não são públicos, que acionistas privados então o sustentam?
O ministro Fernando Pimentel, que se propõe a defender o setor produtivo, justamente o que será espremido pela nova superempresa, defende a nova armação e tenta argumentar que o BNDES apenas está no jogo porque os bancos nacionais se omitem. É um argumento de qualidade duvidosa. Em princípio, qualquer banco nacional ou estrangeiro, especialmente da França, teria especial interesse em financiar um negócio limpo e atrativo.
O empresário Abílio Diniz se empenha em envolver a bandeira nacional em mais essa encrenca pessoal, com a disparatada afirmação de que a fusão vai abrir as portas na Europa para o produto brasileiro. Só não explica por que a atual sociedade com o Grupo Casino, que agora quer alijar do negócio - um grupo tão francês e tão grande quanto o Carrefour -, não foi capaz de cumprir esse objetivo.
Não basta assegurar sinergia e eficiência. Sem concorrência, o sistema definha e a economia popular sai derrotada. Os advogados que estão costurando o novo arranjo defendem a tese de que a empresa que sairá da fusão não provocará concentração excessiva do mercado varejista. Argumentam que a nova empresa não terá mais do que 32% do mercado. E nessa conta metem o Brasil inteiro, incluindo o Acre, o Amapá e o Piauí, onde a presença do Pão de Açúcar e do Carrefour ou não existe ou é insignificante. Não levam em consideração o estrago sobre a economia popular de que o novo conglomerado será capaz de produzir no Centro-Sul - especialmente em São Paulo onde, neste ano, o setor deverá faturar perto de R$ 70 bilhões.
E, se esse negócio é tão bom para todos, falta demonstrar por que será bom para o interesse público, o único que deveria contar num país regido por princípios republicanos e democráticos.
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